Salve-se quem puder
Por Kevin Santos
A vacina contra a covid-19 começou, no dia 8 de dezembro, a ser administrada no Reino Unido. Foram dados os primeiros passos de uma longa maratona. O princípio, espero, do fim desta pandemia.
O programa de vacinação foi iniciado após a aprovação da vacina Pfizer/BioNTech. Parece, portanto, que a Pfizer e a BioNTech acabaram por ganhar a corrida à vacina. Pelo menos é a primeira, visto que a União Europeia já tem acordo com seis vacinas (entre elas, a AstraZeneca, a Sanofi-GSK, a Johnson&Johnson e, é claro, a Pfizer/BioNTech). Países como Portugal, Espanha, Itália e companhia esperam receber as primeiras vacinas em janeiro de 2021 e pôr em prática os planos de vacinação, de forma a imunizar as suas populações.
Houve uma corrida à vacina, em que o mais importante parece ter sido esquecido, a verdadeira e real eficácia. A corrida, como diz Miguel Castanho, investigador do Instituto de Medicina Molecular, devia ser pela melhor vacina e não pela vacina mais rápida. A vacina da Pfizer foi, como disse, a mais rápida, mas será a melhor? Não sabemos. E a verdade é que já está a ser administrada no Reino Unido e, em poucas semanas, o resto da Europa irá seguir os mesmos passos. Como diz o investigador, “vamos apresentar-nos para ser vacinados e logo se vê qual vacina que lá está”. E eu acrescento, “e logo se vê quais os efeitos que ela vai ter”. Parece que o mundo está a precipitar-se, de forma algo compreensível, é claro. Mas eu, como cidadão comum posso ser precipitado. Os grandes poderes não.
A corrida para ser o primeiro a desenvolver a vacina chega, aos poucos, ao seu fim. Agora assistimos uma outra. A corrida à imunização das populações. Sim, “das populações”. Ou seja, agora é ‘cada um por si’. Cada país tenta garantir doses da vacina para imunizar a sua população. Não falamos da população a nível mundial, mas das populações dos países que podem e querem. E os outros?
António Guterres, secretário-geral das Nações Unidas alertou para o fenómeno da corrida à imunização, que designa “vacinismo”. A vacina devem ser um “bem público global”, mas os países mais ricos (ou os seu líderes) não querem saber, querem é saber dos ‘seus’. O Reino Unido, Canadá, Estados Unidos da América e muitos países da União Europeia são perfeitos exemplos que espelham este egoísmo. Se alguém acreditava que a pandemia vinha mudar alguma coisa… pois, começa a ser muito difícil acreditar em mudança.
E África? E a América do Sul? E os países mais pobres e desgovernados? Quando vai chegar a vacina a esses países? A covid-19 é um problema do mundo e, neste momento, estamos a combatê-la como se fosse um problema de cada país, de cada um… é um autêntico ‘salve-se quem puder’ e quem não pode… quem não pode está condenado a esperar mais que os outros (como sempre).