Artes Marciais: desporto, auto-controlo e escape à rotina
Um desporto não tão conhecido, mas praticado por todas as gerações, Kenpo americano é uma arte marcial, que proporcionam maior facilidade de movimento e durabilidade para aqueles que desenvolvem as suas habilidades. As artes marciais são chamadas de caminho, em japonês, karaté o caminho das mãos vazias. É uma luta de defesa, em que o lutador só conta com a própria força contra o inimigo. Já o kickboxing, para além de fazer parte de um estilo de arte marcial, é também um desporto de combate, que faz uso de técnicas de pernas e punhos.
Por Ana Filipa Costa
Carlos Costa com 49 anos de idade é agente da GNR e Mestre/Instrutor de Kenpo e Kickboxing na Associação de Kenpo e Kajukenbo de Viseu. O responsável pela criação da AKKV esclarece as diferenças, em que o Kickboxing é mais físico e o Kenpo mais mental. O mestre admite que tenta canalizar os praticantes, numa primeira fase e sobretudo quando são mais novos, para o Kenpo. Só mais tarde vão para o Kickboxing porque no Kenpo aprendem a movimentar-se mais rapidamente e ter mais disciplina.
Uma opção de vida que muitos portugueses procuram é praticar desporto, e o leque de escolhas que se apresentam é bastante alargado.
“Tivemos algumas nuances, dado que começámos num karaté mais nipónico, com o mestre geral Valter mas entretanto passámos para um Kenpo híbrido, que ia beber muito ao Kung Fu mas não estava de todo agradado com esse tipo de defesa pessoal, dado que também sou agente de GNR, achava que as formas de defesa pessoal que existiam no programa não eram as adequadas para que as pessoas se pudessem defender na rua com efetividade. Entretanto fui tomando conhecimento e fui participando em alguns eventos de Kenpo Karaté, na linha do mestre Parker, o que me agradava mais e o que acho que seja uma arte marcial bem mais virada para a rua, para a defesa pessoal e para além disso efetiva.”
Carlos Costa, 49 anos, Agente da GNR e Mestre/Instrutor de Kenpo e Kickboxing na AKKV.
Tradicionalmente, desde muito pequenos, que é incutido às crianças, a prática do futebol. Por influência do que via na televisão ou por “sonhos” de um familiar, entrava como que por instinto no mundo do futebol. Hoje temos uma maior oferta de tipo de desportos e existem milhares de portugueses que preferem praticar desportos de combate.
Segundo a reportagem da Magazine Kombat Press, exibida no Sporting TV, César Silva, promotor do Festival de Artes Marciais e Desportos de Combate, afirma que existe um balanço extremamente positivo e que a capacidade organizativa se revelou, no facto de conseguirem juntar quase seis mil pessoas, em três dias. Atletas de várias modalidades que estiveram presentes no Festival de todos os pontos do país, onde o objetivo da interação marcial entre todas as modalidades foi sucedido.
Carlos Alexandre Costa e Sara Costa foram levados pelo pai, Carlos Costa, desde muito cedo, para o ginásio e com isso surgiu a paixão indiscutível por esta arte.
“Nestes últimos anos tem crescido bastante, o Kickboxing, a parte mais desportiva, assim como Kenpo, o Karaté e o Judo. Pudemos ver algumas reportagens e destaques dado pela comunicação social a estas artes marciais, o que ajuda bastante o desporto em si.”
Carlos Alexandre Costa, 23 anos, Instrutor da AKKV,
As artes marciais ajudam no autocontrolo e no escape à rotina de muitos. É uma ajuda para esquecerem os problemas de fora e deitarem tudo cá para fora, tudo pela força de um murro ou pontapé contra um saco de boxe.
“Este desporto ajuda a nível psicológico, conseguimos deitar tudo cá para fora, com as aulas e com os treinos, e conseguimos sair da rotina diária.”
Sara Costa, 20 anos, Instrutora da AKKV
A Associação
Num pequeno pavilhão situado em Orgens, a Associação de Kenpo e Kajukenbo de Viseu (AKKV) difunde desde 2005 a prática de artes marciais e desportos de combate em Viseu. Sob direção do mestre Carlos Costa, a AKKV nasceu num ginásio existente junto à Escola Secundária Emídio Navarro, com o objetivo de ser um meio para que as pessoas pudessem aprender e aperfeiçoar uma arte marcial. Atualmente a AKKV conta, mais ao menos, com cinquenta sócios, que simultaneamente atletas e que, duas a três vezes por semana, treinam os dotes nas modalidades de Kenpo e Kickboxing. O Kajukenbo ainda não tem, para já, qualquer atividade, mas está para breve uma criação de uma classe.
“Nós estamos a trabalhar, em Viseu, desde de 2005. Começámos num ginásio junto à Escola Secundária Emídio Navarro. Fui substituir um instrutor meu, o mestre João Loio, que me perguntou se eu queria ficar a dar aulas de Kickboxing, nesse ginásio. Eu achei engraçado, apesar de ainda não estar a residir aqui em Viseu e tendo algum cuidado porque achava, e ainda acho que, não estava à altura, do mestre João. Logo na altura, com os proprietários do ginásio, falei com eles no sentido de não ensinar só a parte desportiva, o Kickboxing, mas ensinar também o Kenpo como forma de defesa pessoal, porque acho que é importante no dia a dia. Tivemos uma adesão razoável, o espaço era bem mais modesto que este (AKKV), e desde aí temos mantido o ensino do Kenpo karaté”.
Carlos Costa
As instalações estão divididas em várias salas com diferentes caraterísticas. Uma dela está reservada ao trabalho de defesa pessoal. Existe também um espaço para o acompanhamento aos praticantes, com um miniginásio para não haver lesões. Também podemos encontrar uma sala de massagens onde os atletas podem repousar. E por fim a AKKV tem uma sala de maior tamanho onde está instalado um ringue de combate que é utilizado nas aulas e em pequenas competições internas.
“Todos estes espaços são suplementados com equipamento de apoio ao treino e acessórios em excelentes condições, desde luvas a proteções individuais. Todo o material é pago por nós com as quotas dos sócios e atividades que organizamos, como é casos dos workshops,” explica o responsável, Carlos Costa.
Lesões
A lesão é considerada um balde de água fria nos atletas e muito depende da maneira como lidam com ela. É importante entender que não é o fim da carreira e pensar que é mais um desafio que podem vencer e um limite que podem superar. A lesão faz parte da vida de qualquer atleta. A importância da assistência imediata e a ajuda na recuperação, tanto a nível físico como mental, são fundamentais.
Um atleta que sabe isso melhor que a maioria é Carlos Alexandre que esteve parado durante um ano devido a uma lesão no joelho, que ocorreu no Campeonato Regional de Kickboxing do Norte, e quando regressou obteve logo outra lesão no tornozelo.
“A minha primeira lesão foi no joelho, no Campeonato Regional, de ter levado tanta pancada no joelho ele criou líquido, o que me fez parar durante um ano. Quando regressei voltei a ter uma lesão no tornozelo, num dos meus treinos, e tive de parar durante uns meses.”
Carlos Alexandre Costa, 23 anos, Instrutor da AKKV,
O mesmo aconteceu à aleta e instrutora da AKKV, Sara Costa, no qual teve duas lesões que a obrigaram a parar durante dois anos e meio.
“Eu tive um problema no joelho e tive parada mais ao menos seis meses. E passado muito pouco tempo dessa lesão, descobri que tinha um problema nas costas o que me impediu de dar aulas e competir durante dois anos”, explica Sara Costa.
A experiência do mestre Carlos Costa, com lesões, foi algo bastante mais recente. Ocorreu em 2017, onde partiu o maxilar num combate amigável. Afirma ter lidado bem com a lesão e ter-se mantido calmo até ter sido socorrido.
“A treinar defesa pessoal não, mas a combater em kickboxing sim, parti o maxilar. Estava num tornei amigável, se assim o posso dizer, de início de época e o adversário era um bocadinho duro. Ele não entendeu o trabalho que nós estávamos a fazer ali e ao longo do combate foi dando alguns indicativos que poderia resultar numa lesão de alguém. No final do primeiro assalto, o indivíduo perante um ataque meu ele sai atrás, mas, entretanto, toca a campainha e eu baixo a guarda. Também é um erro meu porque eu ensino-lhes sempre mesmo que toque a campainha ou o árbitro dê a voz para parar a gente deve manter as guardas e afastar-se com as guardas levantadas. Ele faz um pontapé em rotativo e apanha-me no maxilar e logo no momento dou conta que tenho o maxilar partido.”
Carlos Costa, 49 anos, Agente da GNR e Mestre/Instrutor de Kenpo e Kickboxing.
Já o atleta Gonçalo Rodrigues, de 19 anos, pratica kickboxing na AKKV há quase quatro anos, conheceu esta arte por um amigo. Nunca se lesionou, apenas se queixa das dores musculares, mas nada que o fizesse parar de treinar.
Conquistas
Em 2012 decorreu o IIo Campeonato do Mundo All Styles, na cidade de Torres Novas. A Associação de Kenpo e Kajukembo de Viseu esteve presente com uma equipa. Competiram nas mais diversas categorias de Kenpo estando à altura de competidores internacionais e nacionais. Não se deixaram intimidar e alcançaram lugares de prestígio.
Em diferentes categorias, Carlos Costa ficou em primeiro lugar em defesa pessoal e a sua irmã, Sara Costa, também em primeiro lugar, mas na equipa feminina. Também é importante referir que Sara Costa já foi campeã mundial, com 10 anos de idade, no Campeonato Mundial de Kenpo na Hungria.
O Mito
A prática das artes marciais sempre foi alvo de polémica no que diz respeito ao que a sociedade afirma, que torna as pessoas mais violentas. Em contrapartida, quando questionados, os praticantes desta arte, afirmam que não só ajuda as pessoas a ficarem mais calmas como também ajuda na formação de caráter e da personalidade, contribuindo, assim, para o autocontrolo e para a formação como um cidadão.
“Nós quando estamos a treinar estamos focados naquilo que estamos a fazer, temos certo momentos de treino em que estamos a meditar, naquilo que nós fizemos durante o dia, daquilo que nós estamos a fazer no ginásio, e isso vai ajudando a que os praticantes fiquem calmos. E se formos a ver em quase todos os desportos nesta área, são pessoas calmas e quando há um conflito, tentam não levar logo para a pancadaria, mas sim para o diálogo e levar as coisas com calma.”
Carlos Alexandre Costa, 23 anos, Instrutor da AKKV,
Muitos pensam que praticar artes marciais é uma oportunidade que se tem de magoar o outro, por aquilo que se vê em filmes e até influência da comunicação social. Porém um atleta que executa esta arte é exposto a uma conjunto de normas e regras, disciplina e ajuda na formação moral do praticante.
“Eu acho que este desporto ajuda as pessoas a controlarem-se. Porque elas aqui têm de controlar o toque e lá fora da mesma forma porque eles não podem andar à porrada só porque lhes apetece”, diz Sara Costa.
O atleta Gonçalo Rodrigues desde que começou a praticar nunca mais parou e afirma que o ajudou no autocontrolo. “Antes de começar a praticar era um pouco violento, na altura, e também já me tinham dito para praticar uma arte marcial. desde então acho que sou muito mais calmo e mais controlado”, afirma o attleta da AKKV.
Este desporto ajuda a que as pessoas tenham controlo, percebam que estão a treinar para se defender, disciplina e entenderem até onde podem ir dentro das suas limitações. A aposta nas artes marciais ajuda, não só, no que diz respeito à saúde, mas também na confiança individual e no aspeto psicológico. É um escape há rotinas de muitos que escolhem este desporto como um modo de vida.