Pinguinhas: entre tradições, petiscos e fados
A casa de fados O Pinguinhas, escondido na rua Alberto Sampaio, em Viseu, criada há quase dez anos, é “o ponto perfeito para quem procura música tradicional num ambiente familiar”. O que há para saber sobre o pinguinhas ?
Por: Adriana Moita e Renato Rodrigues
O conceito nasceu de uma constatação simples “em Viseu não havia nenhuma casa de fados”, o objetivo era criar um espaço que mantivesse o espírito das antigas casas lisboetas, mas adaptado ao contexto local, algo pequeno, próximo do público e centrado na música ao vivo, é como recorda o proprietário. Sílvio Marques, fadista viseense de 66 anos, é a figura central da casa. A ligação de Sílvio com os fados começou cedo e manteve-se ao longo da vida, sempre conciliada com outras profissões. Aos dias de hoje, confessa ter deixado de tocar concentrando-se apenas na gestão da petisqueira.
O nome da casa não vem da música, nem da “boémia.” O nome, Pinguinhas, tem origem numa história familiar, era a alcunha que o pai do fundador lhe dava em criança, por ser demasiado chato, palavras do próprio. A família fez então questão de recuperar essa memória quando Sílvio abriu o espaço, uma homenagem ao pai que já partiu.
Ao longo dos anos Pinguinhas recebeu vários músicos que hoje figuram entre os melhores do país. O proprietário afirma que guitarristas que passaram pela casa estão atualmente “no top 10 a nível nacional”, e cita José Manuel Neto como “o maior guitarrista português” a ter atuado ali.
Estrutura e funcionamento da casa
O espaço funciona como bar durante a semana e como casa de fados às quintas-feiras. A sala dedicada ao fado tem capacidade para cerca de quarenta pessoas. O ambiente é descrito pelo proprietário como mais familiar e menos turístico do que o das casas de Lisboa.
As noites seguem uma estrutura fixa: primeiro atuam os músicos e fadistas residentes; depois, “Quem quiser cantar, pode cantar”, refere Sílvio, destacando o carácter participativo das noites.
A Gastronomia da casa segue o modelo tradicional. Entre os petiscos mais comuns estão caldo verde, chouriça assada, morcela, farinheira, queijos e pratos tradicionais, e também opções vegetarianas. Mas entre tanta comida, “o vinho acaba por ser o produto mais procurado durante as noites de fado” refere o proprietário com o tom cómico.
Impacto da pandemia
A pandemia teve um impacto profundo no Pinguinhas. O espaço esteve fechado e, segundo o proprietário, “ainda hoje estamos a pagar dívidas que contraímos nessa altura”. Silvio sublinha que não teve apoio do município, apontando que, ao contrário de Viseu, “em Lisboa existiu apoio” e as casas de fado foram subsidiadas para se manterem abertas no pós-Covid. Para o responsável, “em Viseu não há política […] de apoiar a cultura dessa maneira”, o que considera estar errado.
Apesar das dificuldades, o Pinguinhas permanece ativo e consolidou-se como um dos espaços culturais da cidade de Viseu, e usando das palavras de Sílvio Marques: “Há lugares pequenos que guardam mundos inteiros”.
