Rádio Clube de Lamego, a emissora “do pastor, do padeiro, dos trolhas ou dos carpinteiros”
A Rádio Clube de Lamego é descrita por quem lá trabalha como uma rádio de companhia e sobrevivência. Um meio de comunicação local que dá voz aos ouvintes desde 1989. O diretor é Júlio Coelho e para os mais antigos ouvintes ele era quem tinha “a voz de rádio”. Situada em Lamego esta é uma das rádios mais conhecida no Interior Norte português. Atualmente são 4 os funcionários que conduzem as várias emissões ao longo do dia.
Reportagem de Luciana Soares
Sendo um meio de comunicação regional, a publicidade é a maior fonte de rendimento. Manuela Cardoso, locutora de rádio, fez três anos de formação, algumas na ARIC (Associação de Rádios de Inspiração Cristã), que lhe deram carteira equiparada a jornalista. Numa breve referência à falta de ajudas deixa assente que “não há qualquer apoio de instituições governamentais” e que a publicidade é o “suporte económico”.
Júlio Coelho é o fundador e diretor da rádio já lá vão 32 anos. Aquando da fundação, em 1989, estava Portugal a iniciar um processo evolutivo. Por esta altura eram grandes as mudanças quer na política, quer na sociedade e na economia, um processo que marcou as rádios locais, sem deixar a Rádio Clube de Lamego de fora. Nesta época eram muitas as rádios que emitiam clandestinamente, aqui surgiu o grande impulso das rádios piratas, no entanto a Rádio Clube de Lamego já era uma rádio legal.
Ao longo dos anos, a rádio foi fazendo investimentos. Foi preciso inovar em tudo até nas instalações. Atualmente as emissões são feitas pelos 4 funcionários, através dos 3 estúdios que a rádio possui, na cidade de Lamego.
Para Manuela Cardoso as rádios nacionais são para um “público diferente, para pessoas que andam mais de carro, pessoas que não querem ouvir tanta publicidade”. O grande problema das rádios regionais é que “não dão no território nacional todo”. A Rádio Clube de Lamego “tem feito um forte investimento para chegar a mais distritos”. Hoje cobre parte dos distritos de Viseu, Vila Real, Bragança, Porto e Guarda e dúvidas não faltam, de que principalmente no interior onde “as pessoas vivem muito isoladas, a radio é a companhia” e de alguma forma este feito deve-se ao facto de ainda “se meter as músicas que eles mais gostam, a música mais popularucha”.
Com mais de 30 anos de existência os programas pouco se alteraram, as manhãs começam com “Bom dia Lamego, bom dia região” um programa de 4 horas “que tem dentro uma edição dos discos pedidos”. “Bola Branca” dura cerca de 1 hora é transmitido pela Rádio Renascença e é o mais antigo programa de desporto do país. Já lá vão 30 anos em que Manuela Cardoso conduz as tardes, nas quais apresenta as efemérides do próprio dia, faz “brincadeiras com os ouvintes” e muitas vezes até dá “prémios a quem acertar as suas perguntas”. No entanto são os discos pedidos o seu programa favorito. Por dia atende a chamada, em média, de 12 ouvintes e, como explica, “primeiro entra o indicativo e o jingle para os discos”, depois “os ouvintes são atendidos no ar, dizem o que querem ouvir e fazem as dedicatórias”.
Com o evoluir dos tempos a rádio viu-se obrigada a evoluir, a tecnologia e a internet vieram trazer muitas mudanças, quer nos ouvintes quer nas pessoas que fazem rádio. A era do digital está a acontecer e nos discos pedidos já é possível fazer o pedido por email e cada vez mais é visível a adesão dos ouvintes que “pedem para ir com o email de alguém, aqui não importa a música, o importante é dedicar”.
Hugo Miguel começou na rádio em 1995, na altura dava voz aos programas da Radio Voz de Tabuaço. Em 2008 entrou para a Rádio Clube de Lamego e é quem aos sábados faz a emissão das 9 horas ao meio dia, um programa diversificado, mas “muito igual”. Nas suas palavras revela que ainda são “a rádio que é ouvida pelo pastor quando anda no campo a guardar o rebanho, a rádio do padeiro, do eletricista, dos trolhas e carpinteiros” e aqui não restam dúvidas de que a grande diferença da “rádio do carro” para a rádio regional é que “os públicos são completamente diferentes”. Apesar de não ser formado na área acredita que no que toca à comunicação “ou se nasce ou não se nasce” e refere que “há todo um trabalho a ser feito”, mas que o nascer com dom “é meio caminho para o sucesso”. Na sua opinião, os discos pedidos “são o cartão de visita para as rádios locais” porque “permitem falar com o auditório e daí que seja o programa com maior sucesso de qualquer radio local do país”.
A informação “chega a toda a hora” como conta Manuela Cardoso, muitas vezes é só preciso “confirmar e lançar”. A expressão “procurar a notícia” não acontece, pois “em segundos ela chega” e é apenas preciso fazer “o complemento dela e meter no ar”. Aqui dificilmente vão para o terreno, “só quando acontece alguma calamidade é que vamos para fora”.
A Rádio Clube de Lamego é a companhia de muita gente, é o meio regional que diz bom dia a quem está sozinho. Para muitos é o sonho tornado realidade e para Manuela Cardoso esta é a rádio com que sonhou “a vida toda”.