Castelo Rodrigo, o diamante do interior

Localizado na entrada sul do Parque Natural do Douro Internacional está Castelo Rodrigo, município que se candidatou em abril de 2017 ao concurso 7 Maravilhas de Portugal, dentro da categoria de Aldeia Autêntica. O concurso teve como finalidade divulgar a realidade e a potencialidade das povoações a concurso, destacando o seu património histórico, a sua riqueza paisagística, a gastronomia e as tradições. No dia 3 de setembro de 2017, Castelo Rodrigo venceu na categoria de Aldeia Autêntica. Desde então o fluxo de visitantes que tem chegado à aldeia histórica mais que duplicou.

Telma Santos, secretária da junta de freguesia de Castelo Rodrigo, não esperava ver Castelo Rodrigo com tal notoriedade: “Sinceramente não estava à espera da vitória, se bem que a gente tem sempre aquela expectativa de que somos bons, mas nunca nesta escala. Não estava nada à espera, mesmo que soubesse que tínhamos capacidade para tal.”

Para Telma, esta conquista do título foi uma mais valia para o concelho e para a região, uma vez que a população vive principalmente de agricultura e turismo. “O turismo é importante para qualquer aldeia e região, porque traz mais gente para as aldeias, o que é bastante importante para nós aqui no interior, além de beneficiar a economia local, além de dar trabalho a mais gente, os turistas sempre vão deixando algum dinheiro o que ajuda a economia de certas empresas, deixando a possibilidade de elas conseguirem contratar mais alguém para trabalhar”, afirma a autarca, sublinhando ainda que passar a palavra de Castelo Rodrigo por Portugal e pelo mundo é sempre bom.

Depois da vitória, Telma Santos dá destaque ao aumento do turismo nacional: “O fluxo de turistas mudou muito, principalmente a nível de turistas nacionais, porque houve muita gente que começou a conhecer Castelo Rodrigo através deste programa das 7 Maravilhas, e eu que também trabalho no turismo, noto que há muitos mais portugueses a visitar a aldeia por causa deste título”.

Henrique Silva, atual vereador da Câmara Municipal de Figueira de Castelo Rodrigo, garante que a vitória nas 7 Maravilhas era algo que não esperava: “Tive uma surpresa enorme quando soube que chegámos às semifinais e depois às finais. Ao chegar à final, tínhamos na cabeça que as finais são para ganhar, mas íamos sempre com a humildade que caracteriza toda esta região.”

Para o autarca, a aldeia de Castelo Rodrigo é o grande motor agregador do turismo deste território, “principalmente pelo facto de ser uma aldeia com história, fazendo parte da associação de aldeias históricas de Portugal.”

O membro do executivo afirma que Castelo Rodrigo é provavelmente a Aldeia Histórica que mais visitantes tem no âmbito da rede das aldeias, dando destaque à parceria com o Douro Azul, que “traz um fluxo de mais de 150 mil turistas anuais, e atualmente não temos apenas 1 operador a trabalhar no Douro, mas pelo menos 5.

Dados divulgados pela Câmara Municipal de Figueira de Castelo Rodrigo mostram que o posto turístico da aldeia recebeu aproximadamente 100 mil pessoas no ano de 2017 e que prevê uma subida em 2018.

Para Henrique Silva, um espaço de restauração é o que mais faz falta no local. “Era algo que iria potenciar ainda mais o número de visitantes, mas também o número de dias e horas de permanência no local”, afirma, garantindo, assim, que o município irá conceder todas as isenções possíveis para que alguém instale lá um espaço de restauração.

José Nunes, residente em Castelo Rodrigo desde 1976, afirma que os visitantes não os incomodam e que podem ser uma companhia. “As visitas que recebemos não interferem muito na nossa vida, acontece bastantes vezes que tanto os portugueses como os estrangeiros pedem ajuda para saber o que visitar e gostam de comentar o incrível e bonito que acham a aldeia”, diz.

Graças aos seus anos na Alemanha enquanto emigrante, José pode servir de tradutor para certos turistas, sublinhando que gostam de conversar sobre o motivo que os leva a visitar a região. “Eles gostam muito de falar sobre esta terra que é uma espécie de aldeia fantasmam porque não há cabos, não há antenas, fica uma beleza diferente”, considera o morador.

Helena Sousa, proprietária do café “Cantinho dos Avós”, atribui a vitória não só aos envolvidos, a quem reconhece mérito, mas a toda a história que passou por dentro das muralhas. “Nós ganhámos porque houve muita história por trás, é como se nós estivéssemos a partir um mealheiro que acumulou durante séculos, e nós agora estamos a usufruir desse mealheiro”. A comerciante diz que o número de pessoas que vieram visitar o local foi imenso, destacando principalmente o aumento de turistas portugueses: “quando Castelo Rodrigo concorreu para o título das 7 maravilhas, as pessoas começaram a ouvir falar de Castelo Rodrigo, diziam que gostavam muito das fotos e que queriam ir visitar”.

Para Telma Santos, o início da transformação de Castelo Rodrigo começou ainda no século passado, com o apoio da União Europeia e com o destaque nacional que a aldeia teve na altura. “Nessa altura passámos a ser uma das 12 aldeias históricas de Portugal e começou a haver o restauro da aldeia toda em si, e acho que foi aí que Castelo Rodrigo começou a entrar mais no mapa”, recorda.

Antes disso, Castelo Rodrigo estava muito parado e era complemente desconhecido para o resto do país, sublinha Telma, acrescentando que tinha “poucos ou nenhuns visitantes e só a partir daí é que tudo começou. Embora houvesse sempre pessoas a morar aqui, os visitantes chegavam a dizer – Ah, já viemos há uns anos e não vivia cá ninguém -, mas não, sempre morou aqui gente, mas como estava um pouco abandonado, as pessoas não se viam nas ruas como hoje”, explica.

José Nunes retrata a Castelo Rodrigo de antigamente como um caos: “as ruas não estavam tão bonitas como hoje, havia cabos pendurados, relativamente à estética da aldeia houve uma grande modificação ao decorrer do tempo”, afirma, satisfeito com as atuais condições de vida que são proporcionadas. “Quem cá vive atualmente vive melhor, visto que as casas foram remodeladas, ficou mais bonito”, defende o residente

Helena Sousa relembra o tempo em que a loja foi aberta: “Foram os meus país que investiram, e na altura já começava a ser aldeia histórica”, diz, destacando que foi uma vontade aliada ao novo estatuto de aldeia e uma visão de “um certo potencial” que os levou a ficar por lá. Desde 2000, Helena é a proprietária e cuida do local.

Quando questionado sobre o impacto que a chegada dos fundos da União Europeia teve na aldeia, Henrique Silva comenta que o investimento que foi feito em termos de reabilitação urbana, potenciou muito o local, contribuindo e despertando o interesse que os moradores passaram a dar à aldeia, para além das pessoas do concelho. Contudo, afirma que antes dos fundos, já se tinham começado a aplicar medidas. “Antes dos fundos da União Europeia, o município de Figueira, na gestão do Presidente Fernando Bordalo, tinha tomado iniciativa de retirar alguns postes de eletrificação e cimento, portanto, a reabilitação tinha começado, fruto do interesse que a aldeia tinha para o concelho e para algumas pessoas”, recorda.

“Antigamente os moradores não davam tanta importância ao sítio onde moravam”, afirma Telma, acrescentando: “Quando o palácio foi incendiado, as pessoas tiraram as pedras para construir as casas. Quando passamos à categoria de Aldeia Histórica de Portugal, as pessoas começaram a ter mais consciência e viram a importância que Castelo Rodrigo realmente tem e dá a toda esta região.”

As parcerias que Castelo Rodrigo tem adquirido ao longo dos anos são também uma das limas para este diamante, destaca Telma, afirmando que “cada vez há mais empresas a tornarem-se colaboradoras”.

Uma das parcerias é o Douro Azul, que tem Figueira de Castelo Rodrigo e Castelo Rodrigo dentro dos seus destinos de rotas. Telma Santos admite que esta parceria é uma mais valia para o concelho, contudo, dentro deste tipo de parceria, os títulos de Aldeia Histórica e Aldeia Autêntica não são muito relevantes, pois “não têm tanta influência como se pensa” sublinha. “Nós temos tido muita gente a visitar Castelo Rodrigo pelo Douro Azul ao longo destes anos, contudo acho que a relevância aqui, do título de 7 Maravilhas, não abrange tanto os turistas do Douro Azul, pois a grande maioria são estrangeiros que vêm com certos pacotes que a empresa disponibiliza e acabam por visitar a aldeia sem saber muito bem o que é ou com o que contar”, afiança.

Castelo Rodrigo chegou, assim, ao ápice de notoriedade, dando oportunidades à criação de novas empresas e infraestruturas na região num futuro próximo e, para Telma, poderá vir a dar muito mais: “Na minha opinião Castelo Rodrigo poderá trazer à região novas infraestruturas e muitas novas oportunidades, basta esperarmos que assim seja, porque realmente isto foi uma coisa muito importante para a região e para o concelho”.

Para já as ideias para novas infraestruturas e projetos estão em fase de desenvolvimento, mas existem, afirma Telma: “Estará previsto além das rotas das Aldeias Históricas também a rota das 7 Maravilhas de Portugal”.

O interior sofre cade vez mais com a despovoação e com o envelhecimento e, para Telma Santos, o facto de terem ganho estes títulos não irá mudar muita coisa a curto prazo. “Estes títulos são muito importantes, mas há cada vez mais pessoas a deixar o interior para ir para o litoral. Além de não haver trabalho no litoral, no interior ainda há menos. Não é através desta relevância de sermos Aldeias Históricas ou de sermos uma das 7 Maravilhas que irão chegar mais pessoas, o emprego é que traz as pessoas”, sublinha.

Henrique Silva mostra-se otimista sobre o futuro impacto que Castelo Rodrigo pode trazer à região e ao concelho, não concordando com a criação de empresas de grande dimensão, mas sim de pequenas e médias empresas de âmbito turístico, turismo de aventura e turismo de natureza, justificando a envolvente do território. “Esse é o desejo de toda a gente, Castelo Rodrigo tem sido o motor da economia concelhia, principalmente na restauração, pelo facto de não haver nenhum restaurante na aldeia, potencia a restauração da vila e o aparecimento do turismo rural e do turismo de habitação, só têm razão de existir pelo facto da aldeia ter aquele fluxo de visitantes”, diz o autarca.

O vereador comenta ainda que estão a ser pensadas novas infraestruturas para a aldeia que poderão ajudar os turistas e visitantes em termos informativos e de deslocamento: “No âmbito das redes das aldeias históricas estamos com candidaturas já aprovadas em termos de mobilidade reduzida, estamos a instalar redes Wi-Fi por toda a aldeia, juntamente com um guia informativo online que dará informações sobre o local e o que visitar.”

Henrique Silva, que já no ano passado participou no evento “Doze em rede”, um acontecimento no âmbito do programa das Aldeias Históricas, que durante dois dias englobou atividades teatrais e música, garantiu que se tem procurado aumentar os eventos em Castelo Rodrigo. “Sim, existirão mais eventos, mas há limitações, contudo temos procurado disseminar atividades de âmbito cultural em todo o território, privilegiando principalmente a aldeia de Castelo Rodrigo”, concretiza o vereador.

Este ano irá decorrer novamente o evento “Doze em rede” com um foco histórico-cultural, mas também gastronómico, acompanhado de peças teatrais e música. Henrique Silva afirma que tem havido o cuidado da procura de espetáculos com qualidade, exemplificando, o teatro “Alto da Barca de Gil Vicente” que no ano passado se deslocou do Centro Cultural de Belém, para o mosteiro de Santa Maria de Aguiar. “Vamos procurar disseminar este tipo de atividades para as outras freguesias, para que todas as pessoas se sintam envolvidas na procura de outros meios de culturas”, promete.

Helena Sousa remata que Castelo Rodrigo atualmente é uma página em branco onde os jovens poderão escrever o que quiserem.

 

Texto e imagens: César Silva

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