Instituições que não incluam a Inteligência artificial “vão ficar para trás”
Virar as costas à inteligência artificial (IA) no ensino superior é correr o risco de ficar para trás. “Algumas instituições vão ficar para trás e sabemos que já há dificuldade em trazer estudantes para as Instituições de Ensino Superior”. O alerta chegou de Sandra Soares, vice-reitora para a inovação curricular e internacionalização da formação do 1º e 2º ciclos, e foi deixado no primeiro dia do SIIE – o Simpósio Internacional de Informática Educativa, organizado pela Escola Superior de Educação do Politécnico de Viseu.
Por: Miguel Midões
A vice-reitora acrescenta também que em qualquer área de ensino, “se não pensarmos numa reestruturação curricular que inclua este tipo de ferramentas, os estudantes vão para o mercado de trabalho muito mal preparados e a reputação do ensino superior vai ficando muito fragilizada” e, por isso mesmo, “a liderança das instituições tem um papel muito importante”, orientando a sua comunidade e dando-lhes apoio para que experimentem as oportunidades. Por exemplo, a Universidade de Aveiro lançou o AcademIA, que promove sessões com peritos internacionais em que os docentes podem participar (em pelo menos 15h) para poderem ser reconhecidos como membros da AcademIA. “Não se trata de uma talk unidirecional, mas sim de apoio em literacia e formação orientada para a prática”, explica.
Contudo, no mesmo painel, Francisco José Garcia-Peñalvo, da Universidade de Salamanca, adverte que “não significa que todos os docentes tenham de ser engenheiros”, mas sim que haja, no contexto de sala de aula, “um contrato entre estudantes e professores sobre como usar estas ferramentas”, assumindo a possibilidade atual de três cenários: o primeiro em que o docente se assume como protagonista – “fazendo um uso responsável da ferramenta e controlando o domínio do que estamos a fazer”; o segundo, quando o protagonista for o estudante, “pois tal como o professor, também pode usar as ferramentas, adaptando-as ao contexto da disciplina: como a uma criança que estás a ensinar a somar não lhe podes dar uma máquina calculadora, em algumas disciplinas não poderás utilizar IA”. Por fim, existe o cenário misto, no qual “o professor pode ensinar atividades que impliquem o uso de ferramentas de IA”. O especialista considera que a avaliação destes cenários é mais importante do que regular, pois “regular está associado a proibir”.
Outro dos temas em destaque neste painel foi o financiamento, que “é escasso para a área da Educação”, nos dois lados da fronteira. Em Espanha, recentemente, foi aprovado um programa específico de IA, mas “é muito pouco dinheiro para muitos grupos interessados”. Por exemplo, diz o professor da Universidade de Salamanca, “os campos que estão ligados à medicina são muito mais atrativos para serem financiados do que aqueles que estão ligados à educação”. Em Portugal, Sandra Soares diz que as oportunidades do ponto de vista do financiamento podem vir do programa ERASMUS para a área de ensino e aprendizagem, o que é “interessante de considerar”, relembrando que existe um grupo de trabalho criado pelo ministério da Educação, “que resultará em financiamento”. Até lá, a alternativa pode passar por financiamento atribuídos às European universities, as alianças entre universidades europeias que podem apostar na investigação conjunta nesta área.
Logo na abertura dos trabalhos do primeiro dia do Simpósio, Cristina Azevedo Gomes, em representação da Comissão Organizadora, lembrou que “há 27 anos, o mundo tecnológico era consideravelmente diferente. O salto digital é gigante, afetando inevitavelmente a educação, o ensino e a aprendizagem”.
Esperança Ribeiro, presidente da ESEV, aproveitou o momento para sublinhar como a inteligência artificial está a desafiar o ensino e de como é necessário pensar o seu uso pedagógico e criativo, “garantindo que potenciam e não substituem a ação humana”.
