Minissérie brasileira “Santos Dumont” soma pontos ao fugir do cliché
“Santos Dumont”, minissérie original da HBO que estreou no passado dia 10 de novembro conta a vida de Alberto Santos Dumont, aviador e inventor brasileiro.
Por Ana Cristina Cartaxo
O primeiro episódio da trama cumpre bem o principal objetivo de qualquer episódio piloto: apresentar as suas personagens principais e definir um ritmo para as ações do enredo. Ao longo de “Le Petit Santos” as várias façanhas da personalidade de Alberto, interpretado por João Pedro Zappa, são claramente expostas. Quanto ao ritmo, o início da minissérie leva o espetador a deduzir que a mesma não será marcada por momentos de grande tensão ou situações dramaticamente surrealistas. Santos Dumont apresenta a sua história com cenas tão banais do dia a dia da personagem que poderiam quase ser consideradas aborrecidas, somando pontos por ser uma biografia que se tenta manter fiel a realidade.
Por outro lado, a produção brasileira falha na escolha das linhas temporais utilizadas para contar a história. A série conta a história através de saltos temporais voltando e avançando no tempo, exatamente como a popular série norte americana “This Is Us”. A grande diferença entre elas é que a série norte americana utiliza uma linha condutora bastante obvia para contar a sua história em diferentes épocas da vida dos seus protagonistas, enquanto que Santos Dumont faz esses saltos temporais sem incluir um elo de ligação entre eles que mostrem ao espetador que realmente faz sentido ser primeiramente apresentado a personagem na infância, depois a sua vida na França e na cena seguinte voltar a infância de Alberto no Brasil. No meu ponto de vista a história do aviador brasileiro seria mais fácil se a mesma fosse contada de forma cronológica.
Uma última questão em que a série acerta é na forma como escolhe apresentar o seu protagonista. A produção foge do clichê de apresentar Santos Dumont como um herói típico que conquista as suas vitórias devido ao seu esforço e dedicação e importa-se em deixar claro que parte do sucesso deste deve-se ao facto de vir de uma família com posses monetárias. Decisão que humaniza a personagem, invés de a distanciar do espetador, algo que acontece quando o contrário é feito. Sem receios, o enredo deixa claro que Alberto chegou onde chegou devido ao seu contato com a mecânica e as tecnologias da sua época desde uma tenra idade, algo a que não teria acesso se o seu pai, Henrique Dumont, um importante produtor de café.
Num balanço final, “Le Petit Santos” o primeiro episódio de “Santos Dumont” acerta mais do que falha, sendo uma série leve de assistir e que só não poderia ser vista por toda a família devido as escassas cenas de nudez. Assim sendo, a produção é especialmente indicada a todos os apaixonados pela aeronáutica, produções de época ou autobiografias num geral.