Ignite Viseu. “A questão de ser ‘influencer’ ou influenciada acaba sempre por surgir”
O Ignite Viseu decorreu na Biblioteca da Escola Superior de Educação de Viseu, no passado dia 10 de janeiro. O evento com marca informal, que nasceu em Seattle e está presente em todo o mundo, contou com a presença de oito oradores, que subiram a uma palete para falar sobre o tema “Ser ‘influencer’ ou influenciado”.
Por Gonçalo Santos
“A questão de ser ‘influencer’ ou influenciada acaba sempre por surgir”, afirma Maria João Paiva, licenciada em Comunicação Social pela ESEV e ‘podcaster’. Aquela que foi uma das convidadas do evento afirma que esta questão é como “o ovo e a galinha, não vivem um sem o outro e não sabemos quem chegou primeiro”. A oradora demonstrou ainda a comutatividade existente: “não posso viver em comunidade sem ser influenciada, como não posso viver em comunidade sem influenciar”, sendo que “a magia está em evoluir com as influências no meio em que crescemos, no meio em que estamos”, conclui Maria João Paiva.
“Quem gosta de comunicação consegue trabalhar em qualquer empresa”, avança Sara Almeida Azevedo, licenciada em Publicidade e Relações Públicas pela ESEV e agora administrativa e planeadora de meios e publicidade, tendo lançado o repto para o público jovem presente que entrará brevemente no mercado de emprego. Na sua apresentação, Sara Almeida Azevedo recordou ainda como foi bom estudar na ESEV.
Já João Marques, escultor, revela qual a sua “maior influência” no trabalho artístico, o seu “pai”, e assevera o encantamento que tem perante a beleza do sexo feminino, a mulher, como sendo “o ser mais belo que o Criador pôde criar”, inspirando-o na produção da sua obra.
Após vivos aplausos, subiu à palete o professor da casa, Miguel Midões. “Comecei a influenciar gente desde o dia 11 de julho de 1982, logo os meus pais e os meus avós, e eles só faziam o que eu queria. A partir do momento em que nascemos, não há ninguém que não seja logo um ‘influencer’”, explica Miguel Midões, professor universitário, investigador e jornalista. No entanto, à medida que crescemos, diz o professor, deixamo-nos, de imediato, influenciar e a “família são aqueles que nos influenciam”, acrescenta. Adianta que é “um homem de mulheres”, incluindo especialmente as avós, a mãe e a esposa, com quem tem “os dois grandes ‘influencers”, os seus filhos, que lhes ajudam muito a lidar com os seus alunos mais novos. De toda a maneira, não se deixa somente influenciar, tenta, mesmo assim, ser também um ‘influencer’ com os seus filhos, porque lhes tenta transmitir valores, como a “exigência, acessibilidade e simpatia”, revela. A rádio é o seu amor e faz missões humanitárias, não para se pavonear, mas para receber “lições de vida”, admite. Miguel Midões reflete que se um professor diz não aprender nada com os alunos, então, “mandem-no embora”, recomenda, pois “temos excelentes alunos”, aponta. Deixar-se influenciar é ter a possibilidade de “crescer como pessoas”, afirma.
Na vez da oradora Cristina Baccari, médica dentista, começa por relatar que gosta muito de influenciar o outro “através do sorriso”, não só pela promoção da saúde oral como na vida quotidiana. Para Cristina Baccari influenciar é simples, desde logo “basta olhar no olho do outro” e, quando assim é, descreve que “é difícil resistir” a essa influência. Enfatiza, no entanto, que para uma pessoa poder influenciar, esta deve ser primeiro “muito interessante”. “Sejam diferentes e influenciem pela positiva”, comunica a especialista em saúde oral.
O ex-presidente da Federação Académica de Viseu, Mário Coutinho, sempre tentou influenciar para as “boas práticas” e influenciou sempre, enquanto presidente e estudante, para a reversão do “aumento das propinas”, diz. Não obstante, defende que a influência deve ser “positiva e responsável”, dado o impacto que cada pessoa tem no seu círculo social. Para quem quer ser influencer, Mário Coutinho deixa um conselho: “Do something great”, com “fator WOW”.
“Sempre gostei muito de ler”, recorda a oradora Inês Vassalo, estudante de primeiro ano de Comunicação Social, no Ignite Viseu. A estudante começou, em criança, a ler livros como “Uma Aventura”, “O Principezinho” e “Diário de um Banana”. Contudo, na altura, já não era muito apoiada pelos seus amigos que não gostavam de ler. Recentemente, depois da pandemia, decidiu criar uma página na rede social Tik Tok, para divulgar as suas leituras. Passado algum tempo e, com surpresa, conta que sentiu estar a ter sucesso, pois “uma editora lhe enviou um livro”, e começou a perceber que se tinha tornado “uma influencer”, declara, estando a conseguir “influenciar outras pessoas a ler”, remata a estudante.
“O poder da arte na influência” foi o tema escolhido pela tatuadora e oradora Rafaela Marques, que também é aluna da ESEV no curso de Publicidade e Relações Públicas. A tatuadora ilustra o poder de influenciar da arte com “um exemplo prático”: antes não gostava dos seus braços, e não os mostrava, mas passou a gostar, e deixou de ter problemas, depois de os tatuar, tendo tido a tatuagem uma influência positiva em si.
Márcia Silva Gonçalves, jornalista da SIC, não pôde estar presente presencialmente por motivos profissionais, mas esteve presente por via online, para abordar “um tema tão interessante e importante”, adverte. “Nós, jornalistas, somos influenciadores, mas também somos muito influenciados no dia a dia”, adianta, quando, na sua opinião, “é assim que se tem de trabalhar”, pois, “são as pessoas com quem nós conversamos que nos ajudam a ver os pontos de vista e a encarar os temas”, indica Márcia Silva Gonçalves. Segundo a jornalista, não há um único sentido. Por um lado, é-se influenciador, porque “todos os dias aparecemos na televisão, com os nossos textos” e, por outro lado, é-se influenciado “por todas as pessoas” com que se cruza. Ou, de outra forma, “o jornalista nunca é só a história que conta”, mas também “aquilo que vemos e ouvimos”, esclarece a jornalista da SIC.
“No Brasil é um pouco difícil, ou você joga ou você estuda”
“Agradeço ao Académico de Viseu por me ter acolhido bem”, detalha o convidado especial do evento, André Clóvis. Em resposta a perguntas feitas pelo público, o melhor marcador da Liga 2 de futebol na época 2022/2023 pelo Académico de Viseu, recorda que sempre foi atrás do seu sonho quando era mais jovem. Lembra a dificuldade em ter uma oportunidade e a influência que o meio teve em si. “No Brasil é um pouco difícil, ou você joga ou você estuda”, declara. André Clóvis influenciou-se a si próprio, a par do exemplo de trabalho de Cristiano Ronaldo. “A minha mãe falou, olha, você escolhe… é isso que você quer? É o seu sonho? E eu fui atrás do meu sonho”, e hoje joga na Europa, em Portugal, tornando-se num “jogador grande”, reconhece, embora que “para algumas pessoas não temos valor nenhum”, evoca o atleta.
O evento terminou, depois de um momento musical protagonizado pelas alunas de Comunicação Social Laura Almeida e Rafaela Campos, acompanhadas por Eduardo Guerreiro, professor da unidade curricular de Organização e Gestão de Eventos, no âmbito da qual se realizou esta edição do Ignite Viseu.