“É importante que os jovens se emancipem, mas que fiquem no país com o melhor estilo de vida possível”

Portugal é o quinto país da União Europeia onde os jovens saem mais tarde de casa dos pais, com uma média de 30 anos, Portugal encontra-se acima da média europeia de 26,4 anos. Apenas países como a Itália, Malta, Eslováquia e Croácia apresentam uma média superior a Portugal. Qual é, afinal, o futuro dos jovens portugueses?

Reportagem de Tiago Campos

Um estudo da Fundação Calouste Gulbenkian em 2018 demonstra que 64% dos jovens entre os 18 e os 34 anos ainda vivem em casa dos pais. Isto acontece devido a vários fatores, principalmente económicos, como os salários baixos, os preços imobiliários elevados e incapacidade financeira. Tatiana Caiado, estudante do terceiro ano na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, atribui este fenómeno à dificuldade dos jovens portugueses conseguirem um emprego nas suas áreas de formação.

“Muitas vezes os jovens só saem de casa dos pais em idades tão tardias por dificuldade em arranjar emprego na sua área profissional, ou em qualquer outra. Hoje em dia, qualquer que seja o emprego, exige uma vasta experiência profissional que jovens recém-licenciados não têm”, afirma a estudante.

Segundo o estudo “Os Jovens em Portugal, Hoje” da fundação Francisco Manuel dos Santos, dos 4904 jovens inquiridos (em representação dos 2,2 milhões de jovens portugueses), 35% estudam/estudaram no ensino superior, e 77% dos estudantes do ensino básico e secundário querem ir para a universidade, a principal razão para ir para a universidade é a procura de melhores empregos.

Diana Vilas Boas, aluna do terceiro ano de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra, explica que decidiu ir para a universidade por achar ser a melhor opção para conseguir ter um melhor estilo de vida. “Penso que seja das melhores hipóteses de arranjar um emprego que me permita viver e não só sobreviver pois grande parte dos empregos atualmente pagam mal, mas com um curso superior melhoramos as chances de conseguirmos um emprego que seja bem remunerado”, sustenta.

Já Tatiana Caiado esclarece que ingressou na universidade para conseguir ser independente, mas não só: “gostava muito de um dia poder retribuir aos meus pais tudo aquilo que já fizeram por mim. Para tal, ingressar num curso superior é uma porta aberta para novas oportunidades e, principalmente, uma forma de concretizar essa retribuição que tanto ambiciono”, refere.

Ter um bom salário, um bom emprego, ser independente e construir uma família, são fatores que, segundo Afonso Costa, estudante do segundo ano de Administração Pública na Universidade de Aveiro, levam os jovens portugueses a optar por ir para a universidade. “Apesar das propinas serem elevadas impedindo muitos jovens de continuar a estudar, é a única forma de conseguirmos ter mais oportunidades para ter um bom futuro em Portugal. Desde cedo que temos de nos preocupar como vai ser o nosso futuro, para conseguirmos ser independentes temos e ter um bom emprego que nos ofereça um salário que nos permita viver com as condições adequadas e talvez no futuro constituir uma família”, reitera.

Cada vez mais jovens no estrangeiro

O estudo da fundação Francisco Manuel dos Santos, refere ainda que 53% dos jovens que trabalham recebem menos de 770 euros mensalmente, e que apenas 24% dos jovens têm profissões com formação superior. José Carvalho, estudante do terceiro ano de Gestão Comercial na Universidade de Águeda, está preocupado com o futuro dos jovens em Portugal.

“Ultimamente reparo em notícias a referir que existem cada vez mais jovens portugueses a irem para o estrangeiro, acho que é algo preocupante não só para nós, mas também para o país. Há cada vez mais pessoas formadas em Portugal com boas qualificações a emigrarem, o que me leva a concluir que não tenho um caminho fácil à minha frente. Acho que uma licenciatura não basta, tenho de tirar um mestrado ou um doutoramento para conseguir uma vida boa no meu país, senão também terei de procurar uma oportunidade no estrangeiro, ou continuar a viver em casa dos meus pais até conseguir ser independente financeiramente”, afirma José Carvalho.

Em 2017 as Nações Unidas estimaram que Portugal continuava a ser o país da União Europeia com mais emigrantes em relação à população residente, 2.3 milhões de emigrantes que equivale a 22% da população portuguesa. Apesar de grande parte da emigração ser pouco escolarizada e de mão de obra barata, a emigração qualificada tem vindo a aumentar. A falta de oportunidades e melhores condições financeiras são dos principais motivos que levam à “fuga dos cérebros” em Portugal.

A OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) definiu um valor de 69,5 mil euros para formar um diplomado em Portugal, segundo um estudo das universidades de Lisboa, Porto e Coimbra no âmbito do projeto “Brain Drain and Academic Mobility from Portugal to Europe” existiram em 2011, 146 mil emigrantes qualificados portugueses, ao multiplicarem estes valores chegaram à conclusão de que Portugal tinham um prejuízo acima de 8 mil milhões de euros.

Para além disso, 52% dos emigrantes inquiridos, consideraram pouco ou nada provável regressarem a Portugal; 70% dos inquiridos recebiam menos de mil euros por mês em Portugal, depois de emigrarem 51% passou a receber mais de dois mil euros.

Com este estudo conclui-se também que para além de Portugal ficar em prejuízo, não só grande parte dos portugueses ganham em emigrar, como também os países recetores beneficiam a custo zero da entrada destes emigrantes qualificados portugueses.

Afonso Costa, José Carvalho e Diana Vilas Boas, referem que não põem de parte a opção de emigrar para outro país caso não consigam seguir uma carreira profissional em Portugal.

“Se o meu país não mostra interesse em que eu fique cá, dando-me poucas ou nenhumas oportunidades, a opção de ir para o estrangeiro é sempre viável. Acho que Portugal se devia preocupar mais com este assunto, pois para além de nós termos de sair do nosso país e mudar de vida, Portugal também perde muito do dinheiro investido na nossa educação, e acredito que não deve ser um valor baixo”, explica Diana Vilas Boas.

Afonso Costa refere que “apesar de gostar muito de Portugal, emigrar cada vez mais tem o significado de novas oportunidades e melhor estilo de vida. Ainda por mais a língua não seria mais uma barreira, em Portugal aprendemos desde cedo a falar inglês, e existem diversos países, não só na europa, com comunidades portuguesas.”

Já Tatiana Caiado diz que dificilmente escolheria emigrar, mas não põe de parte essa opção. “Emigrar é uma opção, mas não a tenho como principal, no sentido em que, gosto muito do país onde vivo e, muito dificilmente recorreria à emigração. É uma árdua decisão para quem escolhe fazê-lo. Porém, se, eventualmente, não conseguisse seguir uma carreira profissional na minha área em Portugal, tentaria encontrar outras soluções que de algum modo se enquadrassem no curso superior que possuo e que me permitissem o melhor estilo de vida possível.”

Diana Vilas Boas diz não estar confiante em Portugal para diminuir os prejuízos do país com os emigrantes qualificados, e na melhoria da qualidade de vida dos jovens portugueses, dizendo que devem ser feitas reformas em diversos setores.

Por sua vez, Tatiana Caiado considera que o país deve tomar medidas que melhorem as oportunidades de emprego e facilitem o aumento dos salários, referindo a importância de os jovens permanecerem em Portugal. “Penso que seria importante que Portugal tomasse medidas neste sentido, como por exemplo, diminuindo impostos às entidades empregadoras que dessem oportunidade a jovens recém-licenciados, ou até mesmo através da atribuição de pequenos incentivos a essas mesmas entidades. É importante que os jovens se emancipem, mas, para além disso, que fiquem no país que desde sempre os acolheu com o melhor estilo de vida possível”.

Afonso Costa diz ser importante haver uma mudança no país que permita aos jovens ter mais oportunidades, mas que a mudança tem de começar através dos jovens. “Temos de ser conscientes e ter a noção de que nós somos capazes de fazer a mudança, através da eleição de políticos que invistam em medidas de longo prazo. Atualmente vemos uma aposta maior em medidas de curto prazo que gerem empregos com pouca remuneração, como o turismo, acaba por gerar mais emprego, mas não nos permitem ser independentes, sobretudo financeiramente”.