Cavalhadas de Teivas: a tradição muda, mas permanece
As Cavalhadas de Teivas são uma das principais celebrações do São João na cidade de Viseu. Com origem no século XV, as Cavalhadas são marcadas por tradições e desfiles pelas ruas de Viseu. Tal como afirma a Associação Cultural, Recreativa e Social de Teivas, “era costume no dia 24 de junho, dia de S. João, manhã cedo, o cortejo das tradicionais Cavalhadas percorrer as povoações da freguesia, espalhando o colorido, a alegria e a animação”.
Reportagem de Mariana Félix
Residente em Teivas, Diana Vieira, participa nas Cavalhadas desde os cinco anos, sendo que já conta com 15 anos de participação nesta tradição e afirma que “as Cavalhadas de Teivas são um desfile que alegra as ruas no dia em que sai, é uma tradição que se mantém viva ao longo de muitos anos e que une o povo de Teivas”. Para ela, as pessoas têm uma visão bastante positiva das Cavalhadas. “A tradição de que mais gosto, apesar de já não ser seguida é o facto de na Dança da Morgadinha, os homens se vestirem de mulher e as mulheres se vestirem de homem”. Já para Norberto Vieira, residente também em Teivas e participante há 30 anos nas Cavalhadas, as pessoas que veem têm uma visão positiva, apesar de que, para ele, as Cavalhadas “já deviam ter terminado”.
Carlos Figueiredo Lopes escreve, no seu livro S. João de Lourosa – Terra e Gentes da Beira Alta, que “Teivas, património de um nome de origem germânica “Tevilaci”, cuja origem, povoamento e agricultura é anterior ao século XII, é hoje uma pequena localidade com pouco mais de 600 habitantes, a dois passos de Viseu, pertencente à freguesia de São João de Lourosa”. O facto de Teivas ficar tão próxima do centro de Viseu fez com que o desfile das Cavalhadas de Teivas, que inicialmente era feito apenas pelas terras da Freguesia de São João de Lourosa, passasse para as ruas de Viseu.
Foi também graças à criação da Associação Cultural, Recreativa e Social de Teivas, no ano de 1984, que as Cavalhadas de Teivas, numa necessidade de se moldarem à evolução dos tempos, passaram a percorrer não só as ruas da Freguesia de São João de Lourosa, mas também as de Viseu. Assim, para além do Cortejo e da Dança da Morgadinha, foram introduzidas novas tradições, tais como os Carros Alegóricos, os Cavalos, as Bandas de Música, as Fanfarras, os Grupos de Zés Pereira e Ranchos Folclóricos.
Tradição trazida por emigrantes regressados do Brasil
Marcada por história e tradições, as Cavalhadas de Teivas são conhecidas pelos seus desfiles, as danças típicas, os carros alegóricos, os cavalos, as bandas de música, as fanfarras, os grupos de Zés Pereiras e os Ranchos Folclóricos. Apesar de não haver registos da sua origem, crê-se que esta tradição foi trazida pelos emigrantes teivenses regressados do Brasil, que pretendiam implementar um festejo popular em Teivas.
A Associação Cultural, Recreativa e Social de Teivas explica que isto era uma forma de “satirizar as festas e jantares de gala realizados pelas elites da alta sociedade brasileira, com danças de roça, quem sabe se não uma espécie de homenagem a debutantes donzelas.” Na sua criação o cortejo era formado apenas por rapazes e homens que faziam os pares de dança, em que os homens se vestiam com trajes de mulheres, acompanhados por tocadores de acordeão, violão, violino ou outros instrumentos musicais da época, descreve o autor Carlos Figueiredo Lopes.
Acredita-se que o tipo de vestidos e adereços usados no desfile, que são marcados pelas suas cores carnavalescas e coloridas tenham sido influenciados pela cultura brasileira, havendo assim um marco da cultura brasileira nas indumentárias que ainda hoje são caracterizadas pelas suas cores alegres. As indumentárias masculinas eram marcadas pelas calças curtas, coletes ou xailes, e chapéus enfeitados com papel multicolor e as indumentárias femininas eram marcadas pelos vestidos ou saias largas e compridas, blusas, lenços na cabeça, um guarda-sol enfeitado, um leque e uma bolsa de pano que vinha com um lenço, usado para limpar o suor do rosto.
O que hoje se sabe acerca das Cavalhadas de Teivas, foi sendo transmitido de geração em geração, através da partilha de histórias e tradições das Cavalhadas de Teivas e também da partilha das técnicas usadas na confeção dos fatos.
Dança da Morgadinha: o ex-libris das cavalhadas
A Dança da Morgadinha é talvez uma das tradições mais conhecidas das Cavalhadas de Teivas e uma das maiores atrações para quem vai ver as Cavalhadas de Teivas. Marcada pelo folclore, vindo do Brasil, a Dança da Morgadinha nasceu da junção do folclore e das músicas e coreografias de Teivas. “A Dança da Morgadinha é o ex-libris das cavalhadas de Teivas. Dança tradicional e centenária, é caracterizada pelos belos vestidos femininos e fatos masculinos de cores exuberantes com chapéus à cabeça, numa dança harmoniosamente coreografada”, afirma a Associação Cultural, Recreativa e Social de Teivas.
A Dança da Morgadinha é para muitos a tradição favorita, não só para os residentes e participantes, como também para os que veem a celebração.
A tradição permanece
As Cavalhadas de Teivas, foram sofrendo alterações desde a sua criação, mas, ainda hoje, a tradição mantém-se e as Cavalhadas são sempre realizadas no domingo anterior ao dia de São João. Apesar de o padroeiro de Teivas ser São Sebastião, é nos Santos Populares que de facto os teivenses saem à rua para desfilar e dançar a conhecida Dança da Morgadinha.
Os participantes das Cavalhadas têm de criar todos os anos os seus próprios trajes, adereços e acessórios, tal como também os carros alegóricos. Além disso, a Dança da Morgadinha é ensaiada durante dias, para no dia ser tocada, dançada e cantada, durante as várias horas em que se percorrem as ruas das terras de São João de Lourosa e de Viseu.
Os trajes sofreram pequenas alterações e, além das calças curtas e dos chapéus coloridos, os trajes masculinos são atualmente compostos por uma faixa vermelha, meias rendadas brancas, sapatos pretos, uma camisa branca, dois lenços com franja entrelaçados e uma bandeira. Já o traje feminino, caracterizado pelos seus vestidos e saias largas, guarda-sóis enfeitados com papel multicolor e uma bolsa de pano, é constituído também por um importante adereço, o ramo de flores. Estes ramos de flores são feitos de cravos, ervas de enfeite e ervas de cheiro e há quem diga que estas servem para disfarçar o cheiro do suor dos participantes no cortejo.
Assim as cores alegres dos trajes distinguem-se das outras marchas de Portugal, tornando as Cavalhadas de Teivas como afirma a Associação Cultural, Recreativa e Social de Teivas “autênticas obras de arte e originando uma saudável competição para ostentar o mais bonito da marcha.”
Para Ana Figueiredo, residente também em Teivas, as Cavalhadas são “uma tradição muito antiga que deve ser incutida aos mais jovens, de geração em geração. É uma altura em que jovens e pessoas mais velhas se unem para mostrar aos habitantes a sua cultura”. Tendo participado no ano passado de 2022 nas Cavalhadas na venda de manjericos, ela afirma que no geral esta é uma celebração vista com entusiasmo. “Sempre que se ouve a palavra Cavalhadas as pessoas têm tendência a mostrar agrado pela tradição e quem vai presenciar também se mostra bastante entusiasmado com tudo o que as Cavalhadas envolvem”, considera Ana Figueiredo.
Maria José Vieira, residente em Teivas, participa há 40 anos nas Cavalhadas: “é um desfile muito bonito que atrai várias pessoas e encanta as ruas da cidade”. Já para Maria João Lopes, que participou quando jovem nos Carros Alegóricos e recentemente na venda de manjericos, as Cavalhadas “devem ser preservadas pelos mais novos, pois é uma tradição de séculos.”
Além dos residentes de Teivas e participantes, as Cavalhadas são bem vistas por quem é de fora, como é o caso de Francisco Costa, natural de Penafiel, que participou pela primeira vez no ano de 2022. “Como foi a minha primeira vez, nas Cavalhadas, e como estive a vender manjericos, posso dizer que gostei de vender. Antes de começar, coloquei uma marca que tinha de alcançar, sendo a primeira vez a vender e no final a marca ainda foi maior que a que tinha colocado no início. As pessoas foram muito simpáticas e atenciosas. Gostei de vender manjericos. Foi sem dúvida uma experiência que hoje repetiria”, revela.
Já Andreia Martins, residente em Vila Nova do Campo, Viseu, apesar de nunca ter participado afirma que as pessoas têm cada vez mais uma visão positiva em relação às Cavalhadas. “É um cortejo tradicional que representa as tradições da nossa cultura viseense. De elevada relevância uma vez que agrega convívios, e traz novas gerações para retratar esta festividade antiga”, afirma.
Mais recentemente, as Cavalhadas entraram nas bocas do mundo, depois de baseados no vestido, traje feminino, usado na Dança da Morgadinha, terem feito um vestido com oito metros de altura para entrar no Guiness.
Ainda que com algumas mudanças, as Cavalhadas de Teivas mantêm grande parte das suas tradições, sendo ainda existentes o Cortejo, a Dança da Morgadinha, os Carros Alegóricos, os Cavalos, as Bandas de Música, as Fanfarras, os Grupos de Zés Pereira e os Ranchos Folclóricos. As Cavalhadas são assim umas das celebrações mais antigas da cidade e ainda nos dias de hoje levam centenas de pessoas às ruas para admirarem seja os Carros Alegóricos, seja a Dança da Morgadinha e as outras tradições.