“Não há falta de crianças, há falta de professores”

A desigualdade entre o litoral e o interior do país está cada vez mais marcado pela falta de recursos. A migração para o litoral está a desertificar o interior, originando um enfraquecimento de recursos pela igualdade e equidade das crianças e jovens, visto que 40% das escolas têm menos de 15 alunos e 26% têm menos de dez. Os dados são de um estudo publicado pela EDULOG esta terça-feira e em Viseu as opiniões dividem-se.

Por: Diego Mota e Mariana Santos

Lúcia Sobral Henriques, 53 anos e professora do ensino secundário, afirma que “a falta de alunos é mais a nível do ensino básico, da pré-primária, porque relativamente às escolas secundárias estão a rebentar pelas estruturas. Isto é devido às pessoas que vieram de fora, muitas pessoas que vieram imigradas, então temos salas repletas de alunos. Pretendíamos ter salas maiores para conseguir meter tanta gente”. A professora refere ainda que está “no agrupamento de escolas de Viseu Norte e, além da escola da Abraveses” precisariam de “quase o dobro de salas para ter condições melhores de trabalho”.

Quanto ao facto de as escolas mais pequenas poderem estar a desperdiçar recursos, Lúcia Sobral Henriques defende que “não há falta de crianças, há falta de professores, e em alguns sítios, também preferem meter os meninos no privado do que no ensino público”. Ainda assim, a professora reforça a ideia de que os alunos vão chegando de vários locais: “há alunos que chegaram há 15 dias”.

Já a professora reformada Ana Loureiro, acredita que a manutenção de população e os alunos no interior, em pequenas aldeias, é importante e confirma a falta de alunos nessas zonas do país, mas não só: “Eu já não estou ao serviço, mas há muito tempo que se sentia, mesmo na cidade, a redução do número de alunos”.

A antiga professora afirma que existe uma grande falta de recursos e professores, mas nem sempre isso foi assim: “quando eu me formei, era assim uma avalanche. Entrámos muitos professores ali a seguir ao 25 de Abril, e agora estamos todos a reformar-nos. E não tem havido reposição, substituição”. Ana Loureiro reforça ainda que a falta de professores não é exclusiva no interior do país: “onde faltam mais professores até é na Grande de Lisboa e no Algarve”.

Ana Loureiro acrescenta que a falta de docentes se deve também ao aumento de alunos nas grandes metrópoles: “os pais deslocam-se para as cidades com os respetivos filhos, porque há falta de alunos e recursos nas aldeias. Os pais trazem os meninos por uma questão de facilidade. E depois, como há lá mais alunos, há menos professores, origina um desequilíbrio”.

A antiga docente finaliza com a ideia de que existem vantagens e desvantagens para os alunos dessas pequenas escolas: “numa escola pequena, se calhar, os recursos não serão tantos como numa escola grande”.  Ainda assim, Ana Loureiro não desvaloriza a influência da desertificação das pequenas localidades.

Imagem de Thomas G. por Pixabay

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