O Aeródromo voa cada vez mais alto

O aeródromo Municipal Gonçalves Lobato, em Viseu, é cada vez mais procurado por estrangeiros, estando numa constante evolução. Apesar de períodos difíceis o aeródromo consegui dar a volta por cima.

A infraestrutura ganha importância pela dimensão regional de Viseu, em termos demográficos e económicos, e ainda pela proximidade ao Porto, Aveiro e Guarda. É um fator potencial de crescimento do turismo na cidade e na região e de atratividade de investimento.

É Manuel Carvalho, o funcionário mais antigo do aeródromo de Viseu, que todos os dias se apresenta na torre há mais de 30 anos. É o cargo de agente de informação de tráfego de aeródromos, mais conhecido por AITA, que dá identidade ao trabalhador mais experiente, que dedicou a maior parte do seu tempo a este ofício. “O que fazemos aqui é informação de tráfego, portanto o avião que vem do exterior chama-nos, nós damos as informações locais e, em função disso, escolhemos que achamos mais adequada, explica Manuel Carvalho.

O aeródromo de Viseu tem vindo constantemente a evoluir, não tendo nada a ver com aquilo que era aquando. “Tem muito mais movimento do que há 30 anos atrás. Trabalhavam apenas três pessoas, agora todos os dias quando abrimos às 7 da manhã estão aqui 12 pessoas, ou seja nada tem a ver”, afirma Manuel Carvalho.

O campo de aviação de Viseu foi, para algumas pessoas, uma nova janela de oportunidades. Que o diga Paula Lourenço, que estava no desemprego e que viu no aeródromo de Viseu uma nova oportunidade de recomeçar a nível profissional. “Estava no desemprego e surgiu a oportunidade de fazer um programa durante um ano e estive a trabalhar aqui no aeródromo, dando auxilio aos visitantes, e aos passageiros. Gostei muito, o ambiente é fantástico e como sou aqui da zona também ajudou um bocado”. Paula gostou tanto do ambiente durante o tempo que esteve a trabalhar à experiência, que acabou por querer continuar ao serviço do aeródromo. Com isso, quando surgiu a oportunidade de ir tirar um curso de AITA, a Lisboa, não pensou duas vezes e agarrou a oportunidade.

Sendo a primeira voz feminina nesta função, Paula Lourenço diz: “Um dia as mulheres vão tomar conta disto tudo”. “As mulheres ainda não estão muito presentes nesta área, apesar de já existirem algumas a desempenhar esta função. Vou ser a primeira voz feminina aqui em Viseu a dar informação de voo, o que possivelmente as pessoas vão estranhar um bocado, mas sei que vou ser bem acolhida como tenho sido até agora e como tenho sido desde que cheguei ao aeródromo”, afirma.

Paula Lourenço não foi a única a escolher a carreira de AITA. Marco Lopes largou a carreira de advocacia, porque o mundo da aviação foi algo que sempre o fascinou e tendo encontrado a altura certa para mudar, sente que se conseguiu realizar profissionalmente.

E porque ninguém nasce ensinado, foi com uma formação de cinco semanas que Paula e Marco foram até Lisboa fazer o curso. Foram semanas intensas a aprender sobre uma área muito específica e complexa. “A formação teve duração de cinco semanas, três das quais foram parte teórica e as restantes práticas, tivemos dez ou onze disciplinas desde legislação a procedimentos aeronáuticos, passando por radiotelefonia, segurança, entre outros que agora não me recordo. Foram três semanas intensivas, meteorologia também, que é muito complicado, que parece que não tem nada a ver com a aviação mas é o fator essencial”, explica Paula Lourenço.

 

Investimento na aviação

O sucesso do aeródromo de Viseu é recente. O espaço esteve prestes a encerrar em 2014 e, só depois de a autarquia local ter investido na sua reabilitação é que a procura disparou. Ao longo de 2017 consolidou o transporte regular, o transporte não regular, o movimento dos aviões de instrução, os aviões privados, as aeronaves de emergência, os aviões militares e os meios de combate a incêndios.

No início da carreira de Manuel, LAR, a empresa de ligações aéreas regionais fazia o percurso de Bragança, Viseu a Lisboa. A falta de movimentos aéreos e os problemas financeiros desta empresa levaram à sua falência e Manuel viu-se obrigado a abandonar a sua função de AITA, regressando ao trabalho de operações, auxiliando os passageiros e os visitantes no aeródromo.

Manuel Carvalho realça a importância da colaboração do comandante Paulo Soares no aeródromo de Viseu. Reconhece ainda a vasta experiência do antigo piloto da TAP e o quão fundamental ele é para o bom e melhor funcionamento deste campo de aviação. “O diretor do aeródromo atualmente é o comandante Paulo Soares, iniciou-se aqui também em Viseu, curiosamente nós temos aqui uma escola de pilotagem que Aeroclube. Paulo Soares depois foi promovido até chegar a comando, tendo sido piloto da TAP, é muito importante para o Aeródromo de Viseu termos uma pessoa como Dr. Paulo Soares uma pessoa sabia, que conhece os sítios todos, sabe a porta onde bater de facto uma peça fundamental para o crescimento do Aeródromo de Viseu”, reforça Manuel Carvalho.

As principais razões que levam os estrangeiros a entrar em Portugal por Viseu são a comodidade da infraestrutura e o quase anonimato da chegada, sem as filas de espera dos aeroportos de Lisboa, Porto ou Faro, a facilidade no estacionamento dos pequenos aviões e um preço muito competitivo do combustível para reabastecimento.

Parte do êxito dos voos regulares que ligam Viseu explica-se pela rapidez das ligações aéreas ao norte e ao sul, mas sobretudo pelo preço dos bilhetes. Com isso o comandante Paulo Soares faz uma previsão dos voos e crê que estes tenham tendência para aumenta. “Temos a expectativa que o número de passageiros a desembarcar e embarcar em Viseu irá aumentar”, explica o ex piloto da TAP.

Ao longo dos anos o aeródromo de Viseu vai ganhando potencial para uma possível expansão, a criação de um aeroporto, que poderá servir de meio-termo entre Lisboa e Porto é cada vez mais um cenário possível explica o comandante Paulo Soares. “O aeródromo de Viseu tem todas as condições, se quisermos evoluir para o próximo patamar. Também estou em crer que, com algumas adaptações e melhorias que são necessárias no que toca ao upgrade claro para um aeroporto, Viseu tem todas as condições. Do ponto de vista operacional que são aquelas que me dizem respeito, mas também do ponto de vista comercial, porque a região de Viseu é uma região que tem população, que tem capacidade para que se possa evoluir para a parte dos aeroportos porque temos uma diáspora de imigrantes muito grande que já vai na 2.ª, 3.ª e até 4.ª geração. São pessoas que vêm muitas vezes a Portugal e que se pudessem vir diretamente para Viseu não iriam, com certeza, para os aeroportos nacionais.”

Entre voos que chegam e voos que partem, para Manuel Carvalho, a chegada de dois aviões da TAP pela primeira vez a Viseu, foram os mais marcantes de toda a história do aeródromo, tendo colocado o aeródromo no mapa e nas capas de jornais.

“Já viajaram para aqui várias entidades, presidentes da república, ministros, secretários de estado, gente ligada ao Governo e aquela que me marcou mais, efetivamente, foi há cerca de um mês, quando dois aviões da TAP, pela primeira vez, vieram a Viseu: dois ATR e um deles muito especial, que foi com a seleção nacional que veio jogar a Viseu. Foi para o aeródromo muito importante de facto a vinda deste 2 voos, e Viseu passou assim para as primeiras notícias das capas dos jornais”, diz Manuel Carvalho.

O aeródromo de Viseu é, assim, uma porta de entrada em Portugal para aviões estrangeiros de ricos, empresários e jogadores de futebol.

Para além disso, a Câmara Municipal de Viseu anunciou há pouco tempo que o aeródromo municipal se encontra equipado e devidamente certificado pela Autoridade Nacional da Aviação Civil para voos noturnos, na sequência de investimentos realizados pelo município, outro fator que demonstra a constante evolução do campo de aviação de Viseu.

Outro fator que comprova isso mesmo são o número de voos que se tem vindo a realizar no aeródromo que demonstra um claro aumento ao longo dos anos. Em 2017 o aeródromo municipal de Viseu realizou 9.119 operações de voo. Em 2015, tinha efetuado 1.537 operações de voo e, em 2014, apenas 273.

 

 

Texto e imagens: André Fonseca

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