“Gazeta da Beira”, o jornal que dá voz às gentes de Lafões
Um jornal quinzenal independente, autónomo, que “aposta essencialmente em artigos de opinião e registos que marcam as suas gentes”. É assim descrita a “Gazeta da Beira”, o jornal da Região de Lafões fundado há quase 39 anos, pelas mãos de António Bica e Carlos Matias. Com mais de 800 edições, preza a qualidade da informação e a importância da imprensa regional para o aumento da democracia e da pluralidade nestes territórios.
Reportagem de Mariana Loureiro
Comprou o capital da sociedade editora “Gazeta da Beira” em finais da década de 1980 para ter voz escrita em Lafões. António Bica, natural de Paços de Vilharigues, foi quem deu vida à original “Corneta de Beira”, com Carlos Matias, de São Pedro do Sul. Os advogados constituíram, em junho de 1982, a administração do jornal que viria a tornar-se no principal órgão de comunicação social da região. Pedro Soares, professor universitário em Lisboa e atual diretor da “Gazeta da Beira”, esclarece que “era preciso dar voz a Lafões e não apenas a cada um dos municípios de per si. E também aos seus leitores, de forma plural, promovendo a diversidade de opinião num contexto social, cultural e político considerado ainda muito fechado naquela altura.”
Atento aos destaques de São Pedro do Sul, Vouzela, Oliveira de Frades, Sever do Vouga, Castro Daire e Viseu, o jornal regional manteve-se sempre estável ao longo da sua evolução, procurando assegurar cada edição com o máximo de colaborações não remuneradas. Pedro Soares admite que era “a única forma de garantir a sua sustentabilidade e autonomia editorial, num contexto de um tecido económico regional débil de despovoamento e de um grande peso institucional das Câmaras Municipais.” Em 2014, a “Gazeta da Beira” passou a ter edição digital num site próprio, “facto que ampliou muito a sua divulgação e obteve bastante adesão”, acrescenta.
Com leitores por todo o país e até no exterior de Portugal, segundo Pedro Soares, “fruto da diáspora lafonense”, o jornal é considerado generalista, porque aborda e noticia diversos conteúdos de interesse do público. “Todas as matérias que se relacionem com a região podem ser objeto de tratamento pela GB”, afirma.
Sediada em São Pedro do Sul, a redação da “Gazeta da Beira” tem um leque diversificado de colaboradores; correspondentes nas freguesias, que vão dando notícias das suas aldeias; e colunistas, que abordam temáticas de caráter político, social, histórico e ambiental. No seu espaço físico trabalham permanentemente a paginadora, também encarregue das publicações digitais e atualização nas redes sociais, bem como um colaborador que assegura alguns serviços administrativos. A impressão e distribuição são realizadas por uma empresa especializada.
Paula Jorge, professora, jornalista e atual diretora adjunta do jornal, é responsável por algumas rúbricas, entre elas, a grande entrevista que ocupa as duas páginas centrais e constitui a capa do jornal, e o artigo de desporto, que ocupa uma página. Nas inúmeras atividades sociais, culturais e desportivas, ao nível mais rural que surgem na região, os responsáveis pelos eventos contactam diretamente a jornalista de proximidade para fazer a cobertura dos acontecimentos. “O facto de representarmos um jornal e de as pessoas nos irem conhecendo, faz com que nos procurem para os promovermos”, aponta Paula Jorge.
A realização de artigos ou reportagens que mostrem a cultura, as tradições, os trajes, os cantares, os usos e os costumes do povo, são a zona de conforto da jornalista e, segundo a mesma, “é o que o leitor da “Gazeta da Beira” gosta de ler, portanto, é o que nós lhe devemos dar”. “Gente Que Ousa Fazer” é a rúbrica de Paula Jorge que se destaca pela sua singularidade de dar a conhecer “gente da região que tenha algo válido no seu percurso de vida, e, acima de tudo, que luta por aquilo que quer.” Profere ainda que “as entrevistas são sempre encaminhadas de forma a mostrar o lado melhor que há em cada um de nós e, dentro do possível, ousar surpreender o leitor”.
Entrou para a “Gazeta da Beira” em 2018, a convite da então diretora, engenheira agrícola e presidente da Cooperativa Três Serras de Lafões, Maria do Carmo Bica. A assídua colaboradora do jornal distingue a ex-diretora do início dos anos 90 até agosto do ano passado como uma referência na sua vida. “São inquestionáveis as capacidades de liderança, profissionalismo e de ver mais além de Carmo Bica, para além da sua forma honesta e coerente de pensar e de agir”, realça.
Com a nova realidade da pandemia, o jornal também sofreu com a falta das notícias. De acordo com Pedro Soares, tiveram de dedicar “um espaço central a entrevistas a pessoas ligadas ao comércio, ao termalismo, à restauração, à agricultura, à cultura e alargar a área ligada ao associativismo, principalmente do desporto.”
“Sobreviver com qualidade e autonomia editorial num contexto muito difícil” são particularidades que o diretor da “Gazeta da Beira” destaca na imprensa regional de Lafões. Um jornal impulsionador do progresso e engrandecimento da região, que dá voz ao povo e sente orgulho em fazê-lo de forma isenta e imparcial.