Diário de Viseu. Das rotinas aos desafios para “manter o jornal à tona”

O Diário de Viseu é um jornal local que pertence ao grupo empresarial do Diário de Coimbra. Foi fundado no dia 2 de junho de 1997 e é, atualmente, o único jornal diário em Viseu.

Reportagem de Mariana Silva

José Alberto Lopes é jornalista e repórter fotográfico no Diário de Viseu e quando começou a trabalhar, em 2017, o jornal tinha, ao todo, seis pessoas na redação. A diretora é Eduarda Macário. Havia dois jornalistas na secção de desporto, dois jornalistas a cobrir a região de Viseu e duas estagiárias. Na administração eram ainda mais. À parte administrativa está vinculada a parte comercial, que o repórter admite ser a vertente mais importante, uma vez que “a existência de um jornal depende da venda da publicidade nas páginas e do retorno financeiro”, explica.

Em 1995 existiam mais 10.000 exemplares em banca do que existem agora. Este “descalabro” surgiu na sequência do fim do “porte pago”, em que o governo pagava toda a circulação de jornais, via CTT. Sendo o Diário de Viseu um jornal diário, as despesas de distribuição, através dos correios, “chegam a ser de 3.000 a 4.000 euros”, conta José Alberto Lopes.

A rotina no jornal começa às nove da manhã. A primeira coisa a ser realizada é a criação das 20 páginas que compõem o jornal no programa de paginação e aplicar a cada uma delas a “matéria que lhes vai ser destinada”, explica o repórter. Concluídas as páginas, os jornalistas da redação avançam para a procura de notícias relacionadas com a região nos sites das câmaras municipais dos 24 concelhos. Por volta das dez horas da manhã, começam a ser selecionadas as notícias conforme a sua importância e relevância, para serem publicadas.

Durante o decorrer do dia, há várias emergências que, devido à sua importância, necessitam de cobertura imediata. Por este motivo, “é necessário manter a página do Comando Distrital de Operações de Socorro (CDOS) sempre aberta”, realça o jornalista. Estas ocorrências repentinas obrigam o repórter a ir de imediato para o local do acontecimento, mesmo que esteja de folga. Embora não seja um termo exclusivo do jornalismo, muitos dos trabalhos que são feitos pelos jornalistas em fora de horas, horas-extra que não lhes são pagas, são feitas por ‘carolice’. “É gostar daquilo que se faz, é também pôr os interesses do jornal à frente dos nossos interesses particulares ou interesses pessoais”, explica o repórter.

O jornal está dividido em sete partes. Nas duas primeiras páginas, as páginas de destaque, estão os assuntos com maior notoriedade e o desenvolvimento da matéria a nível local. Depois o jornal avança para Viseu, uma página destinada apenas a assuntos do concelho e, logo de seguida, existe uma página destinada à região. Nas páginas, estão expostas, também, várias opiniões e críticas que são essenciais. Depois da região, segue-se a região alargada, “a região C”, uma página que dá voz aos concelhos que não têm um jornal diário como Guarda, Seia e Oliveira do Hospital.

As últimas três páginas são dedicadas ao desporto, às empresas, devido à necessidade de publicidade e anúncios dos quais o jornal necessita para subsistir, e à necrologia, “que, curiosamente, é a página mais lida pelas pessoas da região”, afirma José Alberto Lopes.

Em março de 2020, o novo vírus veio dificultar a manutenção do jornal. No primeiro confinamento, três jornalistas ficaram em layoff, outros três foram despedidos, os contratos não foram renovados e acabaram por ficar apenas três jornalistas, um na redação e dois em casa, a fazer a edição, que normalmente tinha uma média de 20 a 24 páginas e passou a ter no máximo 16.

“Houve pessoas que tiveram que sair para se manter o jornal à tona”, esclarece o jornalista e repórter fotográfico.

Quando a situação do país começou a piorar, o jornal teve de fechar devido às restrições impostas. Os três jornalistas tiveram de ficar em teletrabalho, o que não foi um grande problema porque, devido ao avanço da tecnologia, é possível fazer o trabalho em casa com facilidade, garante José Alberto Lopes. Porém, o medo apoderou-se de toda a população que enfrentava uma situação nova e assustadora. Por consequência, as pessoas deixaram de se dirigir ao jornal e o número de compras diminuiu significativamente, o que colocou em risco o sustento do mesmo. Quando as pessoas voltaram a sair de casa, já devidamente informadas e com as medidas de restrição tomadas, o jornal voltou a crescer. As vendas voltaram a aumentar, ainda que o jornal tenha reduzido a nível de conteúdo e publicações.

O Diário de Viseu é um jornal local e com o objetivo de servir uma região. São cada vez mais os desafios e, inversamente, devido a todos os entraves, cada vez menos pessoas a trabalhar. Os que ficam, colocam o jornal acima dos próprios interesses e emoções. Os que saíram, saíram para que este sobrevivesse às dificuldades impostas pela Covid-19.

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