Um sonhador

No futebol, como na vida, perdoem-me o pleonasmo, existem fases positivas e negativas. Quando se atravessa um bom momento, tudo corre pelo melhor, ao invés, quando a conjuntura é negativa, a “malapata” afigura-se infindável. No entanto, nada é assim tão linear, que o diga Carlos Carvalhal.

Nascido na cidade dos arcebispos, Carvalhal fez a sua formação no Sporting de Braga, onde jogou como sénior durante 6 anos, tendo representado, pelo meio, o Desportivo de Chaves, o Futebol Clube do Porto e o Beira Mar. Em 1998 terminou a carreira no Sporting de Espinho, iniciando, nesse mesmo ano, a epopeia nas rédeas de um clube de futebol. Para além dos espinhenses, Carvalhal foi timoneiro de Leixões, Braga, Beira Mar, Marítimo, Sporting ou Vitória de Setúbal, onde venceu uma taça da liga em 2008. Após passagens pelo futebol helénico e turco, o treinador português aterrou, em 2015, no berço do futebol, Inglaterra, para assumir o comando do Sheffield Wednesday. O sonho de muitos, mas ao alcance de poucos.

O clube vinha de um desolador 13.º lugar na época 2014/2015, por isso o desafio não se afigurava fácil, mas o talento do técnico lusitano superiorizou-se a todas as adversidades. O Sheffield terminou a “Division One” em posição de “playoff” de subida à “Premier League” Inglesa. O sonho ruiu na final aos pés do Hull City.  Um ano depois o mesmo desfecho. O sonho desabou no duelo frente ao Huddersfield, desta vez nas meias finais. Apesar de não ter conseguido a subida de divisão, algo impensável antes da sua chegada, Carvalhal era, naturalmente, idolatrado pelas bancadas do “Hillsborough”, sendo brindado com a seguinte canção:

“Carlos had a dream,

To build a football team,

He had no players so he had to sign them on loan,

We play from the back,

With Joao in attack,

We’re Sheffield Wednesday,

We’re on our way back,

De, de, de, de, de, de…”

Carvalhal gozava de um enorme respeito no clube, mas a terceira época ao serviço dos “OWLS” não correu de feição ao treinador português. Venceu apenas 7 dos 25 jogos disputados, que resultou num dececionante 16.º lugar na tabela classificativa e consequente despedimento do comando técnico do clube. Porém, o interregno na carreira foi sol de pouca dura.

“Quando se fecha uma porta, abre-se uma janela”. O ditado é antigo, mas adequa-se perfeitamente à realidade atual do treinador português. Durante dois anos a travar lutas firmes pela chegada ao cume do futebol inglês, Carvalhal atingiu-o quando nada o fazia prever, assumindo o comando do Swansea City, após a época menos feliz em terras de sua majestade.

Tal como no dia em que aterrou no Sheffield, Carvalhal sabe que tem em mãos uma tarefa hercúlea, mas, como bom lusitano, não virou a cara à luta e assumiu o risco de liderar o último classificado da “Premier League”.  A equipa galesa somava apenas 13 pontos em 20 jogos. Usei, propositadamente, o verbo somar no passado, porque neste momento a equipa conta 16 pontos em 21 jogos, após a vitória sobre o Watford de Marco Silva. Com este triunfo, segurar a lanterna vermelha, ainda que provisoriamente, também já é coisa do passado para os comandados de Carvalhal. Um início auspicioso.

Mudou o clube, mudou o campeonato, but Carlos still has a dream!

 

Texto: João Miguel Carvalho

Imagem: Wikipedia

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