Dão Digital, o “bichinho da rádio” que veio preencher o vazio das ondas em Mangualde
A Rádio Dão Digital nasceu em 2021, para colmatar a ausência prolongada da antiga Rádio Voz de Mangualde. Quem o diz é o coordenador da mais recente e única rádio local do concelho de Mangualde. Américo Albuquerque acrescenta ainda que este projeto surge pela insistência de muitos que participaram na antiga rádio mangualdense, e com o apoio da COAPE, cooperativa agrícola da região.
Reportagem de João Fernandes e Nuno Martins
“A Dão Digital surge de um projeto de algumas pessoas que estiveram ligadas à anterior rádio, Rádio Voz de Mangualde e que estavam sempre com aquele bichinho da rádio e, entretanto, desse desejo antigo de iniciar um novo projeto surgiu também o interesse da COAPE, a cooperativa, em ter um espaço ligado à comunicação social, e em concreto à rádio”, explica o coordenador da rádio, Américo Albuquerque.
A criação desta rádio local tinha como único propósito, no seu começo, a emissão radiofónica, no entanto cedo se percebeu que apenas nesta vertente a Dão Digital não iria conseguir o seu lugar nos ouvidos da população. Isto ditou uma adaptação da rádio mangualdense para mais vertentes abrindo assim o seu horizonte para três plataformas. Américo Albuquerque explica a divisão tripartida da Dão Digital dando conta da existência da “produção de conteúdos através da rádio, a divulgação dos mesmos em formato podcast e ao mesmo tempo a divulgação através das redes sociais”
Aliás, segundo o site, a Dão Digital é “um projeto de cariz marcadamente social com uma preocupação de trabalhar de, para e com a comunidade” preparado para dar resposta às necessidades da população, com informações pertinentes e do interesse da mesma. “O objetivo passa por dar voz à região, promovendo as questões sociais, tradições e a cultura, levando-as aos quatro cantos do mundo, a partir da cidade de Mangualde e constituindo, ao mesmo tempo um órgão de divulgação de informação relevante para o desenvolvimento da comunidade“, pode ainda ler-se no site.
Quanto à sua composição a Rádio Dão Digital caracteriza-se, nas palavras de Américo Albuquerque, como “uma equipa unida” com um número reduzido de elementos. Efetivamente, esta rádio local conta com a “estrutura da COAPE assente no presidente, Rui Costa, e na vice-presidente, Patrícia Tavares que em termos operacionais está mais próxima” dos três elementos que compõe a Dão Digital a tempo inteiro. São eles Irene Ferreira, a jornalista da rádio, Paulo Elvas, o editor/programador responsável pela produção e programação de conteúdos sempre com o objetivo de “alimentar esta máquina digital”. O último destes 3 funcionários efetivos da Rádio Dão Digital é quem ocupa o lugar mais alto da mesma, Américo Albuquerque, coordenador da rádio, que é quem está encarregue de “fazer a ligação entre todos estes setores e a parte institucional”.
A rádio local afirma-se como uma “estação de rádio online”, aberta aos vários tipos de temas jornalísticos. Embora não priorize o tema da notícia, sendo por isso uma rádio generalista, prioriza “a divulgação da informação local e regional” prometendo ao seu ouvinte “critérios de rigor, pluralismo, independência e isenção nos trabalhos jornalísticos. Para o coordenador, a prioridade é apoiar e divulgar a região mangualdense e os seus costumes, sendo que o seu objetivo é explorar todos os tipos de público, fazendo jus ao que, anteriormente, já tinha sido dado como um dos pilares da rádio, a produção de conteúdos “de, para e com a comunidade”.
“Dão Digital está a ressuscitar a rádio”
A opinião dos entrevistados em relação à rádio é positiva. Elizabete Ferreira, de 42 anos, afirma que a Rádio Dão Digital está a “ressuscitar a rádio, pois desde o fim da Rádio Voz de Mangualde havia essa lacuna”. A mesma ouvinte caracteriza a estação radiofónica como um projeto em andamento, mas que pensa estar a “ganhar audiências” e que “brevemente será um projeto de sucesso”.
Vicente Dias, de 16 anos, detentor de um dos programas de entretenimento da rádio, o “GAMETALK”, concorda com esta perspetiva de a rádio estar a conquistar ouvintes e a afirmar-se na vida de cada vez mais ouvintes, considerando por isso a Dão Digital como um “projeto sólido” que possibilita a intervenção de “diversas pessoas criativas a fazerem programas que vão desde música a videojogos”.
Falta de investimento é o maior problema das rádios locais
Segundo o estudo realizado em abril de 2018 pelo OBERCOM (Observatório da Comunicação), a “distribuição de rádios locais no território português não é linear”, sendo que o litoral alberga uma maior quantidade de rádios locais que o interior do país, o relatório explica estas divergências afirmando que estes dados acompanham a “lógica de densidade populacional”.
No território nacional, estas rádios diferenciam-se por serem generalistas, como o caso da Dão Digital, ou temáticas. As primeiras dispõe de “uma programação diversificada, incluindo programação informativa, e que se dirige, de uma forma geral, a qualquer público” ao passo que as temáticas se centram em assuntos específicos “normalmente informativos ou musicais”.
O relatório do OBERCOM recorre a dados da Entidade Reguladora da Comunicação (ERC), para destacar que, embora existam mais rádios generalistas do que temáticas, desde 2012 que estas últimas têm vindo a crescer derivado de motivações económicas e financeiras, na medida em que uma rádio nestes moldes necessita de um investimento menor.
Este investimento, ou melhor, a falta dele é o problema maior das rádios locais. Para fazer face a esta dificuldade, as Comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regional distribuem o financiamento para a comunicação social desde 2015. Para obter “este financiamento, as rádios locais concorrem como qualquer outra empresa do sector da comunicação”.