No interior “somos polivalentes e o chip tem de mudar constantemente”
As grandes metrópoles, ao longo dos anos, têm crescido ao nível da informação e à presença de jornalistas face ao interior. Apesar desta evidência, para Fátima Pinto, jornalista da RTP em Viseu, a dinâmica do interior não se tem perdido, visto que, tanto na rádio como na televisão a presença das regiões não deixa de existir.
Texto de André Reis, Carla Almeida e Marta Fernandes; Áudio de Henrique Magno
Por vezes, nem sempre é fácil saber o que é importante a nível regional face à agenda nacional. Na opinião da jornalista, os jornais regionais até acabam por perder quando nos assuntos nacionais. “Eu acho que não interessa aos leitores da zona”, afirma. Quando questionada sobre a possível dificuldade em “vender” as notícias aos editores de Lisboa e Porto, Fátima Pinto declara saber o que é “passível de ser vendido”, e explica que tem sempre influência a maneira “como se pega no assunto e se transmite”.
Na sua carreira como jornalista foram vários os trabalhos marcantes, porém, em 2010 descobriu que “não tinha uma pedra no lugar do coração”, quando confrontada com um choque em cadeia onde viu tudo a preto e branco. Já em 2017 realizou o trabalho que mais a marcou, os incêndios.
Fátima Pinto aponta como regra nº 1 do jornalista o “desenrasque”, ou a capacidade de adaptação: “temos de ser jornalistas em qualquer sítio”, conclui.
Por vezes inferiorizadas, as redações regionais têm conseguido resistir aos problemas na captação do público. Contudo, a falta de pessoas no interior dificulta o trabalho dos jornalistas e faz com que as peças noticiosas se tornem mais “desafiantes e aliciantes”. “Tive peças em que tinha de andar a bater à porta das casas das pessoas para ter alguém para falar. Acaba-se por encontrar pessoas, ou no campo ou a entrar pelo lameiro e temos de ir atrás delas, temos de fazer isso que é uma coisa que se tiveres numa redação central não o consegues fazer”, conta Fátima Pinto.
Um dos grandes problemas com que as redações do interior se deparam é o económico-financeiro e a ida de jornalistas para redações regionais/locais é cada vez mais escassa. “Há muitos obstáculos no interior como o salário, mas há vantagens como a maior diversidade. Em Lisboa e Porto tu tens um trabalho mais específico”, diz a jornalista da RTP/Antena 1.
Fátima Pinto abriu as portas das instalações da RTP, em Viseu, para receber a turma do segundo ano do Curso de Comunicação Social da ESEV. À conversa com os alunos, a jornalista esclareceu alguns dos desafios que advêm da profissão, assim como, clarificou mitos comuns entre os alunos deste curso.
Já lá vão 34 anos desde que escolheu enveredar pela área do jornalismo. Sem percurso académico no ensino superior nesta área, a atual correspondente da Antena 1 e da RTP decidiu, em 1986, participar num concurso de locutores para a Rádio Clube de Viseu. Desde então, não fez outra coisa. “Ao longo da minha vida fiz várias formações, mas a formação principal, embora a universidade seja muito importante, é cá fora, no terreno”, confessa.
O percurso profissional da jornalista não saiu do ambiente local. Fátima conta que esteve uns meses na Rádio Voz de Mangualde, depois passou para a Rádio Renascença também em Viseu e, em 1994, com o fecho das emissões locais da Antena 1, foi destacada para correspondente desta emissora, mas em Aveiro. “Durante muitos anos havia uma emissão local com todo o tipo de programas. Na altura, havia separações de RTP Sul, RTP Centro, etc. Essas emissões acabaram, em 1994. Foi quando a Antena 1 arranjou correspondentes para cada distrito e eu fui para Aveiro”, explica. Após 17 anos, regressou a Viseu, onde, atualmente, continua a trabalhar nesta estação.