Covid-19. “Espero que não haja necessidade de voltar atrás”

Em todo o país são sentidos os efeitos da pandemia de covid-19, em Gouveia, a situação não é diferente. Luís Tadeu, presidente da Câmara Municipal falou com o #dacomunicação sobre as medidas que já foram implementadas e sobre os potenciais apoios que o município poderá vir a atribuir, por exemplo, aos comerciantes.

Por Carla Almeida e Inês Saúde

Luís Tadeu, presidente da Câmara Municipal de Gouveia

Segundo a Unidade de Saúde Local da Guarda, em Gouveia, desde o primeiro caso de infeção conhecido, a 27 de março, já foram contabilizados 21 novos casos confirmados, 5 mortes e 10 recuperados [dados de 3 de maio]. Que medidas foram implementadas em Gouveia para evitar a propagação do vírus?

Nós começámos por difundir, em termos públicos, os cuidados que as pessoas deveriam ter, nomeadamente com os seus cuidados de higiene ao lavar bem as mãos, evitar ir com as mãos quer aos olhos, quer à boca e ao nariz. Entretanto, reduzimos e isentamos, noutros grupos, o pagamento da tarifa de água e saneamento, logo em março. Em termos práticos tivemos outros cuidados, nomeadamente com a suspensão dos transportes urbanos, para que as pessoas não se aglomerassem no autocarro. Mais recentemente, distribuímos cerca de 60 mil máscaras por toda a população. Desde o início, fomos fornecendo material de proteção para todas as IPSS e para os bombeiros do concelho, que eram os grupos mais expostos. Depois do surgimento do primeiro caso, começámos a fazer um programa de rastreio do pessoal dos lares – neste momento já vamos com uma centena de testes realizados e continuamos a realizar. As IPSS começaram a confinar num sistema de casulo, isto é, os funcionários não saiam do lar, durante pelo menos 7 ou 14 dias, preferencialmente, e antes de entrar um novo grupo que ia substituir o que esteve a trabalhar, todos os elementos eram testados, para que se houvesse alguém que testasse positivo não colocasse os outros colegas e utentes em perigo. Para além disso, encerrámos a feira semanal, que vamos reiniciar para a próxima semana [18 de maio], com as regras que se impõem: com o uso de máscara e, no caso do autocarro, com a lotação reduzida, menos de um terço do que a capacidade daquilo que era normal. Encerramos também os serviços de atendimento ao público que começámos agora [a 4 de maio] a abrir.

Os transportes urbanos foram suspensos mesmo sabendo que certos habitantes não têm viatura própria. Ponderou essa decisão?

Durante este período tivemos que usar dois argumentos: por um lado o interesse de algumas pessoas, nomeadamente, das pessoas com mais idade, que precisavam dos transportes; por outro, o perigo que constituía, por as pessoas falarem umas com as outras de forma muito próxima. Este poderia ser um caso de potencial foco de contágio. Entre um interesse e outro maior da saúde pública ao evitar qualquer possível contágio, optámos pela suspensão temporária dos serviços de transportes urbanos.

Ontem [4 de maio] foi o primeiro dia de desconfinamento. Como é que os gouveenses estão a lidar com o regresso a uma espécie de “normalidade”?

No primeiro dia, segunda-feira [4 de maio] tivemos um dia com alguma procura. Através da informação que vamos espalhando pelo município quanto à reabertura dos serviços, as pessoas vão saindo para tratar dos seus assuntos, agora presencialmente. A cada dia que passa vai, certamente, haver uma maior afluência de pessoas pelas ruas. Ontem também já se notava pelo número de carros a circular, mais gente, grande parte das pessoas usava máscara. Notou-se que havia um número muito maior de consumidores no comércio, nos supermercados e nas farmácias. De facto, espero que esta abertura e tentativa de voltarmos à normalidade aconteça de uma forma faseada, para que não haja a necessidade de voltar atrás por haver novos focos de contaminação.

Em relação à abertura aos serviços de atendimento ao público no Município – a como o balcão único, onde podem fazer os requerimentos, os serviços do centro de emprego, os serviços mais técnicos – estamos a proceder com regras. Não permitimos que as pessoas entrem todas ao mesmo tempo nos espaços, conforme os serviços, entra uma ou duas pessoas de cada vez, enquanto que as outras ficam cá fora à espera. Só entram pessoas com máscara e para as que chegam à Câmara sem máscara é-lhes fornecida uma máscara, para que possam entrar em segurança. Assim como, quem está a trabalhar também está a tomar as devidas precauções utilizando viseira, máscara, luvas e para além disso, colocámos barreiras de acrílico entre os funcionários e os utentes.

E quanto ao mercado municipal e feira semanal?

O mercado municipal não encerrou, tivemos sempre o cuidado de ir controlando a afluência das pessoas, até porque, embora seja grande, trata-se de um espaço fechado. Para a semana vamos arrancar com a feira semanal, não sei se com a dimensão que tinha antes. Temos de falar com a Associação de Feirantes, e ir crescendo de semana para semana. É necessário que abra a feira semanal em complemento com o mercado, porque há pessoas com grandes prejuízos, em termos hortícolas, por exemplo. Para a feira vêm comerciantes de várias paragens do país, este movimento de pessoas entre concelhos é que pode ser tendencialmente perigoso, uma vez que há doentes assintomáticos [doentes que estão infetados e não mostram sintomas] e não sabemos se estão ou não infetados.  Vai haver uma fase muito complicada para nós, uma vez que temos aqui, em Gouveia, muita emigração, que vai querer regressar para voltar à sua terra para visitar a família. É importante que o Governo defina bem as regras nessa altura e que controle os movimentos dessas pessoas.  Parece-me que de repente as pessoas acham que com o fim do estado de emergência já podemos voltar à normalidade. O ritmo com que vamos entrar nessa normalidade parece-me um pouco rápido de mais. Depois pode repercutir-se em problemas mais à frente, nomeadamente através de uma segunda vaga do vírus.

Considera que os cidadãos de Gouveia respeitaram as regras impostas e estão bem informados?

Nós fomos fazendo este trabalho com as Juntas de Freguesia e as Corporações de Bombeiros, com o complemento da informação que as pessoas iam recebendo pelos meios de comunicação. No geral, podemos dizer que as pessoas estão alertadas para os perigos da situação e para os cuidados individuais que devem ter. Distribuímos máscaras pelas populações das freguesias do concelho e os bombeiros, na presença das pessoas, exemplificavam como colocar e retirar a máscara. Até agora a população de Gouveia tem-se portado muito bem, tem mantido os cuidados de distanciamento…mesmo nas filas para o supermercado ou para a farmácia vemos as pessoas afastadas e, agora, até com máscara.

A Câmara Municipal de Gouveia está a financiar algum tipo de ajuda ao comércio local?

Em articulação com a Associação Comercial de Gouveia, com a reabertura dos espaços, estamos a fazer o levantamento dos potenciais apoios que podemos vir a atribuir entre esta e a próxima semana.  No caso do pagamento da água e o saneamento básico já decidimos que vamos manter a isenção até junho. Os cafés e restaurantes que estão a abrir agora podem ficar descansados pelo menos dois meses. Para além disso, estamos a trabalhar em conjunto com outros apoios que podem passar por, por exemplo, apoiar o pagamento das rendas comerciais. Para estimular o comércio vamos lançar uma campanha de apoio, através dos meios de comunicação, para que comprem no comércio local. Há a tendência de a população de Gouveia fazer as compras em Mangualde ou em Viseu e, aproveitando o seguimento deste momento, vamos pedir para que comprem o mais possível na sua terra. Agora que já falamos de outro tipo de máscaras, as máscaras de uso comunitário, que já permitem mais que uma utilização ao serem lavadas a alta temperatura, estamos à espera que os modelos de duas empresas de Gouveia sejam aprovadas pelo CITEVE para podermos avançar para a compra das mesmas. Assim, para além de ajudarmos as empresas do Município estamos a fazer com que o dinheiro fique cá na terra [Gouveia].

No âmbito da iniciativa da autarquia e do Agrupamento de Escolas de Gouveia de dar tablets e routers de internet aos alunos que não tinham acesso a essas tecnologias. Considera que conseguiram atenuar desigualdades e dar a todos os alunos o acesso ao ensino a distância?

Quando se começou a falar do arranque do ano letivo, pedi ao diretor do agrupamento que fizesse um levantamento das dificuldades, em termos de equipamentos, de alguns dos estudantes, pois nem todos têm as mesmas condições económicas. Havia grupos de alunos que não tinham equipamentos para poderem ter as aulas nas mesmas condições que os outros. Foram referenciados à volta de 60 jovens e o município disponibilizou imediatamente 60 tablets e routers de internet, ainda que em regime de empréstimo, para já até ao final do ano letivo. Depois vemos como será no próximo ano. É uma experiência que está a correr bem, os alunos estão a ter as aulas com o equipamento adequado, em pé de igualdade face aos outros estudantes.

Os alunos do 11º/12º anos e pré-escolar retomam as aulas presenciais a 18 de maio. Que medidas de higienização estão a ser tomadas para a desinfeção das escolas com este retorno? Vão fornecer material de proteção aos alunos?

Juntamente com o Agrupamento de Escolas de Gouveia, estamos a prepararmo-nos para o início das aulas presenciais. Vamos ter de retomar os transportes escolares com medidas de precaução e os alunos também terão de ir às aulas com o respetivo equipamento de proteção. À partida, o Município vai ter de disponibilizar material para que as aulas possam decorrer normalmente. Quanto à desinfeção, em relação às creches, está a ser feito o rastreio aos funcionários, num programa comparticipado pelo Estado, a Segurança Social, e pelas Câmaras que pagam metade dos custos desse mesmo rastreio.

Relativamente aos 11º e 12º anos, no que diz respeito às as aulas presenciais, ainda não sabemos muito bem como é que as coisas que vão processar, porque isso depende do Ministério da Educação e do Ministério da Saúde. Estamos a aguardar que haja uma resposta para que possamos avançar e perceber quais são as necessidades que podemos ajudar a ultrapassar. Por enquanto, estamos a tratar dos transportes escolares e a prevenirmo-nos para a eventual necessidade de termos de fornecer material de proteção para os alunos, não só para utilização na escola, mas também, para o uso nos autocarros.

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