Projeto Rafiki: combate ao isolamento social nas aldeias portuguesas

O isolamento social é um problema crescente nas aldeias portuguesas, especialmente para a população idosa que vive afastada dos grandes centros urbanos e muitas vezes sem contacto regular com familiares ou vizinhos. O projeto RAFIKI surge para contrariar esta realidade, unindo jovens voluntários a estes idosos através de uma experiência de companhia, amizade e troca cultural, ajudando a combater a solidão que afeta muitas destas comunidades.

Por: Maria Inácio

Origem do projeto Rafiki

O projeto Rafiki nasceu em 2013 numa conversa informal entre amigos escuteiros que queriam mais do que apenas realizar ações pontuais, “queriam algo ligado à população e queriam algo mais longo”, explica Laura Marques, a coordenadora do projeto deste ano.

Com o apoio dos mensageiros da paz o projeto ganhou forma e financiamento permitindo que em 2014 a primeira edição fosse realizada numa aldeia isolada no norte do país chamada Oleiros, Castelo Branco. Desde então tem vindo a crescer em estrutura e impacto tornando-se numa referência para o combate do isolamento social nas zonas rurais.

“No início não sabíamos bem o que esperar, mas rapidamente percebemos o impacto que ia muito além do que imaginávamos”, refere Laura Marques.

A coordenadora explicou ainda o significado do nome do projeto, que surge a partir do filme do Rei Leão.

Laura Marques

Objetivos

O projeto tem como principal missão “o combate ao isolamento social que leva companhia e atenção aos idosos que muitas das vezes se sentem esquecidos” refere Laura Marques, mas o projeto também visa capacitar os jovens voluntários permitindo-lhes “desenvolver competências sociais organizacionais e humanas que são uteis nas suas vidas pessoais e profissionais”, refere Leonel Fernandes, dirigente e observador do projeto Rafiki.

Funcionamento do projeto

Por trás do sucesso do Projeto Rafiki há uma organização estratégica que assegura que cada detalhe é cuidadosamente pensado. O processo começa com uma análise rigorosa para identificar as aldeias que mais se alinham aos critérios do projeto, utilizando ferramentas tecnológicas e redes de contacto locais.

Após a seleção inicial, a próxima etapa envolve uma visita ao terreno, onde a equipa confirma as condições e toma a decisão final sobre a implementação do projeto. É este planeamento cuidadoso que garante que cada aldeia escolhida possa beneficiar ao máximo das atividades propostas.

Laura Marques

Leonel Fernandes acrescenta que a escolha é participativa, com jovens a sugerir e a votar nas aldeias que cumpram os critérios referindo que “o projeto funciona como um convite que é formalizado a partir do escutismo para que os jovens dos 18 e 22 anos se possam candidatar de forma voluntária”, ficando envolvidos no projeto no mínimo durante um ano e o máximo durante 2 anos, para haver possibilidade de rotação.

Relação dos idosos e impacto social

Quando os jovens chegam à aldeia, os idosos mostram-se, inicialmente, reticentes perante a novidade de receber visitantes tão jovens e desconhecidos. No entanto, com o passar do tempo, estabelecem-se laços de confiança e amizade que frequentemente ultrapassam as expectativas.

Laura Marques relata com emoção que “eles acabam por criar um vínculo connosco, chamam-nos netinhos e fazem questão que voltemos”.

Sara Simões, participante da 11ª edição do projeto, refere que “muitos idosos confessam que sentiam muita solidão e que as visitas trazem alegria e esperança à aldeia”.

Para os jovens essa convivência oferece uma aprendizagem enriquecedora sobre a vida, valores e empatia. Esses momentos de partilha tornam-se fundamentais para os idosos, que encontram uma nova companhia, alguém com quem podem contar e partilhar as suas histórias, tradições e memórias.

Atividades e momentos especiais

O projeto inclui diversas atividades ao longo do ano, desde visitas regulares às casas dos idosos até momentos de convívio mais amplos, como arraial. Este evento festivo é o ponto alto do projeto, onde se celebra a união entre gerações com comida, música e muita animação.

Laura Marques destaca que este momento é especial: “já temos realmente uma ligação forte com eles, e isso é muito visível”.

Além disso, são organizados momentos de animação cultural e social, nos quais os idosos podem participar em jogos, ouvir música, partilhar experiências e sentir-se mais integrados na comunidade.

Sara Simões, por sua vez, fala com entusiasmo sobre as visitas às aldeia ao longo do ano, especialmente sobre a experiência de entrar nas casas das pessoas e conhecê-las de perto. “Fomos mesmo bem recebidos, entramos dentro das casas, as pessoas mostraram nos e falaram connosco, de como era a sua vida e quem fazia parte dela. É muito gratificante ver que confiam em nós”.

Desafios atuais

Como qualquer projeto social o rafiki enfrenta desafios importantes e Sara Simões aponta para a questão financeira ser a mais relevante uma vez que “ a realização das atividades, deslocações e logística requerem fundos que nem sempre estão disponíveis”.

Outro desafio encontrado pela coordenadora prende-se com a dificuldade de encontrar aldeias isoladas com informação suficiente para garantir o sucesso da intervenção. “Muitas vezes o isolamento impede o acesso a dados ou contactos locais”, diz.

Já o chefe Leonel Fernandes, destaca 2 preocupações, sendo elas a disseminação do projeto e a dificuldade de conseguir observadores que guiem a equipa ao logo do ano.

Leonel Fernandes

Perspetivas para o futuro

Um dos objetivos centrais é aumentar a visibilidade do projeto, tanto dentro do movimento escutista como na sociedade em geral, para incentivar a participação de mais jovens e atrair o apoio de entidades externas.

A coordenadora do projeto apoia essa ideia referindo que o Rafiki só pode avançar quando as pessoas conhecerem a sua missão e conseguirem apoiá-lo.

Laura Marques

Já Sara Simões reforça essa ideia, destacando a ambição de levar o Rafiki a outras regiões. “Queremos alcançar Portalegre, Viana do Castelo e outras aldeias. Além disso, sonhamos aplicar esta iniciativa noutros pontos do país, criando uma rede de aldeias apoiadas pelo Rafiki, onde o isolamento deixe de ser sinónimo de solidão”. O sonho é construir uma grande família que una jovens e idosos em todo o território nacional, promovendo a inclusão e celebrando as tradições das aldeias.

Rafiki é

O projeto Rafiki é um exemplo de como o voluntariado jovem pode ter um impacto profundo e transformador nas comunidades rurais oferecendo não só companhia, mas também de esperança, alegria e aprendizagem para todos os envolvidos.

Com o compromisso e envolvimento de mais pessoas este projeto poderá continuar a crescer garantindo que ninguém fica esquecido mesmo nas aldeias mais remotas de Portugal.

Sara Simões conta para si, o que é ser Rafiki.

Sara Simões
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