Deslizes da democracia?

Lá fora, Facebook e Twitter baniram as contas de Donald Trump (e outros replicam estas ações). Por cá, Ana Gomes mostra vontade em ilegalizar o partido Chega, caso seja eleita. E, quão irónico soam estas ações e vontades? Questiono, uma vez que visam destronar os populismos e possíveis regimes autocráticos, mas colocam a democracia de parte para o fazer. A democracia, a liberdade de expressão e todos os direitos consagrados pelos regimes democráticos não são para todos?

Por Kevin Santos

Não consigo aplaudir a decisão de Zuckerberg e companhia. Porquê? Porque não foi uma atitude democrática. Como podemos tentar calar alguém que consideramos um risco para a democracia e esquecemos os princípios democráticos para o fazer? A verdade é que todos temos direito a expressar as nossas opiniões e Trump, apesar de tudo, não é menos que ninguém. Este tipo de atitude, não retira poder a estes movimentos extremistas, apenas lhe dá mais, ao mostrar as debilidades de uma democracia que não funciona (ou não funciona da melhor forma). Esta não é a forma mais eficaz de acabar com os populismos, até porque acaba por lhes dar mais força. Até na sua ‘destruição’, eles acabam por ganhar.

Agora ‘nós’. Depois de assistir aos debates das presidenciais, confirmei a ausência de reais oponentes a Marcelo Rebelo de Sousa. Mas também confirmei, apesar de algo surpreendido, que André Ventura poderá muito bem ser segundo. O líder do Chega conseguiu ‘vencer’ os seus adversários e sair dos debates (quase) sem falar de política. O “gato” (quão ridículo…?) é criticado por isto. Eu cá critico os adversários e os moderadores do debate. É claro que ele não está interessado em falar de política e é claro que sai a ganhar quando ninguém o pressiona a fazê-lo.

Voltando ao início, não concordo com a visão de Ana Gomes e meio mundo, uma visão que leva apenas a um enriquecimento dos discursos populistas. Ana Gomes pretende abolir o Chega, questionam “como pretende fazê-lo, uma vez que é um partido legalizado?” e ela não sabe responder. No dia seguinte, intervém Marcelo Rebelo de Sousa, que mostra, mais uma vez, a sua inteligência. O único candidato que mostrou postura e não foi para a lama com os outros candidatos (André Ventura à cabeça). Marcelo percebe que o discurso de Ana Gomes apenas enriquece o Chega e semelhantes. Marcelo sabe que a democracia é para todos. E a melhor forma de lidar com estes casos, é batê-los, frente a frente. Não é jogar fora do tabuleiro, tentar calá-los ou bani-los. E é por isso que ele já ganhou (não só por isso, é claro).

Deixo-vos uma questão de reflexão, que poderá virar um grande dilema no futuro: e se Marcelo Rebelo de Sousa não fosse candidato?

Imagem de Gerd Altmann por Pixabay

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