Atrasos nos pagamentos atingem municípios pequenos e do interior
Vários municípios portugueses têm atrasos superiores a 60 dias no pagamento de bens e serviços a fornecedores, afetando empresas locais e externas. Qual é o padrão?
Por: Flávio Fialho, Renato Rodrigues e Tomás Quinteiro
Após uma análise dos dados da Direção-Geral das Autarquias Locais relativos ao prazo médio de pagamento (PMP) dos municípios portugueses que demoram mais de 60 dias a pagar bens e serviços externos, encontrámos um padrão dominante: o problema concentra-se sobretudo em concelhos pequenos e médios, localizados no interior e em zonas periféricas do país. Os dados dos três primeiros trimestres de 2025 mostram que muitos destes municípios mantêm ou até agravam atrasos de forma persistente, com vários casos acima dos 120 e 150 dias.
Dos municípios analisados, a maioria tem menos de 20 mil habitantes. Concelhos como Mesão Frio, Sardoal, Alfândega da Fé, Belmonte, Pinhel e São Vicente, na Região Autónoma da Madeira, têm populações inferiores a 8 mil residentes, o que se traduz em orçamentos reduzidos. Em vários destes casos, os atrasos são recorrentes ao longo de vários trimestres. Alfândega da Fé, por exemplo, mantém-se acima dos 70 dias apesar de uma ligeira melhoria, enquanto Sardoal e Pinhel apresentam oscilações significativas, com picos superiores a 100 dias em 2025. Nestes territórios, qualquer atraso nas transferências do Estado tem impacto imediato na capacidade de pagamento a fornecedores.
A geografia reforça o problema. Há uma forte presença de municípios do interior Norte e Centro longe dos grandes centros económicos. Distritos como Bragança, Guarda, Vila Real, Castelo Branco, Viseu e o interior de Santarém surgem repetidamente nas listas trimestrais, refletindo uma realidade estrutural em que menor capacidade de gerar receitas próprias implica uma maior dependência de financiamento externo e maior vulnerabilidade financeira. Em alguns destes concelhos, como Melgaço, Tábua ou Santa Comba Dão, os prazos médios de pagamento atingem níveis críticos acima dos 150 e mesmo dos 200 dias, evidenciando dificuldades financeiras.
