No hospital de Viseu há “alegria, afetos e acima de tudo, boa disposição”
A Palhaços d’Opital é uma associação cultural sem fins lucrativos, que tem vindo a desenvolver um programa de intervenção dentro dos hospitais com quem tem parceria como o IPO Coimbra, o Centro Hospitalar de Baixo-Vouga (Aveiro), o Hospital Distrital da Figueira da Foz, Centro Hospitalar Tondela-Viseu e o Hospital Pedro Hispano, em Matosinhos.
Por Marta Lourenço (texto) e Sofia Pereira (audio)
Os Doutores Palhaço, profissionais com formação artística e formação complementar na área da saúde (gerontologia, geriatria, doenças neurodegenerativas…), visitam os doentes levando alegria, afetos e, acima de tudo, boa disposição, focando-se nos seniores.
O projeto já existe há 7 anos e sempre se pautou pela vontade de animar os doentes e de lhes permitir levar o melhor que há dentro de cada pessoa. Por isso, segundo Jorge Rosado, diretor artístico e co-fundador do projeto Palhaços d’Opital, é importante perceber “o que é que o mundo fora do hospital tem de melhor para oferecer para quem está nestes ambientes tão complexos.”
Jorge Rosado lembra que o seu trabalho e o dos seus colegas é baseado em muitas horas de formação, quer de voz e de instrumento musical, quer de formação humana. Contudo, sublinha que, as pessoas nem sempre valorizam e pensam que aquilo que fazem é tudo de improviso. Não é, mas por vezes também acontece.
Quando o trabalho que preparam acaba por tocar em assuntos polémicos, há sempre algum doente que fica mais sensibilizado, ou mais ofendido, e por isso é mesmo necessário dar a volta à situação, adaptarem-se e optar pelo improviso. Tocar num mesmo assunto de forma diferente para que chegue a toda a gente.
Sobre a sua experiência, o diretor artístico alega que “ao início, pessoalmente incomodava um bocadinho quando aparecia alguém que não gostava e obrigava a grandes reflexões sobre o porquê de não gostarem e o que se poderia fazer para melhorar”. Com o tempo e com a experiência, Jorge Rosado começou a entender e percebeu que “vai haver sempre pessoas que não vão gostar deste tipo de trabalho e merecem o mesmo respeito, a mesma atenção e o mesmo carinho que se dá àqueles que gostam”. E com o tempo e um trabalho bem feito, algumas pessoas que ofereciam resistência ao início, acabam por se deixar levar e entrar nas brincadeiras. “Se ela começar a ver que daquele lado há competência, empenho e há amor para dar, ela começa a abrir pequenas frechas, pequenas janelas que depois permitem essa comunicação mais tarde.”
O trabalho dos doutores palhaço é realizado em dupla, para o caso de se um dia chegarem a um quarto de um hospital e ninguém desse quarto quiser ouvir o que têm para dizer, criam uma dinâmica em triângulo, ou seja, a dupla e a pessoa, de forma a conseguir mostrar o que eles são, o que eles fazem e tentar trazer as pessoas nesse espírito de brincadeira e afeto.
A equipa tem vindo a crescer, cada novo palhaço vai trabalhar com um palhaço com mais experiência, para que se possam libertar e levar mais qualidade ao trabalho, permitindo que haja mais organização.
São cinco os palhaços, o Jorge Rosado que é o Doutor Risoto, Suzana é a Doutora Donizete Chiclete, Bea é a Doutora Bem-haja, Marta é a Doutora Milla Neza e Rafael, que está em fase de formação, será o Doutor Valente Valentão.
Alice Silva, enfermeira chefe do Centro Hospitalar de Tondela-Viseu, acha que esta experiência é uma mais-valia para este hospital. A companhia dos palhaços no hospital acaba por proporcionar momentos lúdicos, de alegria e de diversão para todos os doentes, mesmo os doentes que se encontram mais calmos e sossegados acabam por se envolver na alegria e boa disposição contagiante dos trabalhadores desta associação e por isso mesmo, a enfermeira chefe não pode deixar de referir que “um dos problemas que os palhaços acabam por ter quando vêm cá é que depois têm dificuldade em sair (…)”.
A ida da Palhaços d’Opital ao hospital de Viseu representa “muita alegria, boa disposição, momentos extremamente carinhosos e bonitos” como conta Hugo Santos do gabinete de comunicação desta unidade hospitalar e em representação da administração do Centro Hospitalar de Tondela-Viseu.
“Há uma recetividade muito grande das pessoas, eles fazem um trabalho de muita sensibilidade, e atendendo que grande parte das pessoas que está no hospital está a passar por um problema de saúde têm sempre um momento diferente, normalmente de boa disposição”, descreve Hugo Santos sobre o trabalho que vê e o que experiencia com os doutores palhaço.
Os Palhaços d’Opital já têm uma longa história com o hospital de Viseu, desde uma simples visita a uma criança que se encontrava hospitalizada, que a ligação se foi tornando mais forte e coesa, passando de visitas mensais para visitas semanais com o intuito de alegrar os dias e facilitar a estadia hospital a todo o tipo de doentes.
Contabilizadas estão 135 visitas, 1.500 horas e 15.000 pessoas visitadas em hospitais. Só não se consegue contabilizar a quantidade de amor, alegria e boa disposição que chegou aos pacientes e aos seus familiares.