Associação Bolota pretende reflorestar o Vale do Cabrum

Mais de 50 voluntários participaram numa sementeira de bolotas na localidade de Ovadas de Baixo – Resende, que decorreu no último sábado. Ao longo de todo o dia, mais de sete mil sementes de castanheiros, carvalhos e nogueiras foram semeadas em ambiente de viveiro.

O objetivo da sementeira de bolotas prende-se com a ação de reflorestação do Vale do Cabrum, que divide os concelhos de Resende e Cinfães, e foi conseguido através da criação de uma associação.

A Bolota – Associação de Valorização e Desenvolvimento do Vale do Cabrum – está já em fase de constituição e em breve será registada oficialmente.

A época de semear, normalmente nos meses de outubro e novembro, acelerou o processo de constituição da associação e, mesmo antes do registo oficial, foi necessário pôr mãos à obra.

“Nós já andávamos a pensar no modelo de preparação desta atividade, mas nunca para novembro. Era para acontecer na primavera porque nos dava mais tempo para preparar uma sementeira com condições dignas de receber muito mais gente. No entanto, as indicações que fomos tendo apontavam para que a sementeira fosse executada durante o outono”, explicou Tiago Colaço, um dos responsáveis da organização.

Há muito que o Vale do Cabrum, inserido na Serra de Montemuro é vítima da desertificação vivida nos últimos anos nos territórios do interior. Para Tiago Colaço, os incêndios trágicos deste verão sensibilizaram a sociedade para um maior cuidado com a natureza e a floresta.

“É importante salientar que não é o primeiro verão em que ardem inúmeros hectares de terreno nos municípios de Resende e Cinfães. Houve sim, um efeito a nível nacional. Vimos muita gente perder as suas vidas, os seus bens, os seus afazeres. De repente, a sociedade começa-se a debruçar sobre a questão do ambiente e das florestas, mas espero que isto não termine agora”, alerta o responsável da Bolota.

A acompanhar a atividade estiveram responsáveis do Instituto de Conservação da Natureza e Florestas, e da Quercus.

João Branco, presidente desta última entidade, diz que os incêndios deste ano alertaram a classe política para o perigo do abandono do interior do país.

“Hoje até o primeiro-ministro fala de floresta autóctone, o que é muito bom sinal. É um tema que estava meio esquecido porque não interessava estar a falar por causa do poder da indústria do eucalipto, e hoje todos os políticos do país têm consciência que é preciso fazer alguma coisa em relação a esta espécie e que os territórios não podem ser eucaliptos de uma ponta à outra”, afirmou João Branco.

Depois do registo oficial da Bolota vão surgir novas atividades relacionadas com a reflorestação na área abrangida pelo Vale do Cabrum, nos concelhos de Resende e Cinfães.

Texto, audio e imagens: João Pereira

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