Produção de azeite em Tabuaço: “para o próximo pode não haver produção, há que aproveitar os anos bons”
A região do concelho de Tabuaço é conhecida pela produção de um “bom” azeite. “CAT” e “Azeite de Tabuaço” são as duas marcas registadas de azeite, que podem ser encontradas, exclusivamente, nas prateleiras dos supermercados do concelho. Por enquanto não existe capacidade de produção para vender nas grandes superfícies de supermercados, mas o produto chega também ao estrangeiro, nomeadamente Áustria, Suíça, Eslovénia e Alemanha.
Reportagem de Mariana Fernandes
São 9 horas da manhã, altura da abertura dos lagares, e na porta os olivicultores esperam e desesperam nas filas da Cooperativa Agrícola de Azeite de Tabuaço. A entrada do armazém é divida em “duas vias, onde as carrinhas chegam, de um lado descarregam os sacos e do outro os palotes, para não haver confusão”, explica a funcionária da Cooperativa. O operador do empilhador é quem dá a ordem de entrada para o despejo da azeitona no “pio”.
“Ainda demoram muito?”. Essa é a pergunta que mais se escuta por estes dias na azenha do concelho de Tabuaço. É o caso de Domingos da Costa, agricultor de profissão afirma que veio “trazer a azeitona dele e do amigo e que demorou cerca de 2 horas para o empilhador tirar o palote da carrinha”. O agricultor acrescenta: “que remédio, tenho que esperar”.
A azenha recebe azeite não só de sócios, como também de produtores de Tabuaço. “Porque é a única cooperativa a funcionar neste concelho e é uma maneira de não deixar os agricultores irem para fora”, afirma José Amaral. O presidente do conselho de administração da Cooperativa de Azeite de Tabuaço garante que “já produziram mais do que no ano passado”, contudo só no final será possível avaliar com certeza.
Apesar de ser um ano muito produtivo em termos de azeitona, José Amaral garante que “ainda existe espaço para colocar mais azeite no lagar da Cooperativa”. Em 2019 o trabalho não valeu o esforço, isto porque foi o ano com mais perdas, sendo que só produziram “cerca de 5 a 6 mil litros de azeite”. Já em 2017 foi o ano que conseguiram obter bons resultados de produção e que a única explicação para estes valores “são as alterações climáticas, que afeta não só a azeitona como outros produtos agrícolas”, afirma José Amaral.
Processo de extração da azeitona em azeite
Dentro das instalações da Cooperativa está Suse Aguilar, que explica todo o processo de produção desde a sua forma mais natural até à sua extração. “Os associados trazem azeitona em palotes fornecidos pela Cooperativa de Tabuaço. A azeitona vem com a folha, depois fazemos o processo de limpeza. De seguida é pesada e retirada uma amostra que, esta vai para o laboratório para saber o rendimento, a acidez e a qualidade”, esclarece Suse Aguilar.
Ainda no lagar da Cooperativa, a azeitona passa pelo lavadouro para retirar a sujidade, depois para o moinho e de imediato para uma batedeira de 2500 kg. Com a azeitona já “batida e com uma textura de patê”, passa por o “decanter” que antigamente era designado por “prensas”. Este processo consiste na separação do azeite, do bagaço e das “águas russas” que posteriormente vão para um cilho, para serem transportadas para empresas que tratam do procedimento de extração para óleo de bagaço em Mirandela. Com este modelo, o azeite acaba por ser extraído das azeitonas, num processo “que demora cerca de 1 hora”, garante a funcionária.
O decurso acaba com a ajuda da “segunda centrifuga que tem como função a limpeza do azeite e torna-o quase pronto a consumir”, isto porque “ainda fica com alguns resíduos e é necessário a ajuda de um filtro para retirar a última sujidade do azeite”, explica Suse Aguilar. Por fim, “é transportado para as cubas com a capacidade de 10 mil litros cada”, acrescenta a funcionária.
No olival, o trabalho é “cansativo”
Na entrada escuta-se o forte barulho que chega das máquinas a trabalhar, com a confusão que se vive nas filas. “O que vale é que está sol. Tanto para nós como para apanha da azeitona. O ano foi bom”, diz o agricultor Luís Costa. Quem reconhece sabe que a apanha da azeitona é um trabalho “cansativo”. Fomos até ao olival do agricultor, Luís Costa que fica a 5 quilómetros da cooperativa, na aldeia de Vale de Figueira. Percebe-se que é necessário uma boa gestão e organização “para que a azeitona seja apanhada antes das 19 horas, isto porque a azenha encerra a essa hora”, explica o agricultor.
Ângela Amaral, esposa do olivicultor, afirma que este ano tiveram “um rendimento acima do esperado, uma média de 225 litros de azeite”. Questionada sobre o facto de este ano ser produtivo para os agricultores que cultivam este tipo de fruto, diz que “o clima esteve muito favorável para isso e que no ano de 2020 nem metade dos litros de azeitona tiveram”. Acrescenta ainda que “para o próximo ano pode não haver produção. Logo, “há que aproveitar os anos bons”.
Azeite biológico é uma inovação na Cooperativa Agrícola de Tabuaço
Vamos continuar no trabalho da Cooperativa de Tabuaço, para percebermos mais sobre os procedimentos da produção de azeite em 2021. Já com o azeite na sua forma líquida e “pronto a consumir”, segue-se o processo da embalagem que pode variar entre os garrafões de 2 e 5 litros, garrafas de 0,25l e latas de 0,5l. A funcionária Suse Aguilar garante que “cada pessoa leva o seu próprio azeite, desde que peçam antes de engarrafar”. “Nos temos sempre azeite na cuba o que, permite às pessoas levantarem sempre que quiserem. “Quem quiser fazer marcação, ou seja, levar o seu próprio azeite passa pelo mesmo processo de elaboração que demora cerca de 2 horas, dependendo dos quilos”, explica.
O azeite tradicional é o “mais adquirido pelos compradores”, afirma “José Amaral. A confeção de azeite biológico é uma inovação para esta cooperativa nos últimos anos. Um processo que tem algumas caraterísticas diferentes do azeite “normal”, uma vez que “é feito a baixas temperaturas e é sempre o primeiro azeite a ser feito do dia”. A azenha só produz este tipo de azeite “depois de analisarem as amostras do laboratório e terem 100% certezas de que a azeitona é biológica”, assevera Suse Aguilar. O presidente do conselho de administração acrescenta que “para ser considerado biológico a azeitona tem que ser certificada e sem quaisquer tratamentos químicos. São poucos os produtores que aderem a esta produção”. Em termos da saída para os mercados e para os compradores, estes “não aderem muito ao biológico, uma vez que o preço é mais elevado e tem um gosto diferente, por isso preferem o tradicional”, explica José Amaral.
“É uma grande pressão que temos sentido estes dias, não é fácil gerir as pessoas, muitas das vezes não conseguimos dar resposta a todos, por isso ficamos abertos até às 23 horas”, afirma Suse Aguilar.
Benefícios deste fruto oleaginoso
É nos meses de novembro e dezembro que o fruto brota da árvore, é conhecido por muitos como uma gordura boa e de possuir alguns benefícios para a saúde. A aposta neste fruto oleaginoso da oliveira é cada vez mais procurado e apreciado por muitos como um alimento imprescindível na mesa dos portugueses. Associado à cultura de Portugal é um nutriente com algumas premiações nacionais e mundiais.
Azeite “CAT” pode ser adquirido no “Mercado de Tabuaço”
A Cooperativa Agrícola do Azeite de Tabuaço surge no ano de 1950, “como parceiro para os agricultores de Tabuaço”, explica o presidente do conselho de administração. Um lugar tradicional, que ao longo dos anos foi evoluindo, adquirindo instrumentos tecnológicos, sendo possível a produção do azeite de uma forma diferente, rápida e de melhor qualidade.
Em parceria com o projeto “Mercado de Tabuaço”, o azeite CAT pode ser adquirido através desta plataforma online, em várias formas de embalamento. Outra forma de obter este produto é nas várias feiras gastronómicas ou agrícolas do nosso país, em que esta “Cooperativa faz questão de estar presente em praticamente todas”.
A variedade mais comum de azeitona em Portugal é a “galega” proveniente das beiras, Alentejo e Algarve. De acordo com a associação de Olivicultores e Lagares do Sul, Portugal é atualmente o oitavo maior produtor nacional de azeite em todo o mundo, estimando uma produção recorde de 150 mil toneladas de azeite na campanha de 2021/2022. O país é ainda o primeiro no mundo “em termos de qualidade, ao produzir 95% de azeite virgem e virgem extra”, conclui a associação nacional do setor.