Jornal de Notícias: O jornal que aposta no papel

Termos como família, paixão e referência, são algumas das caraterísticas que representam o “Jornal de Notícias”, na visão de dois dos seus trabalhadores. Com grandes destaques a nível nacional e desempenhando um papel fundamental em datas como o 25 de Abril, este jornal nunca parou de crescer.

Reportagem de Raquel Pinheiro

Fundado em 1888, no Porto, o “Jornal de Notícias” foi um dos órgãos de comunicação social que registou maior expansão em Portugal. No início, o jornal trabalhava com o programa de edição Millennium. Para além de escreverem as notícias, os jornalistas ainda estruturavam e desenhavam as páginas. Nos dias de hoje, a tecnologia veio facilitar o trabalho do jornalista.

O “Jornal de Notícias” apresenta variadas categorias, desde a política até ao desporto e, curiosamente, nesta área, o JN sempre empregou profissionais do sexo feminino. Susana Silva, jornalista nesta secção há mais de 22 anos, admite que ao chegar a este jornal, o número de mulheres a trabalhar na mesma área era considerável. No entanto, ao longo dos anos, as mulheres foram acabando por sair até, atualmente, só restar ela. Num meio dominado por homens, Susana Silva esclarece que, dentro do jornal, nunca houve qualquer tipo de preconceito para consigo ou para com outras mulheres e sublinha até que sempre existiu intimidade e companheirismo entre homens e mulheres.

Há mais de duas décadas a trabalhar na redação, a jornalista apenas realça que a maior diferença é o facto de os homens irem fazer coberturas de notícias ao exterior mais vezes do que as mulheres. “Logo no início ouvi coisas como a mulher não sabe o que é futebol, mas sempre por parte dos adeptos, mas nunca nunca liguei muito”, comenta Susana Silva.

Trabalhar em órgãos de comunicação social de renome e conhecidos a nível nacional como é o caso do JN, é o sonho de muitos jornalistas. Contudo, João Pedro Campos, correspondente de Coimbra do “Jornal de Notícias” Para além de trabalhar há cerca de 13 anos no Jornal de Notícias, o repórter ainda trabalha no “Jornal da Mealhada”. Na realidade admite que trabalhar em órgãos de comunicação tão diferentes lhe traz muita bagagem, apesar de que um jornal como o da Mealhada é quinzenal e direcionado para um público mais específico e pequeno.

Enquanto o “Jornal de Notícias” tem a vantagem de trazer novas experiências e dar a um profissional uma certa ordem de grandeza, jornais mais pequenos fornecem oportunidades de conhecer melhor algumas zonas do país. Em termos profissionais trabalhar em dois sítios diferentes apenas beneficiou João Pedro Campos, mas como já era de esperar o profissional da comunicação ouviu desde cedo frases clichês que inferiorizavam os órgãos de comunicação social mais pequenos ou menos conhecidos. “O Jornal de Notícias pode-me dar mais estatuto, mas eu não sou de estatuto”, acrescenta o jornalista.

Mesmo um jornal de renome como o “Jornal de Notícias” passa por problemas e dificuldades provenientes das novas tecnologias. O JN teve um maior reconhecimento logo após o 25 de Abril, os seus jornais circulavam pelo país e, com isso, os seus valores de venda tornaram-se muito altos. Nesta época era comum as crianças gastarem as suas mesadas com jornais e as famílias se sentarem à mesa e debaterem os acontecimentos diários. Em pleno século XXI, ações como esta são raras, levando à morte do papel, que outrora foi o material mais lucrativo para estas empresas. “Talvez ainda aguente mais uma geração, mas nada mais”, afirma Susana Silva.

Acontecimentos capazes de se tornarem notícia acontecem a toda a hora e, mesmo em situação de pandemia, o “Jornal de Notícias” conseguiu manter o profissionalismo que lhe é caraterístico e rapidamente conseguiu dar a volta à situação de forma que, mesmo em confinamento, as notícias continuassem a sair. Susana Silva confessa que no início foi um pouco complicado, visto que não havia temas para os jornais em papel, causando uma quebra ainda maior nas vendas. Por outro lado, no online existiam sempre imensas notícias. Inicialmente começou-se por reduzir as saídas, o que infelizmente causou muita dificuldade na formação de jornalistas mais recentes, mas foi crucial para o bom funcionamento do jornal.

Apesar do trabalho ter sido reduzido, num curto espaço de tempo, este recomeçou de forma intensa. “Nós tínhamos que estimular a ler o jornal, fizemos outros tipos de trabalhos, coisas mais de investigação”, afirma Susana Silva. À medida que o tempo foi passando, o órgão de comunicação social conseguiu dar a volta à situação e, no geral, os trabalhadores reagiram bem a esta nova dinâmica. Mesmo no regresso ao trabalho presencial, sempre foram proporcionadas aos profissionais todas as condições exigidas para que estes trabalhassem em segurança.

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