Mário Soares, de exilado a presidente: 100 anos de um ícone da política portuguesa

O “Presidente de todos os Portugueses”, ou Mário Soares, é uma das figuras mais emblemáticas da política portuguesa, nasceu em Lisboa a 7 de dezembro de 1924 e morreu em 7 de janeiro de 2017 com 92 anos, marcando agora em 2024 o seu centésimo aniversário.

Por Tiago Silva

Formou-se na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, e mais tarde, iniciou a sua carreira de advocacia, em 1957, conhecido principalmente por defender diversos presos políticos. Já a sua carreira política teve início em 1944 na Direção Académica das Juventudes Comunistas de Lisboa, e a partir daí viria a desempenhar diversos cargos importantes em diferentes governos, desde secretário até a Presidente da República, onde cumpriu dois mandatos.

A contestação ao regime salazarista começa cedo na vida de Mário Soares, o que o levou a ser preso inúmeras vezes, e até mesmo exilado. Alguns dos acontecimentos que o levaram a ser obrigado a deixar o país foi o seu envolvimento com o caso Ballet Rose, quando o socialista revelou a um jornalista do “Daily Telegraph” o envolvimento de figuras do regime numa rede de exploração sexual de raparigas menores, onde o dirigente da PIDE lhe disse: “O doutor Salazar está farto que ande a brincar com ele”.

Noutra ocasião a PIDE ter-lhe-á dito para se retirar do país em 4 horas. Soares e a sua família escolheram França como destino, mas, quando chegaram à fronteira em Elvas, já o prazo tinha terminado, contudo, foi-lhes permitida a passagem. “Foi uma das viagens mais tormentosas da minha vida. Guiaram todos e nunca parámos. Eu pensava: ‘Que vai ser da minha vida?'”, admitiu, e mais tarde, nas terras francesas cria o Partido Socialista.

Após a queda do regime ditatorial, Mário Soares volta a Portugal e disputa as eleições contra o seu principal opositor, Álvaro Cunhal, onde dispõem de um debate muito aceso e controverso entre os dois.

Em 1976 é eleito Primeiro-Ministro, foi uma peça crucial nas negociações da descolonização portuguesa, e, mais tarde, na entrada de Portugal na União Europeia. No entanto, ficou também conhecido como “campeão” de visitas oficiais ao estrangeiro, colecionando um total de 48 visitas, numa das quais foi tirada a célebre fotografia de Mário Soares montado numa tartaruga no arquipélago das Seychelles, em novembro de 1995.

No 1.º de Maio de 1975 mostrou-se oposto ao controlo do Partido Comunista Português, a celebração no Estádio 1.º de Maio, em Alvalade não deixou entrar a comitiva do PS, então Soares escolheu furar. “Atravessámos o relvado do estádio, abrindo caminho ao empurrão, ao soco e os encontrões. Em certa altura, houve alguém que pretendeu esfaquear-me pelas costas”, contou Maria João Avillez, jornalista que acompanhou a sua comitiva.

Foi candidato em 11 eleições, ganhou duas legislativas, duas presidenciais e umas europeias, onde marcaram episódios insólitos.

Na tentativa de fazer frente ao PCP, Mário Soares faz o discurso onde nasce o bordão “Soares é fixe”, e ainda na mesma campanha, visita as fábricas na Marinha Grande, onde era muito impopular e onde estava aparentemente barrado de entrar. “Chego lá, vejo aquela onda negra de gajos, tudo vestido de preto, as mulheres com cartazes a falar de fome e não sei o quê, e eu atravesso a concentração. E, ao contrário do que supunha, que não iam deixar-me entrar, eles fizeram alas e eu avancei. Mas depois fecharam as alas, fiquei quase só, com as poucas pessoas que vinham comigo, e começou tudo à pancada”, contou o político, sendo este acontecimento marco da viragem nas sondagens das eleições daquele ano.

Mário Soares, cujo centenário se assinalou este mês, veio a falecer no Hospital da Cruz Vermelha, em Lisboa, tendo estado cerca de um mês em coma profundo.

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