A nova realidade das creches em tempos de pandemia
Para as creches, jogar e brincar não são apenas formas de passar o tempo: tratam-se, sobretudo, de atividades que possibilitam às crianças a compreensão do mundo que as rodeia. Na Creche de S. Teotónio, que faz parte da Santa Casa da Misericórdia de Viseu, apesar das medidas de prevenção e controlo impostas pela DGS, o bem-estar e o desenvolvimento das crianças são uma das principais prioridades que devem ser preservadas a todo o custo.
Reportagem de Luís Silva
Desde a reabertura das creches portuguesas em maio do ano passado, a rotina diária adotada, em contexto de pandemia de Covid-19, passa, sobretudo, pela medição de temperatura, álcool em gel e calçado à entrada.
Maria dos Anjos Ferreira, diretora técnica da Creche/Berçário São Teotónio, em Viseu, confessa que o encerramento repentino e sem aviso prévio foi razão de alarme. “Pensei que era mentira. Mas depois com o decorrer da situação e com as notícias que chegavam, mentalizámo-nos que realmente era verdade, e foi assustador”, conta.
Com regras de higienização mais apertadas e distanciamento social, o dia-a-dia nesta creche corre conforme as normas ditadas pela Direção-Geral de Saúde. “Temos uma empresa de consultadoria, a “Visão Global”, que nos vai orientando, mas seguindo sempre as orientações da DGS”, acrescenta a diretora técnica.
A minimização das probabilidades de contágio do novo coronavírus e a garantia da segurança, principalmente das crianças, é conseguida através da adoção de medidas de prevenção e controlo específicas. Maria dos Anjos Ferreira explica, na reportagem áudio em anexo, quais as precauções que estão a ser tomadas.
Até à data desta reportagem, os esforços conjuntos por parte de todos os funcionários e colaboradores tinham conseguido manter o novo coronavírus afastado. “Tivemos alguns pais que testaram positivo, mas as crianças têm sempre testado negativo”, esclarecia a diretora.
Embora não tenha registado qualquer caso de Covid-19, até à data, a instituição mostra-se preparada para agir perante quaisquer suspeitas. “Perante um caso suspeito, retiramos a criança da sala, colocamo-la numa sala de isolamento e telefonamos aos pais ou à Saúde 24”, completa.
Apesar do fecho das portas em março, o contacto entre a creche e as crianças nunca deixou de existir. Margarida Madeira, educadora de infância, confirma que, durante o confinamento, o apoio aos pais esteve sempre garantido, havendo “contacto através da plataforma digital desde janeiro (do ano passado). Através da plataforma, ia enviando sugestões de atividades, de jogos, de brincadeiras e os pais iam enviando fotografias do que faziam com os meninos”.
Brincadeiras essas, permanecem intactas. Apenas a organização das salas de atividades e dos refeitórios sofreu poucas alterações de modo a que o funcionamento das atividades lúdico-pedagógicas não fosse comprometido. Saiba, no áudio que anexamos a este texto, quais as mudanças motivadas pela pandemia.
Imposta pela DGS, a medida que visa o distanciamento social entre crianças, educadores e funcionários não é aceite nem seguida por todos. “Não é possível esse distanciamento, nem concordo”, admite Margarida Madeira. “É impossível manter o distanciamento entre crianças e educadores. A criança procura o nosso colo, o nosso abraço, o nosso aconchego”, acrescenta.
O bem-estar e o desenvolvimento das crianças são a prioridade, razão pela qual esta norma não é possível de ser levada em frente. “Se eu impusesse esta norma na creche, estaria a causar consequências severas a nível do bem-estar e desenvolvimento da criança”, reconhece a educadora de infância.
A pandemia de covid-19 abalou e entristeceu o mundo, mas dentro das portas desta creche, o ambiente continua alegre, cor-de-rosa e cheio de vida.