Perfil. “Deixo a vida para entrar para história”: o legado de Getúlio Vargas, antigo presidente do Brasil
Getúlio Vargas foi o presidente brasileiro que governou por mais tempo, totalizando quase 20 anos de presidência. Os dois mandatos do ex-presidente foram entre 1930 e 1945 e posteriormente entre 1951 e 1954.
Por: Mariana Lira
Lira Neto, biógrafo da figura política brasileira, afirma em entrevista ao Instituto Humanitas Unisinos que “Getúlio continua, até hoje, alvo de acaloradas controvérsias. Os getulistas o colocam como um personagem quase imaculado, acima do bem e do mal. Os antivarguistas, ao contrário, só conseguem ver nele o caudilho e o ditador do Estado Novo”.
O ex-presidente foi protagonista de algumas das transformações sociais, políticas e económicas mais importantes no Brasil, como a criação da Consolidação das Leis de Trabalho (CLT), possibilitando a conceção de direitos trabalhistas fundamentais, como o salário mínimo e férias renumeradas; o Código Eleitoral de 1933, que estabeleceu o voto secreto e o voto feminino; além da criação de uma das maiores empresas de petróleo, a Petrobrás, impulsionando a economia brasileira.

Getúlio Dornelles Vargas nasceu em São Borja, no Rio Grande do Sul, no dia 19 de abril de 1882. Conhecido como “pai dos pobres”, o ex-presidente começou sua carreira política como deputado estadual e federal, depois Ministro da Fazenda, até concorrer à presidência em 1929 com apoio da Aliança Liberal (AL). No entanto, a vitória foi de Júlio Prestes, que tinha o suporte da oligarquia paulista.
Os partidários da AL alegaram fraudes nas apurações, mas o verdadeiro estopim a revolta deu-se quando o candidato a vice-presidente, João Pessoa, foi assassinado em 1930. O crime foi atribuído ao governo federal e assim começou a Revolução de 30, a qual eventualmente colocou Getúlio Vargas no poder.
Em 1930, no dia 3 de outubro, data do estopim da Revolução, escreveu no seu diário: “E se perdermos? Sinto que só o sacrifício da vida poderá resgatar o erro de um fracasso”. Os historiadores nomeiam os primeiros anos da Era Vargas como “Governo Provisório”, “Governo Constitucionalista”, e, por fim “Estado Novo”. Esse último estaria marcado como a ditadura de Vargas.
Durante o Estado Novo (1937-1945), foi criado o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), que tinha como objetivo a censura e a promoção da personalidade de presidente. A posição de Getúlio Vargas sobre a Segunda Guerra Mundial foi à partida neutra.
“O nosso pan-americanismo nunca teve em vista a defesa de regimes políticos, pois isso seria atentar contra o direito que tem cada povo de dirigir a sua vida interna e governar-se”, declarou o ex-presidente em discurso em agosto de 1942. Contudo, em 1944 a Força Expedicionária Brasileira desembarcou na Itália para se juntar às forças norte-americanas e retomarem as regiões do norte do país, atuando ativamente contra as potências do Eixo.
Em 1945, após ser deposto por forças militares, o ex-presidente conversou em entrevista com a equipe do jornal O Globo. “Tenho a impressão de que os senhores perderam uma longa e dispendiosa viagem. Eu não lhes posso fazer declarações. Ademais, a minha carreira política está encerrada”, disse Vargas. Apesar disso, em 1949 afirmou que voltaria ao poder como “líder de massas”, em entrevista a Samuel Wainer.
A “Nova Era Vargas” começou após o ex-presidente ser eleito em 1951 esse estendeu até 1954, quando Getúlio Vargas cometeu suicídio após pressões para ser afastado do poder devido a forças de oposição e a uma atentado contra o jornalista Carlos Lacerda, “inimigo” do político, conhecido com o “Crime da Rua Toneleros”. Em uma carta testamento, deixou as suas últimas palavras: “Eu vos dei a minha vida. Agora vos ofereço a minha morte. Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na história”.
