Porque continuamos à procura do que já temos?
Nenhum Homem pisou a superfície da Lua desde dezembro de 1972 e a NASA pretende ‘quebrar o jejum’ em 2024.
Por Kevin Santos
Os norte-americanos preparam a primeira fase de um projeto que visa a criação de uma base humana permanente na Lua e a Nokia anunciou, no passado dia 19 de outubro, que é a empresa eleita para instalar rede 4G no satélite natural. A empresa de telecomunicações finlandesa vai receber 14.1 milhões de dólares para desenvolver a tecnologia, que será instalada em 2022.
O projeto Artemis poderá custar, na sua totalidade, entre 20 e 30 biliões de dólares. Mas afinal, que importância tem a exploração espacial para o Homem e porque se gasta tanto dinheiro com isto? E para que servirá esta base na Lua?
A exploração espacial tem, como tudo na vida, um lado positivo e um lado negativo. É óbvio que precisamos das missões espaciais para, por exemplo, chegar aos vários satélites que nos fornecem sinal de televisão, internet e telefone, que permitem o estudo das variações climáticas ou que permitem o funcionamento dos GPS.
Para além disso, as aventuras espaciais (ou a tentativa) potenciam o desenvolvimento tecnológico. São inúmeras as tecnologias desenvolvidas para o espaço, mas que acabam por ‘cair’, por exemplo, no bolso do mais comum dos cidadãos. Sim, nos nossos bolsos. Hoje em dia, todos os smartphones têm câmaras e foi Eugene Lally, do Jet Propulsion Laboratory (NASA), que lançou as bases para que, 30/40 anos mais tarde, fosse possível termos estas câmaras minúsculas, com uma enorme qualidade de imagem. Mas a verdade é que o desenvolvimento tecnológico fomentado pela exploração espacial não justifica os biliões de dólares gastos, porque podemos argumentar que até a Fórmula 1 contribui para o desenvolvimento tecnológico. A verdade é que as mais variadas ciências e indústrias contribuem para o desenvolvimento tecnológico, com gastos muito inferiores.
No dia 20 de julho de 1969, Neil Armstrong tornou-se o primeiro homem a pisar a superfície da Lua. Esta parte da história todos sabem. Assim como sabem da corrida espacial, entre EUA e URSS, durante a Guerra Fria. O que talvez não saibam é que o projeto Apollo custou 25.4 biliões de dólares (cerca de 152 biliões, de acordo com o valor atual do dólar). Tudo para ser o primeiro. Digo isto, porque depois dos anos 70 houve um desinvestimento brutal na NASA. Porém, há mais empresas e projetos espaciais a dar e receber investimentos. Talvez não sejam financiados por dinheiro de impostos, como no caso da NASA (organização governamental norte-americana), mas a verdade é que continuam a ser gastos biliões de dólares.
E para que servirá a base na Lua? Para manter a ilusão da exploração das condições de vida em Marte? Mas porque teimamos em procurar algo no espaço? Eu também me confesso fascinado pelas missões espaciais, mas porquê esta obsessão? O argumento que mais ouço é: “é a natureza do Homem, explorar”. Estão muito enganados, a natureza do Homem é destruir. E o irónico é que, talvez, a razão desta obsessão por encontrar uma nova casa, é sabermos que, mais tarde ou mais cedo, vamos destruir a nossa.
Eu não sou contra as viagens espaciais, não me interpretem mal, parte delas são necessárias. Sou, sim, contra a ilusão de explorar o espaço em busca de um planeta com vida ou com as condições ideais para tal. Nós não precisamos de um planeta ideal, já o temos. E o redireccionamento destes (e outros) investimentos poderia ajudar a preservá-lo.
Imagem de chriscalderwoo1 por Pixabay