Fabrico de doces e licores artesanais torna-se paixão a dois

Dois casais, de diferentes zonas do país, partilham a mesma paixão: o fabrico de doces e licores artesanais. Quer num meio rural ou urbano, o objetivo destes casais é adoçar a vida dos seus clientes e amigos, através dos diversos sabores que têm disponíveis.

Reportagem de Letícia Silva

Rosa Almeida e Bruno Rodrigues vivem na aldeia de Vila Franca, concelho de Castro Daire, e vendem fruta para mercados locais há vários anos, mas foi o desperdício no final do dia que lhes deu a ideia de confecionar produtos artesanais a partir dos excedentes. O casal de 46 anos decidiu pensar numa solução para o problema da fruta desperdiçada, chegou à conclusão de que podiam começar a aproveitar essa fruta, fazendo compotas e licores. Da ideia à venda em mercados e feiras locais foi um instante.

“Ao levar os produtos para as feiras, surgiram outras ideias, como é o caso da sangria e das sobremesas de frutos vermelhos, os gelados e os granizados, aos quais a recetividade do público foi muito boa, o que nos motivou a continuar a produzir mais”, conta Rosa Almeida. A assistente operacional diz que o processo de confeção é simples: “basta colocar duas partes de fruta e uma de açúcar a ferver, até ganhar ponto de estrada. Depois é só enfrascar e tampar ainda quente”. Já em relação aos licores, falamos de um tempo mais alargado. “Para os licores, o segredo é colocar fruta, açúcar e aguardente em partes iguais e deixar a carcerar durante dois meses. De seguida é decantado e corrigido o nível de açúcar”, explica Rosa Almeida.

Framboesa, mirtilo, amora, groselha e frutos vermelhos são alguns dos sabores das compotas confecionadas pelo casal. Já os dos licores variam entre framboesa, mirtilo e amora. Em relação aos gelados e granizados, o casal também costuma aproveitar as frutas da época, de modo a tentar criar sabores diferentes.

Rosa Almeida é assistente operacional e Bruno Rodrigues é operador florestal e, apesar de a confeção dos produtos não ser a fonte de rendimento principal, são uma ajuda preciosa. “O gosto de fazer estes produtos foi adquirido quando começámos a produzir. Inicialmente tivemos a ideia, mas nunca pensámos que isto se tornasse algo que gostamos realmente de fazer”, afirma Bruno Rodrigues. “Não é uma fonte de rendimento fixa, mas é sempre uma boa ajuda. O facto de as pessoas gostarem e comprarem os nossos produtos, também nos deixa motivados para continuar a produzir e inovar”, acrescenta o produtor.

Fruta utilizada para compotas e licores

Cláudia Ferreira, 48 anos, e Paulo Ferreira, 51 anos, também se dedicam à venda de produtos artesanais. A residir em Lisboa, o casal abraçou este desafio lançado por uma familiar, que, no Natal, recebia habitualmente doces e licores feitos pelo casal. “Há muitos anos que fazíamos doces e licores, quer para consumo próprio, quer para oferecer à família e aos amigos”, explica Paulo Ferreira, polícia de profissão, acrescentando que começaram a levar este gosto mais a sério e hoje vendem com o selo Doces & Licores Artesanais e contam com novos produtos e novos sabores.

Depois do desafio lançado em 2013, o casal aceitou participar pela primeira vez na feira de produtos locais/regionais Mostra Castro Daire, que ocorreu na vila de Castro Daire. “Talvez devido à qualidade dos produtos que demos a provar a todos aqueles que quiseram, o evento foi um sucesso e foi algo que nos motivou ainda mais”, recorda Cláudia Ferreira, que mantém esta atividade a par com a sua ocupação principal: assistente operacional numa escola.

O sucesso da primeira feira fez com que o casal decidisse inovar, produzir mais quantidade e variedade e, consequentemente, participar noutros eventos daquele tipo. Desde então já passaram por certames como a Festa das Colheitas de Castro Daire, Feira Medieval da Vila de Mões, FICA Castro Daire, Feira de Artesanato de Campo de Ourique, em Lisboa, Feira de Artesanato de Queluz de Baixo, Mercado A.Ti.Tudo, na Ericeira e na Feira de Artesanato do Palácio Baldaya, em Benfica, Lisboa.

“Todos os produtos são fabricados com recurso a fruta, vegetais, ervas e especiarias de origem biológica, sem adição de corantes nem conservantes”, afirma Cláudia Ferreira.

Atualmente, o casal tem 24 referências de licores: marmelo, poejo, limão, romã, canela, tabaibo (figo da Índia), amora silvestre, framboesa, flor de sabugueiro, cereja c/ Elas, erva doce, beterraba, mirtilo, ginja c/ Elas, tangerina, alecrim, sálvia, folha de figueira, abrunho silvestre, medronho com mel, hortelã chocolate, alfarroba, café e por último, baunilha.

Licores confecionados por Cláudia e Paulo Ferreira

Paulo Ferreira conta que “a confeção dos licores tem três etapas. Primeiro é a maceração alcoólica prolongada, em aguardente vínica, das frutas/ervas/especiarias. Depois adiciona-se água e açúcar à solução alcoólica resultante da maceração, em processo de pasteurização (eliminação de micro-organismos através da ebulição). Por último é a filtragem, engarrafamento e arrolhamento em cortiça (100% nacional) e etiquetagem em papel”.

A apresentação do produto final é uma das particularidades do trabalho do casal. Ao invés de optarem apenas pelo uso de garrafas de vidro comum, as garrafas estilizadas com um design vintage são uma opção diferente e amiga do ambiente, uma vez que todas elas são recicladas.

Cláudia Ferreira conta que têm seis referências de marmelada: marmelada de marmelo, marmelada de maçã (variedades), marmelada de alperce, marmelada de kiwi e marmelada de gamboa. Já em relação aos doces, os sabores são: figo, cereja, morango, fisalis, chuchu, abóbora, abóbora chila, framboesa, amora silvestre, tomate e tomarilho.

Doces confecionados por Cláudia e Paulo Ferreira

Paulo Ferreira ainda acrescenta: “temos também geleia de marmelo e geleia de marmelo com malagueta. Como agridoces, contamos com pimento verde com azeite e pimenta preta e pimento vermelho com vinagre balsâmico. Por fim, temos o piripiri/creme de malaguetas (receita moçambicana bastante picante)”.

Cláudia Ferreira lembra que “todo o processo de fabricação sob receitas ancestrais, quer dos doces quer dos licores, é manual/artesanal e, por essa razão, sem recurso a qualquer tipo de equipamento industrial”.

O casal conta que esta atividade não é a principal fonte de rendimento, mas sim apenas um hobbie, uma vez que ambos desenvolvem atividades profissionais. Para além da venda e do consumo próprio, o casal oferece alguns dos seus produtos a amigos.

Luís Silva, amigo do casal, conta que reconhece a qualidade dos produtos que confecionam. “Não sou grande fã de licores, mas os doces e o piripiri são produtos que aprecio. Como o casal me costuma oferecer produtos, decidi que seria justo oferecer algo em troca, por isso dou alguns legumes e frutas”, refere.

“Este projeto não seria possível sem o desafio lançado pela familiar Carla Ferreira, bem como outros familiares e amigos que, ano após ano, vão oferecendo as frutas e os legumes da época, preciosas matérias-primas para a elaboração dos nossos doces e licores”, remata Paulo Ferreira.

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