Chegar a Casa: O drama do divórcio e do regresso a casa (de partida)
Chegar a Casa é uma série luso-espanhola que explora o drama do divórcio e mostra como o evento muda a vida, não só dos dois protagonistas, mas de todos os que, de qualquer forma, fazem (ou virão a fazer) parte da vida deles.
Por Kevin Santos
Realizada por Sérgio Graciano, Chegar a Casa junta atores portugueses e espanhóis, num choque entre duas realidades diferentes. Somos confrontados, logo no primeiro episódio, com a dicotomia cidade/aldeia (ou campo). Em Espanha (Santiago de Compostela), “um mês antes” da ação podemos observar um cenário urbano, com a família a viver num apartamento e o casal a trabalhar numa empresa. Em Portugal (Arcos de Valdevez), por outro lado, ‘vivemos’ o ambiente de campo, de uma pequena aldeia típica do norte do país.
A trama começa com a receção de Rosa (Rosa do Canto) e Eduardo (Alfredo Brito) à sua filha, Marta (Joana Seixas), e aos seus dois netos, Xavier (Rodrigo Tomás) e Filipe (Duarte Melo), que estão de regresso a Portugal, após o divórcio. Marta e Cayetano (Miguel Ángel Blanco) eram casados há 18 anos, mas o espanhol apaixonou-se por Lola (Sara Casanovas) e decidiu terminar o casamento. Durante o episódio somos apresentados a várias outras personagens, como o canalizador Nuno (Rúben Gomes), a amiga Cátia (Anabela Moreira), o médico Luís (Rui Melo) e a sua filha Sofia (Leonor Vasconcelos).
A introdução da série é muito bem conseguida, com a passagem de imagens de grande qualidade e com uma variedade de planos muito interessante, é cativante. O primeiro episódio apresenta duas sequências temporais diferentes, o que, por vezes, se pode tornar maçador (por vezes, pensamos “mas isto aconteceu ou está a acontecer?”). As analepses e prolepses podem ser muito agradáveis na construção fílmica/de séries, mas nem sempre são construídas da melhor forma. Em Chegar a Casa, apesar dos primeiros avanços e recuos serem agradáveis, há um uso abusivo destes recursos neste primeiro episódio.
A série transmitida pela RTP e pela TV Galicia é muito eficaz no retrato do ambiente típico de uma pequena aldeia portuguesa. Os planos no exterior são fantásticos, os diálogos são realistas e somos mergulhados na ação que se desenrola diante dos nossos olhos. Sentimo-nos na aldeia, sentimos as emoções das personagens (algo que acontece durante todo o episódio). O retrato do povo português é tão exato quanto a atuação dos atores é brilhante ao nível emocional.
Quanto aos planos, desta feita os interiores, não estão particularmente bem conseguidos. Apesar de alguns planos serem inovadores, talvez até para contornar eventuais problemas de espaço, a inovação nem sempre significa que é algo de qualidade. Neste caso, há planos em que personagens que entram na ação (ou no diálogo) não surgem na imagem, algo que não é apelativo, pelo contrário. Por fim, o argumento é inteligente, eficaz, mas um tanto previsível, em diversos momentos. A previsibilidade, contudo, é alternada com elementos de humor subtil, que prometem provocar gargalhadas até às pessoas mais sérias.