Cinema Batalha. A História de um edifício que conta histórias

A tão esperada reabertura do cinema Batalha, no coração da cidade do Porto, foi no dia 9 de dezembro e trouxe de volta aos portuenses uma das casas mais emblemáticas da Invicta. As paredes deste cinema escondem histórias de boa parte da população portuense e o objetivo é que as novas gerações criem também neste espaço, memórias.

Reportagem de Maria Sarmento

O propósito das obras de reabilitação e de restauro de uma das salas de cinemas mais antigas do país foi “devolver” aos cidadãos um dos pontos mais incontornáveis da cidade, que surge agora com um novo nome: Batalha Centro de Cinema. Um investimento que trouxe inovação ao Cinema Batalha, passando por uma biblioteca, à filmoteca, uma cafetaria e uma livraria. O objetivo foi, assim, reinstaurar na cultura portuense o hábito já antigo de rumar às salas de espetáculo na Batalha, onde desde 1908 já passavam as últimas novidades em fotografia animada, num prédio conhecido dantes por Salão High-Life.

Cinema Batalha

De acordo com o site Restos de Coleção, o Salão High-Life rapidamente se transformou naquilo que viria a ser o primeiro esboço do “Cinema Batalha” e em 1944, um projeto que almejava salas com capacidade para mais de mil pessoas, ostentava uma arquitetura luxuosa e prometia dar que falar pelo país afora.

Em declarações ao Diário de Notícias, o presidente da câmara portuense, Rui Moreira, considera que o investimento tem como objetivo não deixar cair em esquecimento as “raízes e o passado da cultura do Porto”. Para o autarca, o “Cinema Batalha” reabre portas para atrair não só as gerações que outrora já lá tinham passado, mas também, as mais jovens, culminando assim numa forma de misturar diferentes faixas etárias numa só sala de cinema, unindo o povo citadino. 

“Foi no Cinema Batalha que conheci o meu marido”

As memórias do cinema perduram entre a população. Raquel Ferreira, docente de Educação Física, conta que frequentava o espaço nos anos 70. “Fui muitas vezes antes das obras, tinha inclusive uma sala (sala bebé) pequena onde passava cinema de autor como Bergmam, Fellini, Godard.  Foi lá que vi filmes fantásticos”, recorda, assumindo a curiosidade em regressar agora, após as obras.

Ana Paula Silva, doméstica de 65 anos, confessa que a marca que o Cinema Batalha lhe deixou é mais profunda que um simples filme: “Foi no Cinema Batalha que conheci o meu marido. Perdi o interesse no filme, nem me lembro do fim. Mas nunca mais me esqueço daquele cinema”, confessa.

Paula Lopes, médica portuense, vê no novo Batalha uma nova panóplia de passeios e de oportunidades para sair de casa. “Penso que é uma alternativa diferente, mais clássica e bonita. Que pode incluir outro tipo de entretenimento como teatro, revista, concertos, etc. E depois leva a que as pessoas ao saírem passem pela baixa da cidade com lojas, bares e restaurantes que muito sofreram com o Covid-19 e a crise. Creio que seja um conceito diferente a descobrir”, afirma.

A médica recorda o que o que representava ir ao cinema antigamente. “Ir ao cinema, na minha geração, era um programa noturno, de casal ou de amigos / familiares e como não existiam centros comerciais, era uma ida à baixa da cidade”. Paula Lopes considera que “os cinemas tinham outro charme”, sobretudo face à maior dimensão das salas e ao momento do intervalo, passado no café, entre conversas sobre o filme. “Nesses programas as pessoas vestiam-se bem e a seguir iam cear qualquer coisa a um restaurante da baixa”, relata.

Por sua vez, os mais jovens admiram a arquitetura do edifício e assumem-se interessados pelas histórias que ouvem dos seus familiares. Francisca Weiner, de 20 anos prestes a terminar a licenciatura em Educação Social e demonstra vontade de ir experimentar o cinema. “Para além de um edifício lindíssimo, ter um cinema no centro de uma cidade como o Porto, enriquece a sua oferta cultural.” “O cinema é uma coisa que pode ser tão bonita e especial e sempre achei que os shoppings estragavam a magia”, sustenta a jovem.

Matilde Rodrigues, de 20 anos, artista, destaca algumas medidas que pensa que devem ser tomadas para preservar e resguardar a verdadeira essência da cidade do Porto. “A cidade deve preservar a sua história e a sua cultura, e o cinema Batalha assim como outros na cidade devem ser preservados”.

Regresso das matinés

Matinés de domingo estão de regresso

O formato das matinés de domingo está de regresso e o Batalha Centro de Cinema conta com a parceria do Cineclube do Porto nesta iniciativa. A próxima sessão está marcada para dia 29 de janeiro, com a projeção do filme “Le jour se lève”, de Marcel Carné.

Em fevereiro o espaço será placo do Fantasporto – Festival Internacional de Cinema do Porto, que decorrerá de 24 de Fevereiro a 4 de março e abre com o filme britânico Shepherd, de Russel Owen.

a