Muito mais que rótulos: a luta de Duda Salabert contra o preconceito
A expectativa de vida de uma pessoa transexual ou travesti no Brasil é de 35 anos. Este é o país que mais mata LGBTQ+s do mundo. Paralelamente a isso, está uma das lutas de Duda Salabert, de 37 anos: ativista, professora, política, presidente de uma ONG, vegana, ambientalista, mãe, esposa e transsexual.
Por Sophie Rodrigues
Nas últimas eleições brasileiras, Duda foi a primeira mulher Trans a se candidatar para um cargo no Senado da República, sendo este por Minas Gerais. Ela recebeu votos em todas as cidades mineiras e foi a terceira mulher mais votada da história do estado. Mas o caminho até aí não foi fácil.
Ela não ganhou as eleições, nem acabou sua luta contra o preconceito. Em abril deste ano, ela anunciou, através de suas redes sociais, que sairia do próprio partido pelo qual foi candidata, PSOL, alegando ter sofrido transfobia. “Deixo o PSOL por não concordar com a transfobia estrutural do partido. Enquanto mulher transexual, não posso endossar uma estrutura que se apropria da luta e da identidade trans para privilegiar figuras e candidaturas já privilegiadas”, afirmou em seu Instagram.
Exemplo de luta para muitas pessoas, Duda também é fundadora e presidente de uma ONG, Transvest, que é um projeto artístico-pedagógico, com o objetivo de combater a transfobia e incluir travestis, transexuais e transgêneros na sociedade. A ONG oferece gratuitamente, para essas pessoas, apoio escolar, pré-vestibular, aulas de idiomas (inglês, francês, espanhol e italiano), artes (a fim de impulsionar os alunos a criarem formas alternativas de sustento), esportes, defesa pessoal e conta com apoio de psicológico e psiquiátrico.
Para ela, a ONG se faz necessária, não porque ela separa essas pessoas da sociedade, mas sim porque cria um espaço antes negado a elas. “O Transvest existe para ajudar a combater os números alarmantes que envolvem as pessoas travestis e transexuais, que coloca o Brasil como líder do ranking dos países que mais matam travestis do planeta”, afirma Duda.
Além de dar aulas, ser política, presidente de uma ONG, e tudo isso que já foi citado, Duda também passou a carregar um novo “título” a partir de junho deste ano: tornou-se mãe. Sol! Duda justificou, em suas redes, a justificativa do nome: “Escolhemos um nome de gênero neutro: se for uma criança trans, não terá que se preocupar em retificar nome. Chama-se Sol! É música que encanta, é luz que revigora. Sol!”. Duda é casada há sete anos com Raísa Novaes. Ela é uma travesti lésbica e a bebê é filha biológica do casal.
Para os próximos anos, a vida política de Duda vai se movimentar ainda mais. Ela pretende se candidatar, em 2020, à prefeitura de Belo Horizonte, capital de Minas Gerais. Não há muitas certezas sobre os próximos passos políticos no país, mas sobre Duda é certo: ela nunca vai parar de lutar por seus ideais.