O poder da internet
Durante a última semana, vários youtubers foram expostos por um hacker, que veio revolucionar o mundo dos digital influencers, acusando-os de burla, entre outros crimes.
Por Kevin Santos
O hacker, conhecido como redlive13, conta com o apoio de outros youtubers, como MedHug (Hugo Medeiros), e acusa Windoh (Diogo Figueiras) de vender um curso de investimento em criptomoedas que não passa de um esquema que visa o enriquecimento do youtuber. Depois de hackear o website da Black Network, empresa de Windoh, redlive13 afirma que toda a informação transmitida aos compradores pode ser facilmente encontrada, com recurso à Wikipédia. Windoh é ainda acusado de aliciar os seus seguidores, muitos deles menores de idade, a entrar nestes esquemas, através de informações que não representam a realidade. O vídeo em que Diogo Figueiras afirma que investe em criptomoedas desde 2015 foi, entretanto, retirado da sua conta YouTube.
As acusações não param por aqui. Numeiro (João Barbosa) e David GYT (David Soares), entre outros, também foram visados pela exposição de redlive13. Numeiro é acusado de promover grupos de tips de apostas desportivas, que prometem grandes ganhos e apresentam um saldo negativo de cerca de 6 mil euros em poucos meses (no caso de um indivíduo que fizesse todas as apostas sugeridas). João Barbosa é ainda acusado de promover casas de apostas que não estão licenciadas e autorizadas em Portugal, assunto já explorado por uma reportagem da Rádio Nascença em 2019. Já David GYT, o ‘rei’ da Forex em Portugal, é considerado o tubarão por trás de todos estes esquemas relacionados com os mercados financeiros. David tornou-se um digital influencer e criou ligações com Windoh (e Numeiro, que tencionava lançar um curso semelhante ao de Windoh) e espalhou a sua influência sobre os mercados de trading e consulting. O líder da Global Youth Trading é acusado de ser especialista, não nos mercados financeiros, mas em burlar jovens, aliciando-os a entrar em vários esquemas de pirâmide. Cada indivíduo terá de pagar algumas centenas de euros para entrar nestes esquemas, que levam ao enriquecimento dos influencers.
Todos estamos familiarizados com os estilos de vida apresentados por estas celebridades dos tempos modernos. Grandes carros, viagens a destinos de sonho, roupa de marcas extremamente cara… estilos de vida marcados pela ostentação e que servem de modelo ilusório para aliciar o maior número de jovens a aderir aos seus esquemas. Legais ou não, uma vez que a legislação em Portugal está pouco desenvolvida neste setor (internet, mercados financeiros…), este caso vem expor o real poder da internet. A internet tem o poder de nos levar ao topo, mas também nos pode levar ao fundo do poço. Um poder que não deve ser subestimado e que já vimos em ação no passado (o caso do youtuber SirKazzio).
Na minha opinião, o caso está a ser tratado de forma errada por parte da comunicação social, que teima em apontar o dedo a apenas um dos visados, Diogo Figueiras, uma espécie de ‘bode expiatório’ deste caso. A verdade é que Windoh pode não ter cometido nenhuma ilegalidade. Porém, não tenho dúvidas que o seu comportamento é pautado por uma assustadora falta de ética e consideração pelo (seu) público. No entanto, foi o único dos visados a vir a público, a dar cara no meio do caos que o(s) assombra.
Numeiro, David GYT, Cláudio André e todos os outros visados, continuam em silêncio e ausentes das redes sociais. A comunicação social deve redirecionar as suas atenções. A justiça portuguesa deve investigar todos os digital influencers e devem existir mais leis, maior legislação, relativamente aos mercados financeiros e ao ciberespaço. E é claro, se o YouTube em Portugal “não dá assim tanto dinheiro” (palavras de Windoh), a justiça portuguesa tem de perceber de onde surge o dinheiro que sustenta os carros desportivos e as viagens exuberantes.
Imagem de TheDigitalWay por Pixabay