Um “Dever de Memória” dos incêndios transformado em garantia: “Não esqueceremos”
“Dever de Memória – da Infâmia à Esperança” foi o nome escolhido pelos fotojornalistas Adriano Miranda e Nuno André Ferreira para a exposição fotográfica que responde ao desafio lançado pelo Município de Viseu de juntar as fotografias que retratam os incêndios dos dias 15 e 16 de outubro de 2017 na região Centro. Ao “dever de memória”, o Presidente da República respondeu com a presença na inauguração e transformou-o numa garantia: “Não esqueceremos”, disse Marcelo Rebelo de Sousa.
“Todos nós aqui estamos reunidos para não esquecermos, nós não esquecemos. Portugal é um país muito antigo, é nação muito velha, mas ao mesmo tempo muito nova e não esquece as lições do seu passado”, afirmou Marcelo Rebelo de Sousa sobre os fogos de outubro de 2017 para logo de seguida vincar de novo: “Nós não esqueceremos, não é possível esquecer”, garantiu.
No discurso para os presentes na inauguração da exposição fotográfica, o Presidente da República recordou o que viu nos incêndios do ano passado, em junho e outubro na região Centro de Portugal para justificar a sua presença em Viseu.
“Aquilo que tinha vivido – e tinha vivido duas vezes em curto espaço de tempo – era a memória mais impressiva de toda a minha vida”, revelou Marcelo Rebelo de Sousa.
O Chefe Supremo das Forças Armadas apontou ainda outra motivação para a presença que pode ouvir abaixo.
A par de Marcelo Rebelo de Sousa, Adriano Miranda – um dos fotojornalistas responsáveis pela junção dos retratos – relembrou os incêndios devastadores do ano passado para falar das emoções que estão agora representadas através de quadros nas paredes da Quinta da Cruz, em Viseu.
“Nós começámos em Pedrógão, fizemos quase praticamente, infelizmente, os incêndios todos do ano passado e claro que há muitas emoções e essas emoções estão transmitidas nas fotografias. Tanto do dia do incêndio, como do dia seguinte, como as que fizemos há poucos meses atrás”, salientou Adriano Miranda.
Em Nuno André Ferreira, o outro fotógrafo que agora vê as suas imagens expostas, reside a esperança de que em quem visita a exposição fique o dever de recordar os acontecimentos nefastos dos fogos.
“Dever de memória é o que queremos que as pessoas levem daqui. Hoje assinalamos um ano da tragédia e viemos aqui para marcar e não esquecer o dia, mas queremos que daqui a vinte anos este dia seja lembrado. Foi uma tragédia que aconteceu como não há memória e o que queremos é que ela fique mesmo na memória das pessoas, que tirem algumas ilações, que levem daqui alguma esperança, vontade e coragem”, referiu Nuno André Ferreira.
Almeida Henriques, presidente da Câmara Municipal de Viseu, fala numa exposição que recorda “um dia duro”, mas que reflete também a vontade das pessoas afetadas voltarem “à sua vida normal”. São palavras que pode ouvir em baixo.
A iniciativa de realizar esta exposição partiu do Município de Viseu e foi impulsionada pelo Pelouro da Cultura e pelo vereador Jorge Sobrado que realçou a necessidade de relembrar o que aconteceu.
“Com o passar do tempo há mais necessidade de lembrar o que aconteceu porque é a tendência humana natural: é de ir esquecendo porque o tempo vai passando. A verdade é que as cicatrizes, as marcas, as perdas estão no território, estão na região, estão em vidas humanas e achamos que um ano depois fazia sentido recordar o que se passou para que nada volte a ser igual”, justificou Jorge Sobrado
O vereador da Cultura e Património da Câmara de Viseu, Jorge Sobrado, deu esta exposição como exemplo de um país assimétrico e desigual, deixando algumas críticas ao poder central pela ineficácia das políticas em relação ao interior do país, como pode ouvir a seguir.
Para além das 72 fotografias, a exposição conta ainda com inscrições de depoimentos dos jornalistas que também presenciaram os momentos no terreno, entre eles José Luís Oliveira, Patricia Carvalho, Sandra Ferreira, Tiago Virgílio Pereira e Paulo Moura, e que resultou ainda num catálogo cuja receita reverte a favor dos Bombeiros Voluntários de Viseu.
A mostra tem entrada gratuita e poderá ser visitada até ao próximo dia 30 de dezembro na Quinta da Cruz, em Viseu.
Texto e som: João Pereira