Marisa Matias: A política do #VermelhoemBelém

Marisa Matias, socióloga e política portuguesa, nasceu em Coimbra dia 20 de fevereiro de 1976 e é uma das figuras mais reconhecidas da esquerda portuguesa. Aos 48 anos, acumula uma vasta experiência no campo político, académico e ativista. Com um doutoramento em Sociologia, pela Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, é investigadora no Centro de Estudos Sociais, onde construiu uma sólida carreira académica antes de ingressar na política.

Por Lídia Filipe

Cresceu na aldeia de Alcouce, em Condeixa-a-Nova, com bastantes dificuldades financeiras. Desde cedo que revelou uma resistência notável, percorrendo todos os dias cerca de cinco quilómetros para ir à escola enquanto ajudava a família na pastorícia e na agricultura. “A minha família era pobre. Vivi muitos anos sem água canalizada. Todas as manhãs ia buscar água à fonte e lembro-me de quando veio finalmente a água, a luz e o telefone”, conta Marisa Matias.

Para financiar os estudos e contribuir para o orçamento familiar, desempenhou várias tarefas: “trabalhei nas limpezas, limpava prédios”.  Recorda ainda que “dormia todas as noites umas duas horas”, e que apesar destas dificuldades nunca abandonou os estudos, sendo influenciada por figuras como Álvaro Febra, um comunista da aldeia que lhe transmitiu valores políticos. “Ele ensinou-me muitas coisas sobre política, sobre ditadura, sobre resistência antifascista, quando era ainda uma miúda pequena”, afirma Marisa Matias.

Em 1997, começou a trabalhar como secretária na Revista Crítica de Ciências Sociais, tornando-se investigadora em 2004. No mesmo ano aderiu ao Bloco de Esquerda, partido que considera o “projeto político-partidário mais completo” em Portugal. Cinco anos depois, foi eleita eurodeputada, iniciando um percurso de 15 anos no Parlamento Europeu, onde se destacou como ativista dos direitos humanos e que marcou a presença em movimentos cívicos ligados à cultura, ambiente e direitos sexuais.

Foi candidata às eleições presidenciais por duas vezes, fazendo história em 2016 ao obter 10,2% dos votos, o melhor resultado de sempre para uma mulher candidata a Presidente da República.

Marisa Isabel dos Santos Matias é uma feminista assumida “na teoria e na prática”, e não tem receio de utilizar símbolos como o batom vermelho, que ganhou um significado político durante a sua campanha presidencial de 2021. Na altura, após as declarações críticas de André Ventura, milhares de pessoas, incluindo famosos, usaram batom vermelho como sinal de apoio, tornando o hastag #VermelhoEmBelém viral. “O batom vermelho não me fica muito bem, mas eu uso na mesma e vou usar sempre”, afirma e acrescenta: “o batom vermelho é mais do que uma questão de estética, é um instrumento de luta política”.

Amiga declarada de Tino de Rans, a deputada também é conhecida pelo seu humor e autenticidade, admitindo que dorme apenas de t-shirt no inverno e sem roupa no verão.

Marisa Matias representa uma voz inconfundível no panorama político português, marcando presença com coragem, determinação e convicção num campo em que a luta pela igualdade, justiça e transformação social prevalece.

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