Mikhail Gorbachev, o Nobel que tentou democratizar a URSS
É uma das figuras mais importantes do século passado, defendido pelo ocidente, mas demonizado na sua Rússia natal. Gorbachev foi o último secretário-geral do Partido Comunista Soviético, mas os seus esforços de democratização e de reforma financeira, que lhe valeram um Nobel da Paz, levaram ao fim da União Soviética.
Por João Gomes
Mikhail Sergeyevich Gorbachev nasceu a 2 de março de 1931, em Privolnoye, no sudoeste russo. Filho de uma família pobre de agricultores, iria viver de perto a agricultura na sua juventude. Mudou-se ainda muito jovem, juntamente com os avós, para uma quinta, e em 1946, com 15 anos de idade, juntou-se à Komsomol, uma das juventudes soviéticas da época. Foi chamado de imediato para trabalhar numa quinta estatal na região de Stavropol, onde conduziu uma ceifeira durante 4 anos. No entanto, Gorbachev tinha também uma paixão pela cultura, assistindo a peças de teatro, lendo obras literárias ocidentais e assistindo a desporto.
Foi após este período que Gorbachev se destacou como membro da Komsomol, e em 1952, entrou na faculdade de direito da Universidade Estatal de Moscovo. Foi também por esta altura que Gorbachev se filiou oficialmente ao Partido Comunista Soviético. Após 3 anos acabou o curso, tendo depois exercido várias funções tanto na Komsomol como no Partido.
A subida ao topo começou pouco depois.
Logo em 1971 foi nomeado como membro do comité central do Partido Comunista. Poucos anos depois foi-lhe atribuída a pasta de Secretário da Agricultura. Um cargo perfeito para Gorbachev, dado o contexto onde cresceu.
Após o fim da liderança de Brezhnev e das mortes inesperadas de Yury Andropov e Konstantin Chernenko, sucessores de Brezhnev, Gorbachev subiu à posição de secretário-geral.
Após chegar ao poder, Gorbachev lançou duas políticas de reforma. A Glasnost, que viu a liberdade de expressão do povo ser aumentada a níveis inéditos na União Soviética, e a Perestroika, onde foram feitas as primeiras tentativas de democratização da URSS.
No final da década de 80, e no início da década seguinte, Gorbachev aprovou a queda do muro de Berlim e a saída de vários países de leste que pretendiam juntar-se ao ocidente. Graças a estas medidas, Gorbachev recebeu o Nobel da Paz em 1990.
Em 1991 perdeu o poder, tendo o seu sucessor Boris Yelstin desmantelado a União Soviética.
Viveu os seus últimos a defender as energias renováveis, a democracia na Rússia, e a criticar o regime autocrático de Putin.
Em 2016, num livro escrito por si, refletiu sobre o seu passado. “Demorei uma vida inteira para perceber que temos que nos livrar do Estalinismo, do totalitarismo. Nos dias de hoje temos que libertar as pessoas do medo do governo, se não nunca será possível atingir um estado democrático”.