De olhos postos em Bruxelas
Bruxelas, centro da União Europeia. É lá que encontramos um dos dois Hemiciclos onde se tomam decisões que afetam até 500 milhões de pessoas. Numa sala com magnitude para sentar 751 deputados, torna-se assustador pensar que a vida de tantos milhões recai sobre os ombros de tão poucos. É numa sessão com o eurodeputado Fernando Ruas, do Partido Popular Europeu, e António Vale, diretor geral de Comunicação, Unidade de Visitas e Seminários, numa visita ao Parlamento Europeu, que ficamos a conhecer melhor a realidade dura e crua das sessões plenárias. Com direito a períodos de segundos, que se estendem até um máximo de dois minutos, para expor as suas propostas, os eurodeputados passam horas a escrever discursos e a cortá-los para comprimir o máximo de informação num espaço de tempo tão reduzido.
Os grupos políticos representados no Parlamento Europeu em Bruxelas são (da esquerda para a direita): GUE/NGL – 52 lugares (Grupo Confederal da Esquerda Unitária Europeia/Esquerda Nórdica Verde); S&D – 189 lugares (Grupo da Aliança Progressista dos Socialistas e Democratas); Verdes/ALE – 51 lugares (Os Verdes/Aliança Livre Europeia); ALDE – 68 lugares (Grupo de Aliança dos Democratas e Liberais pela Europa); PPE – 217 lugares (Grupo do Partido Popular Europeu); ECR – 74 lugares (Grupo dos Conservadores e Reformistas Europeus); EFDD – 42 lugares (Grupo Europa da Liberdade e da Democracia Direta); ENF – 40 lugares (Europa das Nações e da Liberdade); e, por fim, os NI – 18 lugares (Não Inscritos).
A distribuição dos lugares é feita de acordo com as afinidades políticas e não por nacionalidade, sendo que os presidentes dos grupos políticos são quem se senta na primeira fila em círculo, frente ao Presidente do Parlamento Europeu. A terceira fila é ocupada, nomeadamente, por membros vice-presidentes e questores. Os restantes lugares são atribuídos normalmente seguindo a ordem alfabética.
Em visita ao Hemiciclo de Bruxelas, conhecemos de imediato a Tribuna, lugar reservado ao público que de forma livre e gratuita pode acompanhar todos os debates. Em frente, um largo semicírculo de bancadas castanhas com centenas de cadeiras pretas. Em cima de cada mesa, um par de auscultadores.
Ao levantar o olhar, reparamos que, também em semicírculo, à nossa frente, se distribuem um total de 25 cabines onde 3 tradutores de cada nacionalidade fazem a tradução de tudo o que é dito em todas as sessões. Devido ao nível de concentração necessário, os tradutores fazem turnos de 30 minutos. A tradução é feita em tempo real, o mais rapidamente possível, o que cria diversos problemas. Sendo impossível que cada grupo de tradutores conheça a fundo todas as línguas, muitas vezes são obrigados a traduzir a partir das traduções feitas em outras cabines, acabando por vezes a serem feitas traduções de 3ª e 4ª instância.
A urgência das traduções não deixa tempo para confirmar a informação, o que origina vários erros na tradução especialmente quando foram usadas expressões pouco conhecidas da língua. António Vale apresentou um exemplo disso «existe uma solução para quando não há tempo ou possibilidade de tradução para a língua que é o tradutor, pedir as pessoas que estão a ouvi-lo para se rirem “o deputado acabou de contar uma piada, eu não tenho tempo de traduzir, por favor riam-se”.
A maior parte das decisões tomadas em audiências não são tomadas no momento, quando chega esta fase os grupos já fizerem as suas negociações, cada grupo já sabe a proposta que vai fazer aos seus deputados que, respetivamente, já saberão no que votar. Não é uma questão de convencer as outras pessoas a mudar de opinião, mas uma oportunidade de expor aquilo que se pensa do acordo, como se chegou a ele e a razão do voto.
Destaca-se que raramente estão todos os membros presentes, podendo estar apenas 4 ou 5 deputados porque, efetivamente, o tema a ser tratado é só do interesse desses. Nas votações o cenário altera-se, costumando estar todos os deputados presentes. Todavia, não é obrigatório estar o plenário completo.
Texto e imagens: Juliana Cunha, Laetitia Santos, Lisa Sebastião e Susana Sousa