Grupo Desportivo de Boassas: “uma equipa guerreira que não baixa os braços”
Sete anos depois, o Grupo Desportivo de Boassas volta aos relvados com um novo nome: Associação recreativa cultural e desportiva de Boassas (ARCD de Boassas). A equipa de Cinfães disputa o Campeonato da 1.ª Divisão da Associação de Futebol de Viseu e promete mais garra e determinação pela luta de um futebol justo e melhor a nível regional.
Reportagem de Ana Pereira
O grupo desportivo foi criado a 31 de março de 1977 e em 1982 o grupo desportivo subiu de divisão, sob a direção de Manuel Penteeiro, um homem que vivia o futebol e lutou sempre até ao fim dos seus dias por um Boassas melhor, tal como afirma o atual presidente, António Filipe. Na época 88/89, o clube ficou em segundo lugar na competição distrital, a melhor classificação ao longo de todos os anos. Segundo o ex-jogador do Boassas, Fernando Moura, a essência do futebol começa em campos sem relvado e “sair de um jogo cheio de lama é um orgulho”, pois estão a lutar para não deixar morrer o futebol regional.
De facto, o ARCD do Boassas é um dos dois clubes da região de Viseu que ainda joga num campo pelado. O outro clube de futebol que luta por um campo sintético é o Alvite, da freguesia de Moimenta da Beira. Segundo o presidente do Boassas, um dos principais objetivos do clube é substituir o campo pelado por um campo sintético, mas devido a dificuldades financeiras do clube, esse objetivo está longe de ser cumprido.
“Até faz sentido que os pelados deixem de existir, nós vamos trabalhar por tudo, pois uma coisa que queremos é continuar a utilizar o campo do facho, pela história que tem, pela ligação que tem à aldeia e população e se conseguíssemos fazer uma requalificação, era excelente. Caso contrário, se não conseguirmos, mais tarde ou mais cedo vamos ser obrigados a jogar num campo sintético e temos de resolver esta situação, o clube não vai deixar de existir por causa desse motivo”, sustenta António Filipe.
O treinador, Tiago Cardoso, afirma que “jogar num pelado não é para qualquer um”. Quanto à requalificação, considera que seria importante para a conquista de novos jogadores, “pois nem todos querem jogar no clube devido as condições do campo de futebol”.
Todos os jogadores lutam para levar o clube a um bom porto no futebol. O capitão da equipa, Bruno Correia, mais conhecido por “Brokas”, é o jogador mais velho e considera que a paixão pelo clube o motiva a cada jogo.
“Quando a nova equipa técnica chegou ao clube, o principal objetivo era criar pequenos alicerces, que fizessem que nos cada vez fossemos maiores. E ao criar pequenos alicerces muitas vezes, tem muito que se lhe diga por exemplo com a mudança de alguns jogadores temos de criar pequenas estruturas para não criar abalados na equipa. Para criar um grupo com bases equilibradas para lutarem por um lugar melhor na classificação”, explica o presidente do clube.
“Aquilo que move qualquer clube desta dimensão, qualquer clube desta realidade, é o amor pelo futebol e o amor pelo clube. Não é o dinheiro, não é conhecimento, isto é paixão pelo futebol nua e crua”, diz Tiago Cardoso. O treinador da equipa acrescenta que são esses os valores que querem transmitir às futuras gerações, “para não deixar morrer este futebol, que ajuda a criar melhores cidadãos, melhores pessoas e promove muito daquilo que são estes meios mais rurais”.
“Ser do Boassas é ser guerreiro”
“Ser do Boassas é ser guerreiro, é saber lutar contra todas adversidades que temos e são muitas”. Quem o diz é José Ribeiro, sócio e ex-jogador da equipa. “Somos uma equipa pequena e em crescimento, somos uma equipa com condições peculiares, somos uma equipa que tem dificuldades financeiras, mas acima de tudo somos uma equipa guerreira, uma equipa que não baixa os braços”, sublinha. O ex-atleta considera que direção, jogadores e adeptos já estão habituados a lutar e têm uma motivação comum: “levar o Boassas a outros patamares e fazer do Boassas um clube maior”. Para José Ribeiro, esta é “uma missão muito trabalhosa”, mas na qual todos estão empenhados.
“Ser do Boassas, não é ser quando tem grandes vitorias, quando andamos no topo, mas sim é ser persistente, ter muito amor pelo clube seja nas boas alturas como nas más”. Fernanda Mendes, adepta do clube e habitante da aldeia do Boassas, confirma assim o apoio à equipa: “uma coisa que sempre aprendi aqui no Boassas foi persistência, amor e dedicação. Ser Boassas é isso não desistir e continuar até ao sucesso máximo”.
“Boassas não pode ser só futebol”
A direção e a equipa técnica têm uma ligação muito próxima e têm objetivos comuns e muito vincados para seguirem um caminho de glória na jornada.
Os próximos desejos da associação passam por crescer, independentemente de como termine a época. Tornar o grupo cada vez mais unido e transformar o campo pelado num sintético é outra das metas. além disso, a associação não quer ser apenas conhecida pelo futebol, mas também por outras áreas. Segundo a associação, estão a ser desenvolvidos novos projetos, nomeadamente atividades de zumba com os habitantes da aldeia e também festas para trazer animação à população e atrair pessoas mais jovens para a aldeia mais histórica do concelho de Cinfães.
De acordo com o sócio, Arménio Pêlos, “o grande desejo é que o Boassas seja um instrumento de união na aldeia, que que seja o exemplo para outras regiões do país”. O adepto considera que “não é fácil ser um clube desportivo, numa zona do interior”, mas “um clube de futebol não é apenas futebol e o Boassas não pode ser só futebol”. Arménio Pêlos não tem dúvidas: “todos nós queremos ver o clube a crescer, mas também a aldeia de Boassas, melhorando qualidade de vida dos moradores e assim dando a conhecer esta aldeia com bastante história”.