125 anos depois, “ainda queremos ouvir: isto é Raposeira”
As Caves da Raposeira, localizadas em Lamego, na região do Douro, conhecidas pela produção de espumantes desde 1898, aliando tradição e inovação. Fundada após uma visita à região francesa de Champanhe, a marca tornou-se uma referência a nível nacional, apostando no método clássico francês para garantir a melhor qualidade. Atualmente, a empresa continua a destacar-se pela sua evolução positiva, impulsionada pelo empenho de todos os seus funcionários , pelo investimento em novas tecnologias e por uma paixão que atravessa gerações.
Por: Mariana Ferreira e Yasmin Mendes

No alto de Lamego, entre vales verdejantes e vinhas perfumadas da região, respira-se mais do que um ar puro e cheiro a vinha, respira-se história. É lá que se escondem as Caves da Raposeira, uma referência nacional no mundo do espumante, fundada em 1898 pela família Valle. Tudo começou com uma ideia ambiciosa que foi replicar o método tradicional francês, depois de uma visita à região de Champanhe. Reza a história que o champanhe veio “na sola da bota”, como símbolo da tradição importada de França.
Ao longo de mais de um século, a marca evoluiu sem perder as raízes. Depois de passar pelas mãos da Seagram, uma multinacional do setor vinícola, foi adquirida pelo professor Orlando Lourenço, que ainda hoje lidera os destinos da empresa.
Relação entre o campo e a cave
A produção começa muito antes do espumante ganhar bolha, começa nas vinhas, com a seleção rigorosa das castas. “Se a matéria-prima não for boa, não há como ter um bom espumante”, explica Carla Costa.
Esse cuidado começa no terreno, mas estende-se por todo o processo, que envolve uma colaboração com viticultores da região. Os enólogos da Raposeira acompanham todo o processo da maturação no terreno. A relação entre campo e cave é uma das grandes forças da Raposeira, garantindo consistência e a máxima qualidade com o passar dos anos.

Após a colheita, as uvas passam por prensagens cuidadosamente divididas em quatro frações: Cuvée, Première Pièce, Taille e Rebêche, cada uma com um destino distinto. Mariana Silva, enóloga das Caves da Raposeira, explica que a fração Cuvée é destinada para os melhores espumantes, como o reserva bruto.
A fermentação inicial decorre em cubas, e é depois, na segunda fermentação em garrafa, que se forma o gás natural que define o espumante. Este processo, conhecido como “método clássico”, exige tempo e precisão. Na Raposeira valoriza-se a autenticidade. Assim, em vez de leveduras capsuladas, são utilizadas leveduras livres, o que torna o processo mais desafiante, mas garante maior riqueza aromática, explica Mariana Silva.

“Um enólogo sem adega não é nada”
O amor pelo que se faz sente-se nas palavras e no olhar de quem lá trabalha. Bernardo Fernandes, de 59 anos, entrou na empresa em 1982 e, quase meio século depois, continua lá com o mesmo orgulho. “Gosto disto, se não gostasse não estava cá”, diz com uma alegria no rosto. Oficialmente é empregado de armazém, mas desempenha tarefas que vão desde a filtragem até ao engarrafamento.
Bernardo Fernandes não cresceu apenas ali, ele ajudou a empresa a crescer. O conhecimento que tem é essencial para o funcionamento diário da cave. “Um enólogo sem adega não é nada”, refere Mariana Silva.
A tradição caminha lado a lado com a inovação. As alterações climáticas têm mudado o habitual calendário das vindimas, atualmente colhe-se em meados de agosto, quando antes só se colhia em setembro. E a imprevisibilidade da uva obriga a um ajuste constante, explica André Coelho enólogo das caves.
Para dar resposta a novos desafios, as Caves investem na tecnologia. Um dos equipamentos mais inovadores é o biorreator que permite controlar o crescimento das leveduras com maior precisão e menos esforço humano. Outro exemplo é a automatização da remoage, hoje feita por giropaletes.“Antes, eram preciso 80 a 100 pessoas durante semanas. Agora, uma semana faz o trabalho em sete dias”, explica André Coelho.
Apesar das máquinas, é a mão humana que continua a dar alma ao espumante. “A tecnologia ajuda, mas sem as nossas mãos, não somos nada”, concluiu o enólogo.
Mariana Silva descreve em três palavras o que significa esta casa para ela: “história, equipa e paixão”.
É essa a combinação que faz com que, em qualquer lugar do mundo, ao abrir uma garrafa, se reconheça imediatamente o que está ali. “Queremos que as pessoas digam logo: isto é, Raposeira “, concluiu Carla Costa.
E assim, entre cubas, garrafas e mãos experientes, a Raposeira continua a brindar Portugal e o mundo com a sua essência efervescente, feita de tempo, pessoas e paixão.
