Município de Viseu testa funcionários com tecnologia inovadora da Católica para deteção da COVID-19
A metodologia com base em investigação científica está a ser utilizada pela primeira vez em Portugal
O Município de Viseu estabeleceu uma parceria com a Universidade Católica Portuguesa para a realização de rastreio da COVID-19 aos seus colaboradores. O teste recorre à metodologia inovadora, desenvolvida no ano passado pelo laboratório de investigação SalivaTec, para deteção de SARS-COV-2 em amostras de salivano decorrer de um projeto financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT). A primeira recolha de amostras realizou-se hoje, em Viseu.
Para além de se diferenciar dos testes disponíveis no mercado, uma vez que utiliza a saliva como meio de rastreio não invasivo, o método desenvolvido pelo laboratório recorre a uma estratégia inovadora, adequada para a testagem ampla de populações. A metodologia baseia-se no teste de grupos de amostras (pool de 20 indivíduos), defendida pelo “European Centre for Disease Prevention and Control (ECDC).
“Entendemos que, no combate à COVID-19, devemos utilizar todos as armas ao nosso dispor. A tecnologia desenvolvida em Viseu, no seio do CIIS – Centro de Investigação Interdisciplinar em Saúde da Universidade Católica, permite a massificação rápida do rastreio, com uma brutal redução de custos”, explica António Almeida Henriques.
O procedimento é simples e foi colocado hoje em prática durante a primeira recolha de amostras. Em primeiro lugar, foi realizada a recolha de amostras de saliva de 20 indivíduos que foram, posteriormente, agrupadas, constituindo uma única amostra (pool). Segue-se a realização de 1 teste de rt-PCR por cada pool. Sempre que é detetada uma pool positiva, as amostras individuais que a constituem são testadas para identificar o/os indivíduo(s) positivo(s). Para a recolha realizada hoje, o Município selecionou 100 colaboradores, afetos a áreas com maior exposição e risco, como os Bombeiros Sapadores, Espaços Verdes, Obras, Limpeza Urbana ou SMAS. Depois de conhecidos os resultados da primeira experiência, o rastreio deverá ser alargado a todo o universo da autarquia.
“Investigação científica deve ser colocada ao serviço da comunidade”
A metodologia utilizada pela Universidade Católica Portuguesa apresenta ainda uma série de vantagens. A utilização da saliva, devido ao seu caráter não invasivo, permite uma melhor aceitação especialmente por crianças, idosos ou grupos vulneráveis. Para além disso, método desenvolvido para deteção do vírus é muito mais sensível do que os testes rápidos de antigénios que estão a ser massivamente utilizados em diferentes locais do país, sendo equivalente aos testes por zaragatoa que têm sido utilizados desde o início da pandemia, mostrando níveis de concordância acima dos 95%. A mesma amostra de saliva pode também ser testada para detetar qual a estirpe presente nos casos positivos.
Saliente-se ainda que este rastreio permite uma redução considerável dos custos, quando comparado com os testes de PCR convencionais. A título de exemplo, a testagem de 1000 indivíduos rondaria os 100 mil Euros se realizado por PCR convencional, e cerca de 7 mil euros, caso fossem utilizados testes rápidos de antigénios. A testagem da mesma população, através da estratégia de pools de amostras de saliva, custa cerca de 750 euros. Supondo que 5 dos 50 grupos testados apresentam resultados positivos, o custo passa a ser de 2250 euros.
Adicionalmente, a nova estratégia origina também uma redução relevante do impacto ambiental, uma vez que diminui substancialmente o número de testes de PCR necessários para rastrear o mesmo número de indivíduos, reduz o número de EPIs (equipamento de proteção individual) e ainda os recursos humanos associados à realização dos testes, o que é, frequentemente, um fator limitador no número de testes realizados e na rapidez com que são conhecidos os resultados.
“A investigação científica deve ser colocada ao serviço da comunidade. Felizmente, já temos em Viseu excelentes laboratórios e investigadores. Se existe uma hipótese de conseguirmos um trunfo no combate a este vírus, não a podemos desperdiçar”, defende António Almeida Henriques, que revela que, “após algumas reuniões e análise dos resultados apresentados pelo SalivaTec, não tivemos dúvidas de avançar com este projeto. Mais uma vez, o Município assume-se como um laboratório para uma tecnologia inovadora, investindo paralelamente na segurança dos seus colaboradores”.
Marlene Barros, diretora do Centro de Investigação Interdisciplinar em Saúde (CIIS) e responsável científica pelo Laboratório SalivaTec, considera que “a COVID19 acabou por funcionar como um acelerador da investigação e sua rápida transferência, resultando em soluções que ajudam a combater esta pandemia e com toda a certeza melhor nos preparam para fazer face a outras”.
Recorde-se que a parceria estabelecida entre o Município de Viseu e a Universidade Católica Portuguesa, permite a utilização, pela primeira vez em Portugal, desta metodologia no terreno e junto de um universo alargado de indivíduos. A adoção deste método de rastreio, caso apresente resultados conclusivos e fiáveis, poderá contribuir para a rápida identificação de possíveis focos de contágio em empresas e instituições, especialmente escolas, lares de idosos, associações desportivas, órgãos de gestão e de proteção civil, entre outras.