Volodymyr Zelensky: da comédia à coragem política

Volodymyr Oleksandrovych Zelensky nasceu em 1978, em Kryvyi Rih, no sul da Ucrânia. Formou-se em Direito, mas destacou-se como ator e produtor na série Servant of the People (2015-2019), onde interpretava um professor honesto que, de forma inesperada, se tornava presidente após um discurso viral contra a corrupção. O enredo ficcional acabaria por se tornar profético. Em 2019, Zelensky, já uma figura nacionalmente popular, fundou o partido homónimo Servant of the People e venceu as eleições presidenciais com mais de 70 % dos votos, prometendo moralizar a vida pública e restaurar a confiança dos ucranianos nas instituições.

Por: João Amaral

A invasão russa de fevereiro de 2022 alterou radicalmente o seu destino político e pessoal. Quando aliados ocidentais lhe ofereceram evacuação de Kiev, respondeu: “Eu preciso de munição, não de boleia”. A recusa em abandonar a capital tornou-se um símbolo de resistência. Em entrevistas posteriores à BBC, admitiu não ter acreditado, até ao último momento, que Moscovo invadiria o país, reconhecendo o choque e a necessidade de “aprender a ser comandante em poucos dias”. Essa aprendizagem rápida definiu o tom da sua liderança: próxima, corajosa e determinada.

Zelensky percebeu desde cedo o poder das imagens e da comunicação direta. Dispensa o formalismo dos discursos tradicionais e fala de forma simples, olhando diretamente para a câmara. Veste roupa militar ou de cores neutras, recusando os fatos de chefe de Estado, como forma de se colocar ao nível do povo.

A TIME Magazine, que o elegeu “Person of the Year” em 2022, descreveu-o como “um homem que provou que a coragem pode ser tão contagiosa quanto o medo”. As suas mensagens diárias, difundidas através das redes sociais, tornaram-se um instrumento de mobilização interna e de diplomacia global.

Zelensky também compreendeu o valor simbólico da empatia. Nas suas intervenções, mistura relatos pessoais — famílias separadas, cidades destruídas — com apelos políticos e morais. Essa narrativa emocional criou um elo entre a Ucrânia e o resto do mundo.

Numa conversa com a CNN em 2023, afirmou que liderar em guerra “é viver cada dia como se fosse o
último, mas continuar a acreditar na vitória”. Essa combinação de emoção e disciplina explica o seu
impacto global: um presidente que une narrativa, empatia e firmeza. Contudo, Zelensky não é isento de
críticas. À medida que a guerra se prolonga, enfrenta tensões internas, cansaço popular e a difícil tarefa de equilibrar resistência militar com reconstrução política. Ainda assim, a sua figura mantém-se como símbolo de determinação nacional e de uma nova forma de liderança política.

Ao transformar o drama do seu país numa causa global, Zelensky tornou-se mais do que um presidente: tornou-se a voz de uma nação sitiada e a personificação da resistência democrática.

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