Viver numa residência de estudantes: “É como se fossemos uma família, quando alguém está mal todo se ajudam”

O despertador toca às 8 da manhã e Carlos Oliveira levanta-se e vai tomar banho. O estudante do 1º ano de Desporto e Atividade Física da Escola Superior de Educação de Viseu (ESEV) ocupa uma das mais de três centenas de camas disponíveis nas residências do Instituto Politécnico de Viseu.

Reportagem de Gonçalo Augusto

Residências do Politécnico de Viseu

As residências do Politécnico de Viseu são compostas por três unidades de alojamento e são destinadas a estudantes deslocados que beneficiam de bolsa de estudo atribuída pela Direção-Geral do Ensino Superior e não só. As três residências de estudantes em conjunto albergam 320 camas, repartidas por 132 quartos duplos, 50 individuais e quatro preparados para estudantes com necessidades especiais. As residências têm ainda salas de estudo, salas de convívio e lavandarias. A residência 1 é só para rapazes, a 2 só para raparigas e a 3 é para ambos os géneros.

Cada residência tem três pisos com quartos e cada piso contém duas cozinhas para um determinado número de quartos e casas de banho para um número específico de quartos também. Os quartos só conseguem ser abertos com um pequeno cartão que só quem está nesse quarto tem acesso e basta encostar à fechadura para a porta ficar destrancada.

Carlos Oliveira tem 18 anos e está no quarto 107 da Residência 1. Acabado de arranjar, Carlos Oliveira põe-se a caminho da Escola Superior de Educação de Viseu, onde iria ter aulas nessa manhã. Da residência à escola são, aproximadamente, 30 minutos de caminhada, o que provavelmente explica o porquê de serem poucos os alunos da ESEV a viver nas residências, que se localizam no campus do politécnico de Viseu, a 3 quilómetros de distância. “Eu não me importo de fazer esta caminhada todos os dias, já estou habituado, mas acredito que muita gente não goste e por isso são poucos os alunos da ESEV que moram nas residências”, revela Carlos Oliveira.

O estudante considera que a sua adaptação à vida na residência foi boa, apesar do nervosismo e ansiedade normais dos primeiros dias.

Queixas maioritariamente relativas à internet

Uma das responsáveis é Fernanda Silva, ou “Dona Fernanda”, como é conhecida entre os estudantes. A responsável já trabalha nas residências do Politécnico de Viseu há 23 anos e falou um pouco sobre o seu no trabalho no início. “Só fazíamos serviço de vigilância”, conta Fernanda Silva. Passados 12 anos, o seu trabalho mudou um pouco e essa altura coincide com a entrada de seguranças a fazer os turnos da noite, dado que o seu trabalho passou a ser controlar os pagamentos e agora funciona tudo “5 estrelas”.

É “Dona Fernanda” quem ouve todas as “queixas” dos alunos relacionadas às residências, que maioritariamente são relativas à ligação da internet e quem as comunica aos seus superiores, ou seja, Fernanda Silva, funciona como uma “ponte” entre os alunos das residências e os serviços de ação social do Politécnico de Viseu. Contudo, Fernanda Silva realçou que nunca existiram conflitos de maior entre os alunos que lá moram e que no geral são todos bons meninos e boas meninas e que gosta muito de falar com todos.

Fernanda Silva disse ainda que gosta muito do seu trabalho e que não pensa na reforma. “Gosto muito de estar aqui e do trabalho que faço, não penso em reformar-me tão cedo”, afirma Fernanda Silva.

Carlos Oliveira regressa da escola para almoçar e é nessa pausa que alguns estudantes se reúnem na cozinha, para conviver, num ambiente de animação. Depois de almoço, a caminhada não é assim tão longa, pois o estudante de Desporto tem aulas no ginásio da Escola Superior de Tecnologia e Gestão, mesmo ao lado das residências do Politécnico de Viseu.

Acabadas as aulas, Carlos Oliveira chega ao seu quarto e aproveita para relaxar e é aí que surge um dos pontos negativos de viver na residência: a fraca ligação da internet. De acordo com Carlos Oliveira, a rede é o calcanhar de Aquiles das residências do Instituto Politécnico de Viseu e a própria instituição está a par dessa situação, havendo uma promessa para melhorar a rede a tempo do 2.º semestre, algo que não aconteceu. “A internet aqui é fraca, o Politécnico já disse que iria melhorar a ligação a tempo do 2.º semestre, mas o semestre já está quase no fim e não vejo sinais de melhoria”, conta Carlos Oliveira.

Para além da fraca ligação da internet, outro dos pontos negativos que o estudante destaca é não se pode levar gente “de fora” para a residência. “É pena não poder trazer aqui nenhum colega, mas são as regras que temos e tenho de as respeitar”, revela Carlos Oliveira.

Para o estudante do Politécnico de Viseu, morar na residência é como morar em comunidade, ajuda a ultrapassar as dificuldades de estar a longe de casa, o que não acontece em estudantes que estão a morar em casas. “É como se fossemos uma família, quando alguém está mal todo se ajudam, existe um ambiente de entreajuda”, remata Carlos Oliveira.

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