Perfil. Zedu, o ex Estadista tímido que governou Angola por mais de 3 décadas
Um homem tímido, civilizado e de poucas palavras, assim era conhecido José Eduardo dos Santos, ex presidente da atual República de Angola, e um dos chefes de Estado africano que mais tempo ficou no poder.
Por: Claudete Salvador
Considerado por muitos como o principal responsável por encaminhar Angola a um estado de pobreza, Zedu, como era tratado em Angola, nasceu aos 28 de agosto de 1942 em Luanda, num dos bairros mais pobres. Frequentou o ensino secundário no Liceu Salvador Correia, a principal do país na sua época. Filho de pai pedreiro e mãe doméstica, licenciou-se em Engenharia de Petróleos em 1969 pelo Instituto de Petróleo e Gás de Baku, capital do Azerbaijão, na antiga União Soviética.
Com um vasto percurso na política, Zedu começou a sua atividade associando-se ao MPLA em 1958, no âmbito da sua constituição. Foi um dos fundadores e coordenador de segurança do movimento da Juventude do MPLA. Em 1962 juntou-se ao Exército Popular de Libertação de Angola (EPLA), e em 1963 desempenhou a função de representante do MPLA em Brazzaville, na República do Congo.
Frequentou um curso militar de telecomunicações, tendo exercido entre 1970 e 1974, funções nos Serviços de Telecomunicações na 2 Região Político-Militar do MPLA, em Cabinda. Coordenou juntamente com o Departamento de Relações Exteriores, o Departamento de Saúde do MPLA. Em 1975 foi nomeado Ministro das Relações Exteriores, e secretário do Comité Central do MPLA entre 1977 e 1979.
Aos 37 anos, em 1979, José Eduardo dos Santos tornou-se Presidente do Partido MPLA, após a morte do primeiro presidente de Angola, António Agostinho Neto. No dia 21 de setembro do mesmo ano, foi-lhe atribuído o cargo de Presidente da República Popular de Angola e comandante em chefe das Forças Armadas Populares de Libertação de Angola (FAPLA).
Foi destaque na solução da crise transfronteiriça entre Angola e África do Sul, e recebeu a 25 de janeiro de 1988, o Grande-Colar da Ordem d Infante D. Henriques, e o Grande-Colar da Ordem Militar de Santiago da Espada a 16 de Janeiro de 1996.
Implementou um regime democrática em Angola, em consequência da pressão pela comunidade internacional a terminar definitivamente com a guerra fria que se instalou no país, permitindo o pluralismo político e a economia de mercado.
Foi a personagem principal no programa diplomático que resultou no reconhecimento do governo angolano pelos Estados Unidos da América aos 19 de maio de 1993, e consequentemente pela maior parte dos países.
Pai de 10 filhos, nos quais uma delas foi considerada como uma das mulheres mais influentes do continente africano, Isabel dos Santos, descreveu o pai como um “homem honesto” que não ligava a “casas ou a luxos”, e que foi levado ao palácio presidencial “à força”.
Após 38 anos como Chefe de Estado Angolano, José Eduardo dos Santos abandonou o cargo em setembro de 2017, sendo sucedido pelo atual Presidente João Manuel Gonçalves Lourenço.
Em 2019, dois anos depois de abandonar a presidência, mudou-se para Barcelona para tratar o cancro que padecia. No dia 22 de junho de 2022, sofreu um acidente vascular cerebral (AVC) e foi internado na unidade de cuidados intensivos, num hospital em Barcelona, aonde acabou por falecer a 8 de julho do memo ano, aos 79 anos.