A importância da “igualdade na diferença” para Noémia Malva Novais

A busca pela igualdade é o que define Noémia Malva Novais, atual assessora de imprensa na ANMP (Associação Nacional de Municípios Portugueses). Defensora da máxima “temos direito à diferença”, a jornalista nunca foi de tratar temas que estivessem na agenda, motivo que lhe valeu, em 2013, a menção honrosa no Prémio de Jornalismo e Direitos Humanos e Integração pela UNESCO com a grande reportagem “Muito Mais Que Um Corpo”.

Por Luís Silva

A utilização da comunicação como ferramenta de inclusão é ainda muito desvalorizada no meio jornalístico. Foi com o objetivo de dar voz e de contribuir para a inserção de minorias na sociedade que Noémia Malva Novais decidiu, em 2012, abordar numa reportagem um tema ainda tabu: a transexualidade. Adepta de um jornalismo inclusivo, a assessora de imprensa considera que, para marcar a diferença nesta profissão, é essencial possuir uma mente aberta. “É importante que os jornalistas agarrem estes temas, sem preconceito”, completa a jornalista. A ideia para este trabalho jornalístico surgiu em consequência de “uma polémica sobre Coimbra querer criar uma unidade no SNS para a mudança de género, isto porque havia pessoas que não compreendiam que o Serviço Nacional de Saúde pagasse a mudança de género”, explica Noémia Novais.

O testemunho de João Pedro, nascido com o nome de Ana Rita, na grande reportagem “Muito Mais Que Um Corpo” teve a capacidade de demonstrar a realidade das pessoas transgénero, em Portugal, e marcou a vida da jornalista até hoje. “Sinto que estou no corpo errado” foi a expressão mais ouvida por Noémia Malva Novais. Utilizada por associações e médicos para sensibilizar pais que têm filhos transsexuais, a reportagem não foi bem aceite de início. “Fiz a proposta de tratar o tema e o chefe de redação na altura não achou muita piada e não aceitou”, admite a ex-jornalista da TSF. Movida pela persistência e por considerar ser importante “dar espaço de antena” a um tema que ainda esconde preconceito, Noémia Novais conquista a publicação depois do assunto ter despertado interesse no subdiretor do meio de comunicação para o qual trabalhava. “O que interessava era a mensagem a passar aos ouvintes”, completa.

Para a jornalista, a ideia de que “somos todos diferentes e temos direito a essa diferença” manifesta-se para além do tema da transexualidade. Também o feminismo ocupa uma parte importante da sua vida, apesar de ter demorado a percebê-lo como tal. “Enquanto existir uma mulher que é oprimida, maltratada, que não é tratada com igualdade perante a mesma condição que o homem, é fundamental haver o Dia da Mulher”, explica Noémia Malva Novais. A seu ver, os homens e as mulheres não são iguais, mas têm os mesmos direitos e deveres. Para ilustrar esta visão de “igualdade na diversidade”, a também escritora apresenta a metáfora do mundo como uma maçã. “É como se o mundo fosse uma maçã, os homens são metade da maçã e as mulheres são a outra metade. Cada um é uma metade do mundo e se nós todos pensássemos desta forma tudo era muito mais harmonioso”, esclarece.

Sendo a atividade jornalística o que preenche Noémia Malva Novais desde os tempos do secundário, a decisão de ingressar numa carreira como assessora de imprensa, em 2014, colocando de lado o jornalismo, foi muito difícil e algo com que ainda hoje não convive bem. “Na altura estava a acompanhar o processo Face Oculta e a ANMP queria um consultor em permanência em Coimbra”, conta. Embora pudesse colocar em prática tudo o que havia aprendido no seu doutoramento e a nível financeiro se sentisse mais realizada, a jornalista considera este último fator agridoce. “Infelizmente, a assessoria de imprensa é melhor remunerada do que o jornalismo, e esse é um grande problema em Portugal. Perdemos bons profissionais para outras áreas porque não conseguem sobreviver com o que ganham como jornalistas”, aponta a consultora de comunicação.

Apesar de atualmente estar afastada do jornalismo, Noémia Malva Novais considera que sempre será uma jornalista e deixa um conselho aos profissionais mais novos ou com menor experiência. “A função do jornalista é olhar para os acontecimentos com olhos críticos e perguntar o que não foi dito”, adverte. Para além disso, finaliza argumentando que deveria haver um posicionamento mais crítico por parte dos profissionais da comunicação. No entanto, o que acontece é que o escrutínio é cada vez menor e a manipulação jornalística recorrente.

Autocaracterizando-se como uma pessoa de causas e que gosta de aprender, Noémia Malva Novais revela que o maior ensinamento que já recebeu foi que “quem sabe de jornais são os leitores”. Por este motivo, a atual assessora de imprensa defende que os seus trabalhos jornalísticos devem incidir em temas e assuntos que interessem, de facto, a quem os lê.

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