Um Carnaval que começa 20 dias depois da passagem do ano

Na pequena aldeia de Alhões, concelho de Cinfães, o Carnaval é diferente e os poucos jovens que ainda lá habitam não deixam cair por terra a tradição. Em Alhões, o Carnaval começa no dia 20 de janeiro e prolonga-se até ao propriamente dito, “Dia de Carnaval”.

Por Mónica Costa

Dita a tradição que apenas os homens se podem “enfarrapar” quando chegam aos 16 anos. Todos os rapazes com idades inferiores têm de fugir dos enfarrapados, pois se forem apanhados são fechados numa corte, das vacas ou cabras, local de onde têm de tentar escapar ou esperar por alguém que os vá salvar. Por norma os pequenos fugitivos são salvos pelos donos dos animais quando estes retornam ao final do dia do pasto. No que toca às raparigas, estas devem ter muito cuidado para não serem molhadas, enfarinhadas, ou enfarruscadas pelos mascarados.

Os mascarados da pequena aldeia estão divididos em três grupos. Os ‘farrapões’, que vestem roupas velhas, fatos de macaco, fatos de oleado, mantas, cobertores, no interior das quais são colocados farrapos, palha e outras coisas para assim parecerem mais gordos e o recurso a “marranicas” serve para disfarçarem ao máximo a sua identidade. Para taparem a cara utilizam caretas, panos, meias, capacetes ou sacos de serrapilheira.

Farrapão

Muitos deles até o caminhar disfarçam, para não serem reconhecidos nem pela própria família. Andam com ferros, enxadas, ganchos, forquilhas ou pás. Tudo isto é pensado ao pormenor para meterem ainda mais medo. Os ‘mascres’, considerados os mais bonitos, tapam a cabeça com um lenço bordado à mão pelas mães ou namoradas e a cara com uma renda, vestem um saiote nos ombros e à cintura trazem uma correia das vacas. Cobrem lindos chapéus de palha com papel colorido, serpentinas, ramos de flores, balões, rebuçados, bombons, pastilhas e bolachas.

De acordo com relatos de anciãos, os chapéus eram cobertos pelas namoradas, e neles eram colocados todos os ramos que lhes teriam sido oferecidos pelos namorados na festa de são Pelágio, e que estas tinham guardado cuidadosamente, para depois em segredo oferecerem o chapéu decorado aos namorados, no Domingo Gordo. Este segundo grupo protege as raparigas dos Farrapões e dá guloseimas às crianças.

Mascres

As ‘madames’, terceiro grupo de mascarados, correspondem aos rapazes que se vestem com roupas de mulher, usam um lenço na cabeça e uma reda na cara, bem como perucas. Colocam vestidos, saias e blusas, das mães ou namoradas. Esta brincadeira acontece todos os domingos desde o dia 20 de janeiro, bem como na segunda e terça feira de Carnaval. Não quer isto dizer que não possa acontecer noutros dias, por exemplo quando neva não há escola e há sempre alguém que se lembra de “botar uma farrapada”.

Madame

A tradição de Carnaval não fica por aqui. Há ainda o dia das comadres e dos compadres. As comadres e os compadres são bonecos feitos de palha, papel de jornal e serpentinas. As raparigas ‘fazem’ os compadres, que tentam queimar no dia das comadres. Para que tal não aconteça, os rapazes andam pelas ruas da aldeia com água para os tentar salvar. Depois é a vez dos rapazes construírem as suas comadres para também eles as tentarem queimar, no dia dos compadres.

No último dia de Carnaval há pelas ruas de Alhões um desfile, onde já é permitido a todos usarem disfarces, rapazes e raparigas, dos mais novos aos mais velhos. Durante o desfile os mascarados andam de casa em casa, onde as pessoas oferecem comida, presunto, salpicão, chouriça, entre outras e principalmente bebida, vinho do porto, cerveja, sumos e licores.

Terminada a caminhada pela aldeia, é dado o Carnaval por terminado.

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