Nico Carpentier e os media comunitários no fecho do Congresso da Sopcom
Um dos momentos mais aguardados do X Congresso da Sopcom teve lugar durante a tarde do último dia: a conferência de Nico Carpentier. Sob o tema “Expanding comunication and media studies’ interdisciplinar reach – Thinking about entanglements and knots”, o professor da Uppsala University utilizou partes do seu livro The Discursive-Material Knot para, nas suas palavras “criar, o que espero ser, uma narrativa coerente”.
Começando por analisar a dicotomia entre discurso e materialismo, Nico Carpentier afirmou que ”o discursivo e o materialismo estão conectados, oferecendo a lógica do enredado e/ou do nó”. Segundo o professor, a teoria discursiva “diz respeito ao discurso sim, mas oferece uma forma particular de pensar o discurso que não diz respeito à linguagem mas à representação e à ideologia”.
Carpentier acredita que a teoria discursiva e o materialismo não devem ser vistas como opositoras, porque “se juntarem as duas teorias ficamos com algum interessante, uma família feliz. Temos de as juntar de o fazer de uma forma não hierárquica ficando ao mesmo nível de forma a completarem-se”, explicou.
O professor desenvolveu também a ideia dos media comunitários como assembleias participativas. Os media comunitários “estão estruturados a partir de um discurso particular”, que serve a comunidade e tem como objetivo ser uma alternativa aos media mainstream e ser parte da sociedade civil. Utilizando o exemplo prático de uma rádio comunitária do Chipre, a Cyprus Community Media Centre (CCMC), Carpentier revelou que esta é “uma alternativa (às rádios normais) porque é independente, verdadeira e funciona através de voluntariado”. Esta rádio tem um papel fundamental no conflito no Chipre por utilizar conteúdos relevantes e conectados com a realidade cipriota.
Para além disto, Nico Carpentier introduziu o conceito de agonismo, demonstrando que só transformando o antagonismo em agonismo é que se consegue alterar um conflito. Segundo o professor, a lógica de transformação de conflitos “aceita o conflito como uma das chaves fundamentais para a evolução social. O agonismo é reconhecer o outro como diferente, como adversário, mas, no entanto, partilhando os mesmos aspetos simbólicos”, acrescentou.
Nico Carpentier teve ainda tempo para apresentar um projeto seu, que será apresentado na exposição Respublika!, a partir do próximo dia 8 de dezembro, e que traduz os princípios dos media comunitários na prática criativa, mostrando projetos de arte que “utilizam mecanismos participativos para produzir projetos de arte” completou o orador. Carpentier mostrou algumas fotografias que estudantes da Escola Superior de Viseu tiraram durante um passeio com o professor à cidade de Viseu e que serão integradas neste projeto.
Professor de Media e Estudos de Comunicação, no Departamento de Media e Informática da Universidade de Uppsala, na Suécia, Nico Carpentier participou no Congresso da Sopcom e referiu que juntar investigadores “é a parte mais importante de uma conferência”. “Estou muito agradecido por terem tornado isto possível”, rematou.
Texto: Rafaela Sousa
Imagem: Sandra Dias