Desportivo Ases de São Jorge: Formar a ganhar
Conseguir aliar a parte formativa com a parte qualitativa de um atleta é o objetivo diário do Desportivo Ases de S. Jorge. Formar boas pessoas enquanto se está a ganhar não é para todos, mas o clube de Fafe acredita que se houver organização essa meta é facilmente alcançada.
Reportagem de Francisca Novais
“quem é que nós somos? ases! ases! ases!
o que é que nós queremos? ganhar! ganhar! ganhar!”
Ao leme de um navio que procura encontrar o ouro está o presidente Filipe Marques que destaca que a paixão é o que move os dirigentes do clube. São quatro os pilares que o presidente do Desportivo Ases de S. Jorge destaca como preponderantes para o desenvolvimento do trabalho de formação do clube: os pais, que permitem “assumir a enorme responsabilidade de participar na vida dos filhos”; o apoio dos sócios, que a par com os patrocinadores “ajudam a garantir a capacidade de dar aos jogadores todas as ferramentas necessárias”; e os treinadores. “Toda a equipa técnica dedica-se de uma forma incrível à formação”, afirma Filipe Marques, destacando a paixão com que todos trabalham árdua e diariamente, uma vez que a entidade não tem ainda a capacidade de oferecer remuneração.
Este é o primeiro ano, em toda a história do clube, que vão avante com uma equipa de juniores. Já são mais de 48 anos de existência a apostar no futebol de formação. Durante um largo período de anos o clube contou com centenas de atletas divididos por todos os escalões existentes, desde o mais baixo até aos juvenis que, até à bem pouco tempo, era o patamar mais alto. A associação, por motivos extra desporto, passou por uns tempos difíceis, acontecendo a inatividade da instituição onde chegou a pairar uma ameaça de extinção, revela o chefe dos Ases enquanto nos dirigimos pelas instalações.
A reestruturação no pós-pandemia
A atual direção assumiu as rédeas no período pós-pandemia e tem vindo a reerguer o clube. Quando questionado sobre o sinal e a ambição que demonstram ter nas camadas jovens, e suscitando também a pergunta do que esperam para o futuro, Filipe Marques esclarece que a principal bandeira sempre foi a memória do clube de Fafe relativamente à forte ligação com os jovens de formação, aspeto chave que caracteriza toda a estrutura. Sobre as perspetivas futuras garante ter a “ambição de alcançar uma equipa em todos os escalões a médio-prazo”. O objetivo fulcral é “criar condições para todos os jovens que cá estão se sintam bem e os que não estão queiram estar”, frisa o presidente.
Encaminhamo-nos para os balneários onde a equipa de juniores festeja uma vitória difícil. E é no local onde a maior parte das estratégias são discutidas que damos início a uma conversa com Alex Pereira que representa com orgulho de carregar o símbolo ao peito a primeira equipa do escalão de juniores. Ainda ofegante, o jovem conta o que despertou interesse em vir para os Ases de S. Jorge. “Honrar o clube da terra e representar as cores da camisola desta enorme instituição”, é a premissa essencial.
Sobre um dia poder vir a jogar na equipa sénior, Alex Pereira segreda não ser possível para já, mas não descarta uma hipótese futura. “Devido ao futebol federado (juniores) e à participação na competição AMAF (Associação de Modalidades Amadoras de Fafe não é permitido, este ano, que os mais novos entrem em campo juntamente com os mais velhos. No entanto, num futuro próximo acreditamos e ambicionamos que seja alcançável, para que os atletas cada vez mais tenham essa vontade de representar a equipa”.
Face às condições reunidas para a prática desportiva este considera que é fornecido todo o tipo de material necessário e acrescenta que existe uma fácil comunicação com a direção caso falte algo. “Desde um bom campo, bons balneários, bom ambiente interno, são todos aspetos que podemos disfrutar”. O que mais fascina o jovem desportista é a facilidade de comunicação entre todos, desde jogadores até à direção. O que na opinião de Alex Pereira “cria um ótimo ambiente não só de balneário, mas sim em geral”.
Surgindo o tema da capacidade e qualidade das instalações é importante frisar o que disse Filipe Marques. Este anuncia que são capazes de dar uma resposta no que toca à logística e ao material. O Desportivo Ases de S. Jorge tem ao dispor de todos os membros integrantes um campo de futebol de 11 e um pavilhão, “o que é mais que suficiente para receber as 6 equipas que temos”, destaca o presidente e ainda acrescenta que “não é uma preocupação principal ao dia de hoje”.
“Formar a ganhar, formativa e qualitativamente”
Depois do atleta da equipa de juniores, damos voz ao mister, Henrique Lopes, de apenas 21 anos. O treinador menciona como principal obstáculo nos escalões de formação os problemas suscitados pelos adultos, mas rapidamente afirma não haver situações destas nos Ases, mas sim no desporto em geral. Para ele, “uma criança de 5/6 anos que inicia a prática desportiva ainda não tem bem noção do que é o sucesso, para ela o ter é deixar os adultos que são importantes para si, felizes”. O jovem treinador salienta que ao invés de no fim de um jogo se perguntar à criança: “ganhaste?”, deve-se questioná- la com: “divertiste-te?”, sendo a maneira mais segura e educativa de mostrar que o mais importante nem sempre é o resultado.
Henrique Lopes diz que estas situações colocam uma pressão acrescida também na equipa técnica que, de certo modo, acaba por ajudar a acentuar o problema, tratando os miúdos como se estivessem a lidar com seniores, pela necessidade de terem de mostrar resultados positivos para conseguir subir na carreira. Considerando como principal entrave a uma boa escola de formação, esta é uma premissa que os Ases não se assemelham e tentam, portanto, transmitir isso aos seus atletas, vigorando a missão de formar não só craques, mas pessoas e mentalidades.
Formar a ganhar, formativa e qualitativamente. O grande ativo são sempre os pais, que fazem muitas das vezes inúmeros esforços para garantirem que os miúdos possam praticar desporto e pertencer, no caso em questão, à família do clube da cidade fafense. “Só temos a agradecer-lhes”, acrescenta.
Quando questionado sobre qual o papel que contém dentro da estrutura e que responsabilidades aponta para o bom desempenho da sua função, este fala sobre o quão fundamental é o conhecimento do jogo e a compreensão de aspetos específicos da modalidade. Contudo, comandando uma equipa de juniores, “a dimensão humana representa também um papel preponderante” e, na sua perspetiva “é necessário saber conjugar muito bem a disciplina, que é preciso existir, com a empatia e a compreensão da fase da vida que estes jovens se encontram e dar-lhes a liberdade de serem eles próprios e de se sentirem com prazer em vir aos treinos e praticarem futebol”.
Tendo Henrique Lopes o papel de garantir que se desenvolvam competências fundamentais para uma eventual carreira de jogadores, este considera que é igualmente importante assegurar o desenvolvimento de valores imprescindíveis para as suas vidas pessoais.
A FAFTIR é o principal patrocinador dos Ases e garante que o motivo que levou a empresa a investir na instituição é a importância na promoção do desporto e na transmissão de bons valores que estes assumem. O papel que desempenham na sociedade no que toca à formação de pessoas é uma razão mais que válida para esta aposta. Com isto, pretendem tentar conceder ao máximo, a capacidade do clube criar oportunidades de todos os jovens fafenses praticarem desporto. “Para nós, em nome de toda a entidade, “é um retorno fabuloso e, posteriormente, sermos o principal patrocinador nas camisolas de jogo também nos dá uma exposição muito boa”, salientam.
E como nem tudo se rege apenas pelo mínimo exigido, valores mais altos se levantam e o Desportivo Ases de S. Jorge tem demonstrado carisma e atitude ao longo de quase meia década de existência.