Futsal Feminino no Viseu 2001: “O objetivo é chegar à Primeira Divisão”

Surgindo cunhado originalmente de Viseu Futsal 2001, o Viseu 2001 é uma instituição desportiva sem fins lucrativos. Tem 2001 no nome mas foi fundado em 2002, mais propriamente no dia 18 de janeiro. O seu principal objetivo é “tornar-se numa das maiores referências desportivas do distrito de Viseu”, passando por ter um excelente modelo de gestão já destacado por entidades de elevada credibilidade, assim como pela positiva quantidade de jovens atletas que nas suas modalidades atualmente alinham.

Por Ricardo Pereira

Futsal foi a sua primeira modalidade, continuando ainda hoje por ser a sua mais importante. Contudo, o Viseu 2001 procura não sustentar a sua existência apenas num desporto, tendo ao longo dos anos criado equipas viradas para um diverso leque de modalidades, entre elas o futebol, o ciclismo e o rugby. Tornou-se num dos clubes mais diversificados de Viseu e conta atualmente com mais de 300 atletas, contrastando com os 80 que outrora tivera.

Depois da subida de divisão dada na época de 2017/2018, a equipa sénior de futsal do emblema viriato encontra-se atualmente, pelo segundo ano consecutivo, no escalão máximo do desporto a nível nacional. Todavia o foco hoje é num diferente setor, no qual o clube tem apostado mais recentemente: o feminino. A sua origem remonta ao ano de 2017. Com pouco mais de dois anos de existência, o futsal da turma viseense direcionado ao sexo feminino tem vindo a crescer de forma exponencial. A sua equipa sénior encontra-se atualmente em primeiro lugar no Campeonato Feminino da AF Viseu, isolada por seis pontos em relação ao segundo classificado, Lordosa, somando oito vitórias em oito jogos jogados.

Rogério Nunes, mais conhecido por Roger entre o seu meio, é o atual líder e treinador da formação feminina sénior do Viseu 2001. Já treinou previamente no setor masculino, mais propriamente na equipa júnior e na equipa B do clube, e diz que as principais diferenças entre os sexos neste desporto se encontram nas questões físicas:

“O feminino e o masculino diferem, no que mais salta à primeira vista, na disponibilidade física de cada atleta. Tem a ver com as massas musculares, a capacidade de reação, as velocidades, a resistência ao mais alto nível. Mas depois também há diferenças positivas: no feminino a capacidade de absorção de ideias, de análise de jogo, de tentar passar para campo aquilo que se treina costuma ser, de uma forma generalizada, mais rapidamente absorvida e isso tem também a ver com a cultura do desporto, onde as mulheres normalmente a este nível são um pouco mais humildes. Sabem que não estão num patamar tão alto como eles e então pensam que têm de trabalhar mais. Nesse aspeto o rendimento é diferente.”

Roger, treinador da formação feminina sénior do Viseu 2011
Roger assinou pelo Viseu 2001 esta época

2017/2018 foi a época em que o Viseu 2001 fez alinhar pela primeira vez uma formação feminina a nível sénior, terminando na altura em penúltimo lugar da tabela classificativa com apenas sete pontos. Na época seguinte, contando o campeonato da AF Viseu com menos duas equipas, o resultado foi o mesmo, sendo desta vez somados apenas cinco pontos. Atualmente o domínio a nível distrital não deixa dúvidas em relação ao principal objetivo desta equipa. Contando, lá está, com apenas vitórias até ao momento e marcando 48 golos em contraste com os apenas 5 sofridos, a próxima meta a atingir passa pela subida de divisão.

“O nosso objetivo é chegar o mais longe possível”

Patrícia Sousa, jogadora de 23 anos, venceu a competição distrital na época transata pelas cores do Lusitano Vildemoinhos e quer agora repetir o feito no Viseu 2001. Afirma, ainda assim, que a sua turma sonha mais alto atualmente, sendo a possível subida de divisão a sua principal motivação: “O nosso objetivo é sempre conseguirmos chegar o mais longe possível. Trabalhamos todos os dias para isso, todas as semanas. Para além de querermos ganhar aqui o nosso campeonato, o objetivo é sempre conseguirmos ir o mais longe possível e chegar a uma Primeira Divisão.”

“É sempre bom estarmos num clube onde uma das equipas, neste caso a masculina, está no topo”, afirma o mister Roger Nunes, acrescentando ainda: “Ajuda-me como treinador a perceber dinâmicas diferentes, olhando para objetivos, formas de trabalho, patamares onde nós gostaríamos de fazer chegar as nossas equipas. Esses contextos são sempre melhores, porque nos motivam e também acabamos por estar imbuídos de toda esta motivação paralela e grupal que é o clube. Julgo que elas passam um pouco pelo mesmo, porque percebem que estão num clube onde o topo já foi atingido e nós próprios também absorvemos um pouco dessa energia. E vamos ver jogos, depois por vezes eles treinam antes de nós e tudo isso acaba por criar um ambiente que claro que nos favorece”.

A formação atual do Viseu 2001

O bom momento do grupo deve-se também, em grande parte, à união nele presente, afirma Nely Ferreira, atleta de 25 anos, integrante na formação de Viseu: “Especialmente isso nota-se nos treinos, nós como equipa temos um grupo bastante coeso graças ao nosso treinador. Juntas conseguiremos chegar ao primeiro lugar e, quem sabe, chegar ao Nacional.”

Quanto à diferença de destaque e visibilidade dadas entre o futsal masculino e o feminino, Patrícia Sousa reconhece que, de facto, ainda há alguns passos a percorrer:

“[O futsal feminino] já subiu um pouco, mas se calhar ainda não subiu o que nós merecíamos. Não tem a ver com passar na televisão e tudo mais, mas se calhar dar mais valor, mais competitividade, mais atividades, tudo em relação a isso.” Questionada sobre a progressiva evolução do desporto feminino e se este vai aumentar nos próximos anos, a atleta complementou “prevejo que sim. Já joguei futebol quando era mais nova e nem sequer existia. Agora já começa a existir algo, já se começa a ser falado. Espero que um dia consiga haver ainda mais igualdade ao masculino.”

Patrícia Sousa, atleta do Viseu 2001

Falando também sobre esta matéria, Roger confessou que “em Viseu não é normal ter muita gente a assistir aos jogos femininos. Depende da realidade de cada clube.” Falando mais no caso do Viseu 2001, o mister afirmou que, também pelo facto de no clube existirem muitos sócios, assim como muitos escalões, as pessoas acabam por ligar um pouco “a família ao futsal do Viseu 2001, acabam por jogar uns antes, outros vão jogar depois e existe esta mobilidade, isso é notório.” O treinador foi mais além na questão e abordou a importância do futsal feminino no distrito de Viseu: “Mas sabemos que há outros clubes que se calhar não têm praticamente ninguém na bancada, isso também não é bom até para o crescimento do futsal feminino distrital. Nós estamos num distrito onde infelizmente o futsal feminino não é muito competitivo. Isso nota-se cada vez que qualquer uma das nossas equipas tenha que jogar, por exemplo, na Taça de Portugal contra qualquer clube de distritos como o Porto, Aveiro, Braga… Essas realidades são muito díspares. O masculino tem, por natureza, mais adeptos que o feminino. O futsal feminino terá muito para crescer, a par do masculino, se porventura tiver visibilidade, uma visibilidade muito relativa.”

No seguimento deste tema, o mister do escalão feminino de Viseu acabou por criticar algumas das entidades superiores do desporto, tanto a nível regional como nacional: “A Associação de Futebol de Viseu, por exemplo, não dá a devida importância à modalidade. Quando os nossos não nos protegem, quem é que nos vai proteger? Depois a própria Federação também não protege o futsal feminino, prefere o futebol de onze. Agora temos o Canal 11, por exemplo, com vários jogos a serem transmitidos de futebol, inclusive de clubes e seleções que nem sequer são as nossas, e depois para termos um jogo de futsal feminino transmitido quase que é preciso pedir um requerimento, é muito complicado.”

“Eu acho muito bem que o fomento do futebol de onze exista, é positivo, da mesma forma acho que o futsal feminino, que tem muito mais praticantes que o futebol de onze, também devia ter um pouco desse marketing, que é necessário. São muitos clubes com vários escalões em Portugal. Custa-me às vezes ver miúdas com 15 anos a treinar com os séniores porque não têm equipa júnior para treinar. É preciso dar um pouco de valor ao trabalho dessa gente, assim como das nossas. Acho que se remarmos todos para o mesmo lado, não deixamos cair um barco que acaba por ser muito interessante com tanta gente a praticar em Portugal.”

Roger, treinador da formação feminina sénior do Viseu 2011

Apesar de todos percalços ainda existentes em relação à modalidade que é o futsal feminino, a equipa do Viseu 2001 tem crescido bastante no pouco tempo que tem de existência. É apenas a terceira época que jogam a nível distrital e já dominam a competição. O próximo objetivo a cumprir é, sem sombra de dúvida, seguir o exemplo da equipa masculina e alcançar o campeonato nacional.

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