“O processo de escrita é, essencialmente, trabalho e rotina”

Pedro Miguel Queirós, habitualmente conhecido como Raúl Minh’alma, é o jovem escritor que tem conquistado imensos corações por todo o país e até lá fora. A sua forma simples de escrever e a paixão que sente ao fazê-lo têm sido, desde há dez anos, a sua chave para o sucesso.

Entrevista por Lígia Fernandes, Mariana Gonçalves e Tifany Santos

Como é o seu processo de escrita? Escreve um pouco todos os dias ou apenas quando ocorre alguma ideia?

Sendo escritor profissional não me posso dar ao luxo de escrever só quando estou inspirado. Quando estou no processo de escrita de um livro dedico-me em exclusivo a ele. Reservo cerca de 3 meses e dedico-me a ele escrevendo cerca de 12/13 horas por dia sendo que vou tirando algumas folgas pelo meio para poder descansar. Com ideias ou sem ideias, com vontade ou sem vontade, com inspiração ou sem inspiração durante esse periodo de tempo tenho de escrever (até porque há contratos para cumprir) e o meu trabalho é fazê-lo o melhor possível. O processo de escrita é, essencialmente, trabalho e rotina. 

Faz algum tipo de pesquisa para começar um livro novo? Se sim, como é esse procedimento?

Se o livro exigir algum conhecimento específico sobre alguma matéria sim. Faço esse trabalho prévio. Por exemplo se eu quero que algum personagem sofra de alguma doença eu busco junto de pessoas próximas que trabalham na área para me informarem acerca do assunto. Contudo, no meu caso, é um trabalho continuo ao longo do livro. Às vezes por causa de uma cena do livro eu tenho de fazer uma pausa a meio do livro para ir estudar sobre o assunto e depois então relatar a cena. O que me obriga a aprender as mais variadas coisas, como por exemplo nomes de instrumentos de maquiagem feminina ou como é que é um iate por dentro.

Qual é a sua maior inspiração para escrever?

Eu não faço uso da inspiração porque ela é um fenómeno raro. Por vezes tento é inventar essa inspiração e às vezes ver um filme, ler um livro ou simplesmente ouvir uma música são boas ferramentas. Mas acima de tudo a minha principal fonte de inspiração é a vida das pessoas e os seus testemunhos. 

De todos os livros que já escreveu, tem algum que seja o seu favorito? Porquê?

Tenho livros que marcaram a minha carreira de diferentes maneiras. Desde logo o primeiro, Desculpe Mãe, que saiu em 2011. Ninguém conhece, mas foi o primeiro livro, logo por isso especial. Depois tenho o Larga quem não te agarra que foi o meu primeiro best-seller, depois tenho o Foi sem querer que te quis que foi o livro mais vendido de 2019. Pelo menos estes 3 marcaram o meu percurso. 

Se pudesse, o que alterava nos seus primeiros livros?

Provavelmente alterava o registo porque estava muito desatualizado. Escrevia de uma forma que se escrevia há muito muito tempo atrás e os tempos mudam e nós escritores também temos de nos adaptar à época sem, claro, perdermos a nossa essência e marca pessoal.

O seu processo de escrita alterou-se ao longo dos anos?

Sim, muito. Mas à medida que fui ficando cada vez mais conhecido, chegando a cada vez mais pessoas e fazendo disto a minha vida e subsistência assim como a de muitas pessoas que dependem dos meus livros tive de evoluir também em termos de processo e de produtividade. Hoje em dia sou mais metódico e responsável a escrever. Mas conto continuar a mudar/evoluir. 

Qual é o mais difícil, escrever a primeira ou a última frase? E porquê?

A primeira. Sem dúvida. Até porque normalmente a última frase (pelo menos no meu caso) eu já sei qual vai ser, mesmo antes de começar o livro. Sei melhor como o livro acaba do que como ele começa. E depois porque no inicio custa tudo muito mais porque ainda estamos a definir quais os personagens e como é que eles são e o que é que eles fazem. A partir de metade do livro isso já esta tudo definido e só nos temos de concentrar na história e flui tudo mais naturalmente. 

Quando sofre bloqueios e não sabe o que escrever a seguir, qual é o rumo que costuma tomar para alterar isso?

Normalmente quando apanho esses “nós” (como lhe chamo) eu procuro introduzir uma cena aparentemente aleatória, só para destravar a narrativa e depois trato de a contextualizar. O que me pode obrigar, inclusive, a alterar parte da história para trás, mas é uma técnica que uso para vencer esses nós. 

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